Liberte-se

728 38 293
                                    

"Certa vez, ele me disse que histórias podem tornar uma pessoa imortal desde que haja alguém disposto a escutá-las. Quero que ele me mantenha vivo do mesmo jeito que ele fez com a minha mãe. – Mateo Torrez, Os Dois Morrem No final."

– A única coisa boa de não ter a Dani por perto é que eu não preciso tomar aquele chá horrível que ela fazia. – Jamie tagarelava enquanto voltava da cozinha com duas xícaras de chá em mãos. – Sério, era péssimo. Ela conseguia estragar até o café. Queria saber como.

Lexa pegou a xícara que lhe era estendida e ficou observando o chão enquanto a mais velha se sentava na poltrona ao lado da sua. A Griffin-Woods havia ido para a casa de sua nova amiga depois de ter ligado para a polícia e ambulância que cuidaram do corpo de Nia e todo o resto. Ela não sabia para qual devia ligar ou o que devia fazer, então ligou para os dois e esperou por aquela mágica de filmes acontecer.

Agora, Aden estava seguro na fazenda com Clarke, Alicia e Josephine. Ele não havia falado nada desde que foram para a fazenda, assim como Alicia e Lexa. Então, por seus irmãos, a morena procurou por Jamie para desabafar. Precisava fazer aquilo para estar pronta para conversar com seus irmãos.

– Como você consegue? – Lexa questionou de forma repentina, depois de ter tirado seu tempo para ficar em silêncio.

– Como consigo o quê? – Jamie tomou um gole de seu chá e, por um momento, se lembrou de quando cuspia todos os chás que Dani lhe oferecia. Eram horríveis. Aquilo lhe trouxe um pequeno sorriso aos lábios.

– Falar sobre ela com tanta normalidade... sobre a Dani. – Lexa explicou com um suspiro pesado que lhe abandonou. – Não consigo falar sobre a Madi sem desabar. E ainda não consigo falar sobre a Nia. Ela ainda é minha mãe, sabe? Mesmo que... mesmo que tenha preferido deixar de ser.

– Não podemos deixar as pessoas que amamos serem esquecidas, Lexa. – Jamie falou baixo, como de costume. Ela parecia tranquila, mesmo que a vida tivesse lhe tirado tanto, Lexa pensou. Invejava aquela tranquilidade que ela parecia sentir o tempo todo. Lexa só a sentia com Clarke, mas ansiava pelo momento que aquilo seria a única coisa que sentiria pelo resto da vida não importasse onde estivesse. – Temos que mantê-los conosco... mesmo que não estejam mais aqui.

– Mas isso é tão difícil. – A morena sussurrou quando seus olhos se encheram de lágrimas. Não conseguia pensar em Madi naquela cama sem chorar. Era como se sua irmãzinha já estivesse morta há muito tempo. – Tudo dói demais.

– Nunca vai parar de doer. – Jamie decidiu ser franca, honesta. Ela pôs sua xícara em cima da redonda mesinha de centro e levou uma das mãos até o joelho da garota mais nova. – Todo dia será difícil e todo dia você se lembrará de quem perdeu. – Lexa sentiu uma lágrima lhe escapar ao ouvir aquilo, pois conhecia tão bem aquela sensação. – Mas com o tempo... você encontrará, confie em mim, você encontrará esses pequenos momentos, esses pequenos vestígios que a farão se lembrar da sua pessoa perdida. Esses vestígios que são importantes.

– Por quê? – Ela perguntou, entre lágrimas. Era a segunda vez desde que encontrou sua mãe que chorava. Mas aquele era um choro de verdade, e não apenas lágrimas solitárias de uma existência quebrada.

Porém, não chorava por Nia. Não sabia dizer se chorava por Nia.

– Porque eles podem ser bobos e estúpidos, o que pode te fazer sorrir e gargalhar... mas eles também podem ser tristes, e você chorará até se tornar apenas lágrimas. – A mulher apertou o joelho da garota para que chamasse sua atenção. – Mas tudo isso ainda será a pessoa que você ama, será uma parte dela. E você tem que se agarrar a isso... você vai se agarrar a isso. Então, vai parecer que ela nunca foi embora. E vai te fazer bem por poder lembrar com tanto amor de uma pessoa.

Learning to LiveOnde histórias criam vida. Descubra agora