pretexto.

•30•

+ 90
Anna Laura 🩰

Estava finalizando umas matérias atrasadas na cozinha enquanto minha mãe cozinhava para mim, ouvir barulho e deduzi ser o Bê, e eu não estava errada, já que assim que ele se aproximou deixou um beijo no meu rosto.

Victória : Quem era aquele menino que estava aqui hoje mais cedo, filho? Não lembro de conhecer ele.

Benício : Acho que a senhora não conhece. Quando nós éramos mais novo fazíamos surf no mermo horário, a época que eu já ia sozinho. Depois de um tempo ele pegou caminho pra Austrália e retornou agora. Gente fina o moleque.

Soltei a respiração, e logo em seguida fechei o caderno por ter começado a sentir dor de cabeça e estiquei as minhas pernas. Joguei o cabelo pra trás e arrumei o que era necessário.

Minha mãe finalizou e eu aproveitei para me servir, comi o que coube no estômago e fui descansar no quarto. Após um tempinho o Bê entrou para me fazer companhia e deitou ao meu lado, fiz carinho no cabelo dele e nós perdemos maior tempo conversando sobre a vida.

Anna Laura : Se for na praia amanhã de manhã me chama? -Questionei e ele afirmou, como se fosse óbvio. Fechei os olhos pouco a pouco e peguei no sono, e ele também. Acho que só se deu conta quando o celular despertou.

Olhei para o lado e eram cinco e meia, me espreguicei e ele levantou dizendo que iria tomar um banho para descer, e eu fiz o mesmo. Coloquei uma roupa térmica, e procurei a minha raquete pelo guarda-roupa, quando encontrei eu sorri, e até bateu uma vontade de chorar.

Em pensar que as coisas mudam de uma hora para a outra, eu não era a mesma menina que adorava viver a vida, sabe? Era como se aquela Anna Laura estivesse longe, não existisse mais. Deixei ela no mesmo local, e quando o Bê gritou nós descemos para o posto.

Ele foi conversar com alguns amigos dele do surf e eu aproveitei para entrar no mar, mas antes fiquei admirando a paisagem que só o Rio de Janeiro proporcionava.

Molhei os pés e a nuca e entrei pouco a pouco, deixei a onda me levar e dei um mergulho, quando voltei para a superfície passei a mão pelo cabelo e ajustei a postura do meu corpo para que ele boiasse.

O barulho do mar me trazia calma, mas ao mesmo tempo fazia com que eu tivesse lapsos de memórias...a forma como eu fui usada, surreal acreditar que realmente aquilo havia acontecido.

Sentir uma pressão me consumir e engoli um pouco de água, desesperadamente senti algo no meu braço e passei a mão pelo o rosto assustada, abrir os olhos, tirando o cabelo excesso de água e identifiquei o amigo do Benício.

-Pô garota, você tá ficando maluca? -Me segurou pelo ombro e eu olhei desentendida. Olhei para o lado notando a distância que eu estava da orla.

Anna Laura : Você que está. -Empurrei ele da forma que deu e tentei recuperar o fôlego antes de começar a nadar, percebi que ele estava na minha direção e eu tentei me afastar, mas era impossível porque os braços dele davam dois dos meus.

-Qualé? Você não pode dar uma dessas. -Parou atrás de mim, e eu olhei identificando gotas saindo do rosto. -Viu como o mar estava te engolindo? Se eu não tivesse te visto...

Anna Laura : Eu estava boiando, e lúcida! -Falei, dando de braços e irritada. -Não te pedi para ir lá, estava tudo bem.

-Se liga, você sabe que não. O mar é traiçoeiro, te abraça e espera você se entregar pra te destruir.

Ele saiu andando e eu bufei irritada, peguei as minhas coisas e atravessei, subindo direto para o apartamento, passei direto pelos meus pais e tomei um banho quente na intenção de relaxar.

Victória : Tô indo no shopping, vamos? -Questionou, entrando no quarto. -Mamãe precisa de companhia...juro que não vou ficar andando muito.

Iria negar, mas não consegui, ela estava se esforçando para me ver bem e eu queria pelo menos fingir para não a deixar tão preocupada. Acabou que o dia foi divertido, compramos roupas e joias e almoçamos juntas, como nos velhos tempos.

Passamos no salão na parte da tarde e eu fiz o cabelo e as unhas, na saída para o estacionamento topamos com o Rafa, e aparentemente a menina que ele estava saindo.

Rafa : E ai, tudo bem? -Falou comigo, após cumprimentar a minha mãe. -Glenda, essa é a Anna Laura...a dona Victória você já conheceu aquele dia. -Me apresentou a ela e eu sorri.

Victória : Dona, Rafael? -Perguntou rindo e ele soltou uma risada, passando a mão pela nuca. Nos despedimos após as formalidades e entramos no carro.

Anna Laura : Acha que eles formam um casal bonito? -Perguntei e ela me olhou, dando de ombros.

Victória : Não sei, filha, sei que o Rafa seria o sonho de qualquer sogra...ele me lembra muito seu pai...

Anna Laura : Oh, e como lembra. -Murmurei baixinho, observando as unhas e ela me encarou de lado. -Sabia que nós já ficamos? Nunca te contei, né? Mas enfim, uma vez estávamos na confraternização da concessionária do papai, não nos conheciamos e acabou rolando...depois curtimos e aconteceu outras vezes. -Falei de uma única vez, olhando pra frente e ela soltou uma risada.

Victória : Sério, filha? Eu desconfiava...mas não sei, depois isso acabou saindo da minha mente. Ele parece ser um menino muito bom, você tá incomodada?

Anna Laura : Com a namorada? Não...pode ser que eu sinta uma invejinha dela lá no fundo, sabe? Por poder mostrar pra todo mundo quem ela tem ao lado, mas de certa forma eu torço muito por cima e sei que eu não mereço alguém como ele. As vezes eu ficava com raiva por ele não querer sair comigo escondido de vocês dias de semana, e ai quando ele me chamava pra algo no final de semana eu negava, dizia estar ocupada, mas na verdade estava com o Leonardo... -Falei baixinho. -Falando isso pra fora agora eu percebo, o quanto eu errei.

Victória : Filha, não fala assim...que você não merece ele, todo mundo erra, é natural, é claro que alguns erros são um pouco mais difíceis de lidar. Acho que você precisa acalmar o seu coração, o que for para ser, será, fica calma e tranquila, se conforta em Deus porque ele sabe de todas as coisas. As vezes vocês precisavam ficar esse tempo juntos, para ter a certeza que o melhor seria a amizade, não sei. Mas enfim, fica tranquila. -Coloquei as palavras dela na cabeça e respirei fundo, voltando a prestar atenção na avenida.

(…)