VINTE

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Valentim

Eu acordo e parece que estou tendo uma overdose. Minha boca tá seca e estou sentindo um puta de um frio. Eu me levanto e vou procurar água na cozinha.

- Ai caralho!- eu grito quando soco o dedo na quina da porta.

- Que susto- eu dou de cara com a Martina no alto da escada.

- O que você tá fazendo acordada a essa hora?

- Fui pegar água para tomar remédio. E você?

- Estou com sede- resolvo fazer um pouco de raiva nela- Muita sede- eu pego o copo da mão dela e bebo.

- Essa água era minha- ela diz abaixando o tom de voz.

- Vai ter que buscar mais- ela tá com um bico enorme- Que foi?

- Seu idiota!

- Não fala assim comigo não garota- eu venço o espaço entre nós e ela se encolhe.

- Desculpa- ela fala num sussurro. O que eles fizeram com essa mulher? Ela tinha medo mas não assim- A água pode ficar como pagamento... por ter me salvado- ela sorri fraco com os olhos cheios de água- Amanhã eu vou pra minha casa, não precisa se preocupar- a Jimena nunca vai deixa- lá ir embora antes de estar bem.

Ela corre e entra no quarto, trancando a porta. Eu vou até a porta, mas hesito em bater. Deixa ela pra lá. Eu vou procurar mais água e vou atrás do Juan, preciso de um remédio.

Eu bato e vou entrando, o Juan tá esparramado na cama igual se tivesse morto.

- Acorda- eu o balanço

- Que foi?- ele diz sonolento.

- Preciso de um diagnostico- ele se vira e me encara com um olho aberto e o outro fechado- Minha boca tá seca e estou sentindo frio, muito.

- Você esta de febre- ele diz e fecha os olhos novamente

- Só isso?

- Olha o tamanho da sua mão. Esse machucado tá infeccionado, você terá que tomar antibiótico- ele continua com o olho fechado- Agora pode ir, de manhã eu te passo um antibiótico e pra passar a febre toma dipirona.

Que vagabundo, nem me olhou direito. Mas acho que ele tem razão, minha mão tá inchada e doendo para um caralho e a única pessoa que deve ter remédio é a Martina.

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Martina

Eu achei estava sonhando porque ouvi batidas na porta, mas eu descobri que não quando o Valentim me cutucou.

- Oi.

- Me arruma um remédio, dipirona ou qualquer coisa que tiver que abaixe a febre- já não basta minha água, agora quer meu remédio- Anda minha filha.

- Calma- eu me sento na cama e pego a caixinha de remédio que o Juan me deu. O sem educação entra sem bater e ainda acende a luz- Aqui!- ele pega o remédio e ainda pega o resto da minha água, que ordinário. Ele esta com uma blusa de manga até a metade dos bíceps, e agora eu sei porque nunca tinha visto nenhuma tatuagem, elas ficam escondidas, também está vestindo uma calça, num calor desse.

- Fecha a boca minha filha- eu nem tinha percebido que estava o encarando- Eu já te avisei Martina, não gosto disso.

- Disso o que? Tá doido?- ele apenas sorri. Um belo sorriso do caralho.

- Do que você acabou de fazer... ficar me encarando ou ter pensamentos devassos- que cara maluco.

- Eu te encarei sim, mas não tive pensamentos devassos- ele vem até mim e eu fecho os olhos. Ele esta calmo, mas eu não confio nele- Pode...por favor, sair?- minha voz sai tremula. Eu não tenho medo dele, mas saber o que ele faz da vida e que ele pode ser igual aqueles caras me deixa insegura e com medo.

- Não! A casa é minha- ele agarra meu rosto e me encara.

- P- po-favor- eu tento segurar minha vontade de chorar mas não consigo- Tá me machucando, me solta- ele continua me encarrando mas não solta.

- Porque você está chorando? O que aqueles caras fizeram com você?- ele pergunta frio- O QUE ELES FIZERAM?- ele diz entre os dentes e com raiva.

- Eu não lembro de tudo. Por favor, por favor saia- ele não move um músculo. Me encara esperando uma resposta- Eu acordei naquele lugar, eu não via nada, só uma pequena fresta pela porta e depois de dois dias eu descobri que quando via a fresta, alguém viria me bater e fazer perguntas que eu não tenho resposta- eu puxo o ar- Eu virei um brinquedo, eles me batiam com as mãos, com um chicote de couro... eu fiquei cinco minutos com minha cabeça dentro da água só porque eu não sabia responder o que eles queriam. Para piorar a situação eu estava menstruada e não tinha um absorvente, nenhum. Eu fiquei suja por dias- eu não consigo parar de chorar e ele ainda segura meu rosto-  Chegou em um ponto de eu não enxergar, porque meus olhos estavam muito machucados.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora