Franqueza

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A sede da Franqueza é grande o bastante para abrigar um mundo inteiro. Pelo menos essa é a minha impressão do lugar. Ela está localizada em um enorme edifício de concreto, voltado para o que um dia foi o rio. Na frente do edifício há uma placa onde está escrito MERC IS MART. No passado, o que se lia era "Merchandise Mart", mas a maioria das pessoas refere-se ao lugar como Merciless Mart, ou Mercado Impiedoso, porque os membros da

Franqueza são impiedosos, mas honestos. Eles parecem ter aceitado o apelido. Não sei o que esperar do lugar, porque nunca entrei lá. Tobias, Beatrice e eu paramos diante da porta e nos entreolharmos.

— Lá vamos nós — diz ele.

Poderíamos ter deixado tudo para lá, vivermos como sem-facção, começarmos uma nova vida. Mas eu não conseguiria. Eu tenho um dever a cumprir. Se esses dois imbecis quiserem me seguir, ótimo, mas se não, farei tudo sozinha. E se eu obter êxito em apenas uma coisa já cumprirei minha missão.

Sei que mesmo que não lute ainda estaremos em perigo, então prefiro tentar, é por isso que passo pela porta da Franqueza de cabeça erguida.

Fiz questão de exigir que Evelyn me desse algumas peças de roupa um pouco mais parecidas com as da Audácia e por incrível que pareça consegui encontrar várias, me senti muito melhor ao vestir algo mais apertado, acho que me deixa mais confiante.

O saguão é grande e bem iluminado, com o piso de mármore preto que se estende até um hall de elevador. Um anel de ladrilhos de mármore branco no centro do saguão forma o símbolo da Franqueza: uma balança desequilibrada, representando o peso da verdade contra o da mentira. O ambiente está lotado de membros armados da Audácia.

Uma soldada da Audácia com o braço em uma tipoia aproxima-se de nós, com a arma em punho e o cano apontado para Tobias.

— Identifique-se — comanda.

Os outros se reúnem atrás dela. Alguns nos olham com suspeita, outros com curiosidade, mas, mais estranho do que qualquer desses olhares, é o brilho que vejo em alguns dos seus olhos. Reconhecimento.
Eles sabem quem somos. O que me impressiona é que olham assim para Beatrice também.

— Quatro — diz Tobias. Ele acena com a cabeça em  direção à minha irmã. — Esta é a Tris. E essa é a antiga líder da Audácia, Becky. Nós três somos da Audácia.

A soldada da Audácia arregala os olhos para mim, me reconhecendo, mas não abaixa a arma.

— Alguém pode me ajudar aqui? — pede ela. Alguns dos membros da Audácia dão um passo à frente, mas com cuidado, como se fôssemos perigosos.

— Há algum problema? — pergunto.

— Vocês estão armados?

— É claro que estamos armados. Sou da Audácia, não sou? — digo.

— Coloquem as mãos atrás da cabeça — ordena a garota, de maneira nervosa, como se esperasse que nós recusássemos. Olho para Tobias. Por que será que estão todos agindo como se estivéssemos prestes a atacá-los?

— Vocês são burros? Acabamos de entrar andando pela porta da frente — falo, devagar. — Vocês acham que teríamos feito isso se planejássemos machucar vocês?

Tobias não me encara de volta. Apenas encosta as pontas dos dedos na parte de trás da cabeça. Depois de alguns segundos, faço o mesmo e Beatrice também. Os soldados da Audácia aglomeram-se ao nosso redor. Um deles revista as pernas de Tobias, enquanto outros pegam a arma presa à sua cintura. Outro soldado, um menino de cara redonda e bochechas rosadas, olha para mim com ar culpado.

— Tenho uma faca no bolso de trás — falo para ele. — Mas, se encostar as mãos em mim, vai se arrepender.

Ele resmunga uma desculpa, depois segura o cabo da faca com as pontas dos dedos, com cuidado para não me tocar.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora