O próximo capítulo já é o penúltimo, pessoal.
Boa leitura <3
*************
"Penso sobre isso, sobre todas as concessões que já fiz ao longo dos anos, pedaços de mim talhados para agradar meus pais. Talvez esse seja apenas mais um. Gosto de pensar que, assim como Xangai, algum dia vou recuperar todos os meus pedaços. – Claire Wang, Caindo de Paraquedas."
Oito meses e uma semana depois.
"Semana passada, eu estava na Bélgica com o Bellamy. Ele me contou que lá teve uma exposição sobre estupro. Falava sobre como as roupas que as vítimas usavam não afetavam em nada o crime, e que não era culpa delas de forma alguma. Que no fim, elas eram apenas vítimas e, como minha mãe me disse da última vez em que a vi na minha cabeça, sobreviventes.
Em meio a todas aquelas roupas expostas, contando as histórias com o mesmo fim trágico, havia um vestidinho infantil rosa. A criança que a usava provavelmente era muito nova, mas a pessoa que a machucou não se importou em nada com aquilo. Assim como James não se importou comigo, há tanto tempo atrás.
Eu chorei quando vi o vestido, ando chorando com bastante frequência desde que saí de Polis, acho que isso faz parte do processo de cura de uma pessoa, mas também me senti um pouco menos sozinha no mundo. Ver aquele vestido, a exposição e todas aquelas pessoas que visitavam, me fizeram perceber que, infelizmente, eu não estava sozinha nessa situação.
Eram muitas pessoas ao redor do planeta que passavam pelo mesmo. E haviam muito mais delas que não faziam denúncias, nunca as iriam fazer, e que talvez ninguém nunca fosse descobrir suas histórias. Talvez porque estivessem procurando pela superação, pela paz e queriam apenas deixar aquilo para trás para voltarem a sorrir, para voltarem a ter a sensação de que eram pessoas normais.
Eu tentei a mesma coisa. Tentei por muito tempo. Também nunca denunciei. Na verdade, demorei quase vinte anos para contar à alguém. Achei que guardar para mim fosse a melhor coisa que eu poderia fazer por mim mesma, e também pelas pessoas que amava, pois não queria machucar nenhuma delas. Só que, pensando em retrocesso, eu me senti melhor quando contei para Lexa, naquela madrugada que deveria ser comum, mas foi cumprimentada pelos meus pesadelos e meus gritos noturnos que, como meu pai disse, se pareciam tanto com os da minha mãe.
Acho que talvez seja bom dividir a dor com alguém, seja ela qual for. Minha mãe não o fez, e morreu sendo uma pessoa triste e sozinha, mesmo que tivesse um marido e uma filha que moveria céus e terra por ela. Por isso, concluo que guardar tudo dentro do coração não te leva a lugar nenhum. Só te traz mais dor. Me lembro que a dor ficou mais suportável graças a Lexa, graças ao apoio e ao amor que ela me deu.
Eu estava me perdendo de mim porque estava dividindo minha alma em pedaços e perdendo caquinho por caquinho, consecutivamente. Perdi um pedaço de mim por guardar tudo o que James me fez, perdi mais um pedaço quando tentei engolir a morte da minha mãe para poder cuidar da Josephine, e perdi mais um pedaço quando larguei as artes para orgulhar meu pai.
Sabia que perderia meu último pedaço se tivesse ficado em Polis e fingido que tudo ficaria bem de repente, pois não ficaria.
Por ter quebrado esse ciclo, por mim e pela minha família que nasceria nas próximas semanas, eu voltei a conseguir recuperar todos os meus caquinhos, assim como pensei que queria fazer no dia em que decidi partir.
Agora fico feliz por ter feito, pois sinto que alcancei um novo normal, já que a normalidade de antes nunca mais vai voltar, e acho que tudo bem. Sou uma nova mulher agora. Uma nova Clarke.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Learning to Live
FanfictionMesmo vinda de uma família rica e muito respeitada na pequena cidade de Polis, Clarke é conhecida por sua grande fama de "Fera". Ela ganhou esse apelido depois de expulsar e maltratar todos os pretendentes que seu pai lhe trazia para que tentassem c...