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Anna Laura 🩰

Coloquei uma novela antiga na globo play para assistir enquanto comia o meu lanche e ouvir barulho no corredor, deduzindo ser o Bê.

Mas a verdade é que ele quase não para em casa, principalmente depois que começou a faculdade no ano passado, vive pelo estudo e trabalho.

E o meu outro irmão, o Guilherme, não mora com a gente desde o ano passado, mudou para os Estados Unidos. Foi para um intercâmbio e aproveita os meus avós que também moram lá. Mantemos contato literalmente todos os dias, meu pirralho.

Benício : E ai, feia. -Falou após bater na porta e entrar no quarto. Se aproximou beijando o meu rosto e eu fiz o mesmo. -Impressão minha ou eu vi o Rafael lá na portaria?

Anna : Impressão sua! -Falei de boca cheia e ele negou com a cabeça, observando o papel da lanchonete e interpretando ser a da mãe do Rafa.

Benício : Qual foi a do teu caô com o pai, Laurinha? -Perguntou me olhando e eu respirei fundo. -Tô te perguntando na moral, o que tá acontecendo?

Anna : Não é nada demais, Bê. É só que eu me sinto sufocada as vezes, sabe? Poxa, eu perco maior tempo fazendo tudo pra agradar ele, pra ouvir que eu sou ingrata? Que não valorizo? Uma hora cansa, sabia?

Benício : E ai pra confrontar você mente sobre onde está? Esses lugares querendo ou não são perigosos, Laurinha. Ele fala porque se preocupa com você e não sabe medir as palavras porque tá com raiva da situação. E ai por uma infantilidade sua, você fica prestes a parar de poder fazer o que gosta.

Anna : Benício, você mais do que ninguém sabe o quanto eu amo estar naquela quadra, nos ensaios, e sempre que eu peço ele inventa uma desculpa diferente pra eu não poder ir. Poxa, será que eu nunca posso fazer algo que eu realmente goste?

Benício : Ai, você é cheia das ideias erradas, né não? Por que comigo você fala o que te incomoda e quando é com ele você quer debater? Troca essa ideia com ele.

Soltei a respiração e ele deitou do outro lado, mexendo no celular. Ficou me contando as coisas da faculdade e mostrando foto das meninas que no momento ele estava trocando ideia.

O meu celular tocou e era a Thiara, atendi e o Benício ficou prestando atenção na nossa conversa. Ela é neta da tia Roseli, que trabalha aqui em casa desde que os meus pais casaram. Nós crescemos juntas, porque a vó dela sempre trazia ela a pedido da minha mãe, relacionamento dela com a família nunca foi muito saudável.

E a Thi mora na Mangueira desde que nasceu, há uns três meses atrás nós estávamos juntas e eu iria dormir na casa dela, pela primeira vez. Em uma troca de conversa com outras pessoas que moram la, nós optamos por ir assistir o ensaio.

Eu fiquei encantada, obviamente! Comecei a sambar com algumas meninas e uma das organizadoras pegou o meu contato, me convidando para ir outras vezes e até me adicionou no grupo do whatsapp.

Anna : Benício tá aqui. -Murmurei, notando ele me encarar. -Ela tá mandando um abraço pra você. -Sussurrei e ele resmungou "não manda outro". -Ele mandou um beijo.

Soltei uma risada e a Thiara disse que ficou desconfiada, desliguei a ligação e apoiei o meu celular no criado.

Benício : Thiara que te chamou? -Questionou e eu franzi o cenho, afirmando que não.

Anna : Eu que implorei pra ela ir comigo. -Respondi e ele negou com a cabeça. -Vai dormir em casa hoje?

Benício : Vou. Amanhã chega carro novo e eu fiquei de dar uma força pro pai, porque é folga de alguns moleques.

Anna : Entendi. -Respondi e ele soltou uma risada, levantou da minha cama e beijou a minha testa. -Boa noite.

Benicio : Boa noite. Amo você, Laurinha. -Respondi e ele saiu do meu quarto. Fui escovar os meus dentes e voltei para minha cama e dormir.

Acordei com o despertador tocando e faltei pouco chorar por não querer levantar. A porta da sacada do meu quarto estava aberta e eu vi o quão lindo o dia estava, apesar de tudo. A praia já estava lotada de pessoas e eu me aproximei, observando os meninos irem surfar.

Corri pro banho e vesti o uniforme do colégio, meu cabelo estava molhado e eu só passei um protetor térmico. Calcei o meu tênis da redley e coloquei tudo na mochila, indo pra cozinha.

Anna : Bom dia, Fê. -Me referi a moça que trabalha aqui em casa, dei um beijo na bochecha dela e meus olhos pularam de alegria quando viram o bolo de cenoura na mesa. -Você fez agora?

Fê : Um passarinho me pediu, pra fazer pra você. Me mandou mensagem ontem a noite. -Eu até fiquei mais animada. Sentei e comi até falar que chega, contando caso pra ela. -Seu pai e sua mãe foram correr.

Anna : Minha mãe tinha ficado de me levar, mas eu peço um uber. -Geralmente eu vou a pé, mas como eu já estava um pouco atrasada, teria que adiantar.

Jp : Não precisa, espera que eu vou te levar. Vou tomar banho. -Ia responder mas ele não deu oportunidade, passou com a cara fechada para o quarto e eu dei de ombros, comendo o meu bolo.

Voltei para o meu quarto para escovar os dentes e quando eu retornei dei de cara com o meu pai, ele já estava com o uniforme da empresa e eu só segui os passos dele, até a porta principal.

Se eu morava no décimo andar, parecia que eram vinte andares, porque o trajeto completo do elevador foi um silêncio irritante.

Jp : Anna, vou ser sincero contigo, não tô curtindo essas suas atitudes. Se eu não permito que você faça algo, você precisa colocar na cabeça que é o melhor pra você, me achando com cara de otário? Querer me passar a perna?

Anna : Pai, o senhor nunca deixa eu fazer nada, eu sei que eu tô errada nessa questão, de fazer escondido e sem avisar. Mas são coisas que me deixam feliz.

Jp : Nunca te deixo fazer nada? Qual foi, Anna Laura? Você tem a vida que qualquer garota da sua idade se mataria pra ter. Pô, você estuda em colégio caro pra caralho, faz inglês e um milhão de outras coisas, nunca te faltou nada, muito pelo contrário, sempre sobrou. Vou ser flexível com você de acordo com a tua idade, não precisa ter pressa.

Anna : Pai, o senhor me trata como uma criança. -Cruzei os braços e ele comprimiu os lábios para não rir.

Jp : Pra mim você é, sempre vai ser. -Respondeu. -Pode botar fé, eu jamais iria desejar o seu mal. -Eu confirmei com a cabeça.

Anna : Continuo de castigo? -Perguntei curiosa e ele confirmou como se fosse óbvio e eu soltei a respiração.

Jp : Por causa da mentira. -Eu dei de ombros e ele me levou pra escola. Assim que eu cheguei fui direto pra sala e abrir os livros pra conseguir prestar atenção.

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