SETE

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Valentim

Hoje eu atingi meu nível mínimo de paciência. Não dormi o restante da noite e ainda sai no soco com Juan, não estou mais na idade de brigar, mas ele pediu.

Eu tenho 34 anos, mas estou parecendo um adolescente de 17, irritado, valentão e drogado. Nem quando eu era adolescente de verdade não foi assim.

- Bom dia- eu falo quando chego na sala dos professores. Por minha sorte a Martina não está aqui. Eu quero realmente saber uma coisa dela, mas não vou perguntar diretamente.

Pra minha tristeza, assim que sento minha bunda na cadeira, ela aparece. Feliz e sorridente.

- Bom dia- ela diz para as pessoas que estão na sala. Não parece nada com a mulher assustada de ontem. É como se nada tivesse acontecido e eu não posso falar nada, pois temo que ela não tenha me reconhecido.

Ou talvez ela esteja acostumada com isso. Foda- se ela e o mundinho fodido dela. A Jimena me paga uma boa grana pra ficar de olho na Martina e eu não faço ideia do que seja, desde do dia que eu cheguei essa garota não faz nada para que precise de "guarda-costas" e ainda acho que ela nem sabe o que o pai dela fazia.

Eu saio da sala e a deixo sozinha, as outras pessoas já saíram. Nós trabalhamos numa escola particular, cheia de crianças e adolescentes mimadas e insuportáveis, se eu atendesse no meu ramo ia fatura bem mais do que como professor.

Eu não gosto de dar aula, só estou aqui por causa da Martina e sinceramente tô começando a cogitar largar de mão ou subir o valor. Eu fiz o ensino médio com 26 anos, eu já era químico e tive que fingir ser um "adolescente" que reprovou e com certeza minha aparência ajudou e é claro que a Jimena fez o dela. Eu aparento ser mais novo e eu não uso droga com frequência, só quando eu tenho que testar alguma coisa ou quando tô pilhado.

Quando eu volto pra sala vejo a Martina séria, aquele sorriso de mais cedo desapareceu. Completamente. O lugar onde ela cravou as unhas ficaram marcados e um pouco dolorido e só tem um motivo pra ela ter feito isso. Dor. E se ela sentiu é porque ainda é virgem, mas não faz sentido.

- Martina?- ela só responde com hum.- Gato comeu sua língua?

- Não. Estou concentrada e o senhor está me atrapalhando- ela diz sem tirar os olhos da tela do computador. 

- Para, você nem é uma professora de verdade, não deve ter muito o que fazer- ela suspira forte.

- Você devia cuidar da sua vida e me deixar em paz. Estava tão bom passar quase seis anos sem ter que olhar pra sua cara- que ordinária. Nem parece que fomos amigos- Não precisa agir assim Alberto. Eu sei que foi você ontem- ela faz uma pausa e me olha- Seu perfume te entrega, é o mesmo de sempre... aliás é horrível.

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Martina

Ver a cara de surpresa do Alberto me choca um pouco, será que ele achou que não sabia? o cara usa o mesmo perfume desde de sempre, é uma mistura de frescor do banho com um cheiro de couro e chuto ainda que um perfume do Hugo Boss.

Eu sou tirada da cadeira contra minha vontade, o filho da puta gosta de ser agressivo com mulher.

- Então você sabia?- ele segura meu rosto e me força a olhar pra ele- Agora tá com medo é? Não estava toda atrevida ai?

- Me solta- ele abre um sorriso extremamente desconfortável.

- Porque não pediu pra parar antes?- porque eu sabia que era você e estava gostando. Ele continua me encarando e eu tento pensar numa resposta- Responde!- ele aumenta um pouco o tom de voz.

- Porque...- eu tento desviar o olhar, mas ele aperta mais meu rosto- Porque... eu estava gostando- minha voz sai quase num sussurro, mas eu sei que ele ouviu.

Martina, eu te avisei pra sair de perto desse povo. Eu te avisei. Agora você tá com o nome na praça. Agora é uma puta completa.

Essas foram as palavras que ele usou. Ele não perguntou nada, só foi despejando as coisas.

E a humilhação maior é porque eu gostei do que ele fez ontem, mas assim que lembrei dessas palavras eu me arrependi.

- É? saiba que eu não tenho nenhum interesse em você. Nenhum. Cada dia que passa eu fico com mais nojo de você Martina- eu vejo a raiva nos olhos dele, o cabelo tá um pouco bagunçado e tem uma veia saltada na testa- Você devia ao menos cobrar por isso. Eu queria mesmo saber o que se passa na sua cabeça de ir pra casa de um estranho. Você é muito burra. E nem adianta falar que sabia que era minha casa porque não sabia.

- A vida é minha e eu faço o  que quiser com ela- eu piso com força no pé dele e ele solta meu rosto. Meu corpo está reagindo aos toques dele de outra forma.


A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora