Perdão

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Conseguimos achar comidas não perecíveis intactas no estoque, peço para Penny e Jim ficarem responsáveis pelo jantar com ajuda de outros dois Audaciosos.

Todos estão comendo satisfeitos agora, os observo de longe, consegui ir para o meu apartamento e também o encontrei intacto, tomei um banho e admito que chorei muito, mas ninguém precisa saber disso.

— Não vai jantar? — alguém pergunta atrás de mim. Me viro e franzo as sobrancelhas.

— O que? Ah... Eu já comi. — minto. Tobias se aproxima.

— Preciso que venha comigo. — estou um pouco surpresa.

— Claro... Para onde vamos? — começamos a andar.

— Para o trem. Tenho uma reunião, e quero que você me ajude a avaliar a situação.

— Espere... Você decidiu isso sem constatar Tori e eu?

— Não. Falei com Tori. — diz e eu franzo as sobrancelhas.

— Sério...? — suspiro cansada. — Tudo bem, não ligo... Eu vou com você.

Subimos um dos caminhos que cruzam os paredões do Fosso, em direção à escada que leva à Pira.

— Por que você precisa de mim para...

— Porque você é melhor nisso do que eu, além de que já tem um envolvimento nisso tudo.

— Evelyn? — pergunto.

— Isso.

Não sei se devo pedir para conversar com ele agora, então se estou com dúvida sei que a resposta é não. Fico quieta. Subimos a escada e cruzamos o chão de vidro. No caminho para fora, atravessamos a sala úmida onde enfrentei minha paisagem do medo. A julgar pela seringa jogada no chão, alguém esteve aqui recentemente.

— Você passou pela paisagem do medo hoje? –— pergunto.

— Por que você acha isso? — Seus olhos escuros evitam os meus. Ele abre a porta da frente do edifício, e o ar de verão dança ao meu redor. Não está ventando.

— As juntas das suas mãos estão cortadas, e alguém esteve usando aquela sala.

— É exatamente isso o que quero dizer. Você é muito mais perceptiva do que a maioria das pessoas. — Ele confere seu relógio. — Eles disseram para eu pegar o trem das 20h05. Vamos.

Sinto uma ponta de esperança. Talvez não discutamos dessa vez. Talvez as coisas finalmente melhorem entre nós. Caminhamos até os trilhos.

— Sou perceptiva o bastante para perceber que você está fugindo da minha pergunta.

Ele suspira.

— Sim, passei pela minha paisagem do medo. Queria saber se ela havia mudado.

— E ela mudou, não é?

— Mudou. Mas o número continua o mesmo.

Ouço o trem apitando à minha esquerda, mas o farol do primeiro vagão está apagado, fazendo com que ele deslize sobre os trilhos como algo secreto e sinistro.

— O quinto vagão! — grita ele.

Nós dois começamos a correr. Alcanço o quinto vagão e seguro a barra lateral com a mão esquerda, puxando-a com toda a força. Tento jogar minhas pernas para dentro, mas elas não entram completamente; estão perigosamente perto das rodas. Solto um grito e ralo o joelho no chão ao me arrastar para dentro.

Tobias entra depois de mim e agacha-se ao meu lado. Agarro o joelho e ranjo os dentes.

— Deixe eu ver seu joelho — diz ele. Ele levanta a perna da calça jeans acima do meu joelho. Seus dedos deixam rastros gelados e invisíveis na minha pele, e sinto vontade de agarrar sua camisa, puxá-lo para perto de mim e beijá-lo; penso em colar meu corpo ao dele, mas não posso. Porque a merda que eu fiz criou mais um espaço entre nós.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora