pretexto.

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Anna Laura 🩰

Eu estava sentada no escritório, terminando de fazer algumas anotações. Já estava no fim do dia e o Rafael havia recebido alta do hospital, a recuperação estava rápida. Por ser quinta, o movimento começava a aumentar.

As coisas em casa ainda estão um tanto quanto difícil, minha mãe conversa o básico comigo, as vezes puxa assunto como se quisesse resolver a situação, porém algo impede, não consigo compreender.

E o meu pai continua chateado, triste, não tiro a razão dele, mas é difícil pra mim lidar com todo esse afastamento. O que realmente mantém a minha sanidade dentro daquele apartamento é o Benício.

-Anna, tem uma moça querendo conversar com você, disse que tinha horário marcado! -Franzi o cenho, mas falei que podia entrar, provavelmente seria uma das clientes do meu pai.

Anna Laura : Oi, boa tarde... -Murmurei baixo, após notar a mesma mulher que me encarava no último ensaio na Mangueira. Não sei porque, mas o meu corpo gelou no mesmo instante.

Alicia : Você é a Anna Laura, não é? -Questionou e eu confirmei. Eu não falei nada, mas ela fechou a porta e andou na minha direção, puxando a cadeira que estava na minha frente.

Anna Laura : Como você me conhece? E sabe o meu nome? -Indaguei e ela molhou o lábio, sorrindo um tanto quanto forçada, passou o cabelo pra trás da orelha e eu notei uns curativos na altura do pescoço.

Alicia : Porque eu sou mulher do Leonardo! -Falou firme e minha capacidade de interpretar falhou completamente.

Anna Laura : Como assim? -Ri em falso, negando com a cabeça. -Leonardo? O Leonardo...só pode ser pessoas diferentes.

Alicia : Eu não vou perder muito do meu tempo aqui, até porque tenho mais o que fazer! Mas me senti na obrigação de abrir os seus olhos, eu descobri há um tempinho já que ele tinha uma amante, mas jamais imaginei que seria uma menina tão jovem e bonita como você. De verdade, você é nova e eu já percebi que tem uma família que te ama...sai enquanto é tempo, você não imagina o caos que pode ser a sua vida se não colocar um ponto final em tudo agora.

Anna Laura : Mas ele me disse que...

Alicia : Te disse que era solteiro e desempendido, não é? Que ama viver a vida e conhecer lugares novos. -Sorriu, com os olhos cheios de lágrimas. -Ele te disse também que é um dos traficantes mais procurados dessa cidade? -Me espantei e ela acenou como se fosse óbvio. -É claro que não...

Anna Laura : E por que você tá me falando isso tudo? E... -Eu estava tão desesperada, que não conseguia formular uma frase se quer.

Alicia : Porque eu não desejo o que eu passo com ele, nem para o meu pior inimigo. Não vou ficar insistindo com você, até porque condições de conseguir sair dessa cilada, você tem. Palavras bonitas todo mundo fala, Anna Laura, é muito fácil escutar um elogio e deixar se levar, mas sustentar o que vem depois eu te garanto que é difícil.

Anna Laura : Ele me disse que era produtor de eventos. -Entrei em um estado de negação, passando a mão pelo o meu rosto, que permanecia quente.

Alicia : Ele vai te tratar da melhor forma possível, até você falar um não. Estamos juntos há quase quinze anos, e no início eu era tratada como uma princesa...ate começarem as agressões, carrego cicatrizes no meu corpo, mas o que sente é o meu coração. Há uns dias atrás, seu nome foi citado em nossa discussão, sabe o que aconteceu? Eu fui espancada, como nunca...o que levou a perda do filho que eu estava esperando. -Resmungou baixinho. -Esse é o seu futuro, vai entrar na vida dele, e quando ele cansar, vai te substituir...conselho que eu gostaria de ter ouvido.

Ela levantou, me dando as costas e o meu mundo literalmente desabou. Eu não sabia o que pensar, no que acreditar. Passava na minha mente todas as nossas conversas, o que ele falava e que eu acreditava ser verdade.

E ela não teria razões para mentir, até. porque inventar uma história dessa, com essa complexidade seria coisa de maluco. Leonardo havia sumido desde o dia que o meu pai nos viu juntos, mas até então eu acreditei que ele estivesse esperando a poeira abaixar.

Eu realmente tinha sentimentos por ele, por mais que todas as aquelas coisas houvessem acontecido, quando eu batia a cabeça no travesseiro implorava a Deus pra tirar ele da minha mente, porque queria evitar maiores confusões com a minha família.

-E ai, vai tomar café agora? -Entrou na sala, após bater na porta e eu neguei, e continuei olhando para baixo, na direção da mesa. -Rafael chegou ai, tá indo no médico e passou de passagem.

Anna Laura : Não vou! -Respondi o básico e ele bateu a porta outra vez, ao sair. Suspirei, extremamente revoltada e confusa, ao mesmo tempo que queria chorar e gritar, desejava ter o colo da minha mãe. Meu peito doía em uma proporção absurda, uma fadiga, seguido de náuseas.

Benício : Laurinha... -Levantei a cabeça, pra dar atenção ele, que franziu a testa. -Vou precisar ir mais cedo hoje, tá suave? -Questionou e eu notei um de seus amigos ao seu lado, mas nem dei muita ideia, só concordei e eles foram.

Hoje seria o meu dia de fechar, os meninos já haviam ido embora e o Rafa passou rápido para me cumprimentar, não estava muito no clima pra conversa e acredito que ele tenha preferido não insistir tanto.

Conferi se o alarme estava ativado, e quando dei a volta na esquina notei o Leonardo. Meus olhos arregalaram e eu engoli em seco, entrei em um estado de choque e fiquei parada, observando ele andar na minha direção.

Leonardo : Pô, minha linda, sabia que na melhor nós iríamos nos encontrar. -Murmurou baixinho, passando o meu cabelo pra trás da orelha. -O que foi? -Neguei, sentindo o meu corpo tremer. Como jogar tudo na cara dele? Questionar se realmente toda a história é verdade? Sabendo o que ele pode fazer com ela?

Anna Laura : Eu...eu preciso ir, meu pai tá me esperando, não vai ser bom ele me ver aqui com você. -Inventei uma desculpa, mas acredito que ele tenha percebido.

Leonardo : Relaxa, como as coisas ficaram com você? Não tentei contato pra não te prejudicar...mas senti saudades, de nós. -Colocou a mão na minha cintura e inclinou para cheirar o meu pescoço.

E como uma burra frágil, eu comecei a chorar! Por medo, insegurança e falta de atenção...poderia ter evitado essa situação, não rendendo assunto pra um cara estranho.

Leonardo : Fica calma, eu vou te levar pra casa! -Resmungou no meu ouvido, e eu neguei prontamente, tentando me afastar, mas os braços dele me seguraram com força, em uma representação de ameaça. -Não precisa chorar, vou te levar. -Passou o meu cabelo todo para trás. -Não vai acontecer nada, a gente só vai conversar, tá? -Deslizou as pontas do dedo pelo meu couro cabeludo.

Anna Laura : Eu não quero...

Leonardo : Mas eu sim. -Segurou o meu braço forte e me puxou praticamente força até o carro. Eu me sentia suja, e inútil. Só queria o colo dos meus pais, os braços deles estendidos para me suportar, mas eu tinha total certeza que havia perdido absolutamente tudo.