VINTE DOIS

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Valentim

Eu não dormi o resto da noite. Minha cabeça tá a mil, Martina vai sair a qualquer momento e eu quero leva- lá em casa. Eu vejo a porta abrir e é ela, tem chances da Jimena me matar por leva-lá, mas tem mais chances de me matar se eu deixa- lá ir sozinha.

- Venha, eu te levo em casa.

- Não preciso da sua piedade e por mais que eu esteja com medo, eu não quero isso- a voz sai trêmula. Não é a melhor maneira de me desculpar, mas já é um começo.

- Eu vou te levar!

- Eu não quero! Só eu sei a humilhação que passei nesse últimos dias- a sensação estranha de novo, que caralho. Vê- lá falando assim me incomoda. Meu coração dá uma acelerada e eu sinto um dor na garganta.

- Eu não vou te machucar Martina... eu prometo- ela fecha os olhos e suspira.

- Cala a boca Valentim, não tente agir como bom moço. Eu. Não. Quero. Esse Mundo- ela fala entre os dentes, batendo o indicador no meu peito- Por favor me deixa em paz. A dor física não chega nem perto da emocional, minha mãe mentiu, meu pai mentiu, você mentiu- ela esta gritando desesperada. Isso é culpa da mãe dela, aquela mulher vai pagar por tudo que ela fez com a Martina- Antes eu tinha uma mãe e agora... agora estou sozinha.

- Você tem sua tia, seu primo, sua amiga... a mim- a última parte saiu sem querer.

- Eu não conheço essas pessoas, não te conheço mais... você passou sete anos mentindo para mim- ela faz uma pausa- E se for julgar por você, eles não são bons, eu não quero sua pena, você me tratou mal esse tempo todo e agora não venha me consolar.

- Martina- eu tento falar o mais leve possível- Se eu te deixar sair daqui sozinha, a Jimena vai me matar.

- Pois que mate, eu não vou!

- Vai sim!- eu nunca agradeci tanto por ver a Jimena- Você tem duas opções... ficar aqui ou deixar ele te levar.

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Martina

Eu fui obrigada a deixa o Valentim me trazer. Eu não queria, porque estou chorando o tempo todo e eu estou com raiva dele.

Pelo menos ele me trouxe de carro e um belo carro. Um Audi, o carro é chique e confortável.

- Você tem problema para respirar?- ele quebra o silêncio

- Que? Não, porque?

- Você fica de boca aberta muito tempo.

- Não é verdade, só quando alguma coisa me impressiona ou eu acho bonito- ele dá um sorriso de canto

- Então você achou meu carro impressionante?- eu balanço a cabeça- E o Juan também?

- Ele não é feio.

- Você me acha bonito ou impressionante?- eu abro a boca, mas fecho em seguida. Idiota.

- Que?

- Você estava de boca aberta quando estava me encarrando ontem, ent..- que audacioso.

- Nem um nem outro- tudo fica em silêncio de novo.

Eu acabo cochilando e quando acordo eu ainda estou no carro, mas ele esta parado. E o Valentim esta falando com alguém no telefone.

- Dile a Rubem que necesito hablar con él sobre algo que le interesa- otimo, ele tá falando em espanhol, minha alma de fofoqueira tá gritando.

- No Camila, no te he perdonado. Dile a Rubem que me llame, es urgente- ele bufa enquanto fala com ela. E desliga.

- Não chegamos ainda?

- Não. A estrada esta parada.

- Que droga- já que não tenho o que fazer eu vou questiona- ló- Preciso te fazer algumas perguntas.- estou um pouco nervosa.

- Faça, estou ouvindo.

- Bom... porque você ficou bravo comigo?- ele sabe bem do que estou falando.

- Eu queria você- uau! direto- Mas não podia, sou bem mais velho que você. E quando eu fiquei sabendo que você tinha transando com mais de uma cara na mesma noite eu fiquei puto, não tinha motivo, mas fiquei.

- Então por isso que você não gosta de putas ou mulheres que se insinuam? Só serve se for virgem?

- Não! Eu não gosto de mulher que insinua demais e são vulgares- ele parece inquieto. Com um calor desse, ele tá de blusa de frio.

- Hum. Não faz sentido.

- Martina, no seu ensino médio eu já era formado... há anos- que?

- Como assim?

- Eu tenho 35 anos. Naquela época eu seria preso por abuso de incapaz e agora eu tô na idade de construir família, não ficar pegando qualquer uma.

- 35?-  eu sabia que ele era mais velho, mas não tanto assim- Quando você estudou comigo tinha 27 anos... caralho- eu fico impressionada, porque nem hoje ele parece ter isso tudo quem dirá naquela época.

- Aqui- ele estende o documento. A Carteira de motorista.  Valentim Edgar Ramirez Rojas, nacionalidade colombiano, nascimento dia 09/08/1989, filiação Rubem Aguero Rojas e Isabel Consuelita Ramírez Rojas. Ele é mesmo velho.

- Você realmente é mais velho- ele aperta o volante e eu vejo que a mão que ele machucou aquele dia na escola tá muito feia- O que você tem?

- Nada- o transito anda e ele fica em silêncio o resto do caminho.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora