QUARENTA E UM

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Martina

Eu vi uma das piores coisas da minha vida em um único dia, várias crianças mortas. Todos os  sangues inocentes e por culpa minha, tudo por minha culpa. Porque eles tem que sofrer por minha culpa? Era muito mais fácil me matar do que fazer isso com elas.

O Valentim é um homem tão ruim quanto todos os outros, ele matou uma criança, uma criança e por minha culpa.

- Porque elas? Eram crianças, inocentes- não aguento mais, a humilhação me consome por dentro, só quero que acabe- Por favor Deus, eu não quero mais sofrer- choro compulsivamente, estou com dor em várias partes do corpo e só queria ter um lugar pra apoiar minha cabeça e dormir.

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Valentim

O imbecil do Henrique usou o celular e isso foi a melhor coisa que o idiota fez. Através disso o Ector descobriu de onde veio a localização do celular e mandou para o Juan.

Não tem mais lugar para ter sangue em mim e o Henrique está começando a ficar inconsciente, mas não é a hora dele ainda. O arrasto para o carro e os gemidos dele me deixam arfando de felicidade.

- Você é um imbecil Valentim, a essa altura eu não tenho mais nada a perder e não vou falar nada de onde ela esta.

- Eu não preciso mais de você, eu sei onde a Martina está e você vai pedir a ela perdão- ele tá sangrando tanto que está com a boca sem cor, dois tiros e um corte profundo não é nem a  metade do que ele merece.

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O lugar é totalmente afastado do mundo e eu não seria burro de vir sozinho e morrer, a Jimena mandou uns caras mas não veio, não quer ver a morte do filho.

Eu estou com a adrenalina no auge,  qualquer um que cruzar meu caminho vai morrer, não estou brincando. Qualquer um.

- Sai do carro e abre a porra do portão.

Ele se arrasta pra sair e cai antes mesmo de andar, fraco do caralho. O agarro pela camisa e o arrasto até o portão e assim que é aberto o Juan atira na cabeça de dois homens e os caras da Jimena entram.

- Onde ela está?

- Vai pra puta que pariu, Valentim- esse cara tá me testando e eu tô sem paciência.

- Você sofreu pouco Henrique- pego o punhal e enfio na mão dele, o filho da puta nem esconde mais a dor- Vai ficar calado?

- Valentim, não tem mais ninguém aqui, estão mortos- eu amo tanto o Juan.

- Que papelão Juan, vai deixar que matem seu irmão por causa de uma vadia?- ele dá um soco tão forte no Henrique que ele cai, e com o irmão no chão ele pisa na ferida da coxa.

- Você tá sofrendo pouco.

- O idiota do Valentim matou meu filho porra, isso é o maior sofrimento da minha vida.

- Isso é consequência dos seus atos, o Júnior não tinha culpa, mas você sempre foi um pai de merda- caralho, o Juan gosta de dar lição de moral- Seja digno pelo menos na hora da morte e diga onde ela está, se não vai morrer como um fraco.

Feriu o ego dele em vários pedaços.

- Ela tá em alguma dessas portas, não sei qual.

- Isso não ajuda Henrique seja claro- o irmão aperta mais a ferida.

- Ela... ela... foda- se essa merda, ela tá no primeiro galpão- eu o arrasto até lá e pra minha surpresa o desgraçado não mentiu. Tem uma porta, dou um chute e ela abre, serviço mal feito, assim que vejo a Martina, o Henrique virou um lixo imundo.

- Cacete!- sinto algo me atingir, o desgraçado me acertou com o punhal- Seu filho da puta. Isso não vai me impedir- o Juan arrasta o irmão pra longe, vai apanhar mais ainda, não tenho tempo de tirar essa merda.

A forma com ela está provocou em mim sentimentos absurdos de raiva e impotência, ela está completando nua e exposta a toda crueldade que esses monstros fizeram. A amarraram numa corrente com o corpo totalmente de pé e os braços a cima da cabeça.

A forma que a torturam e ela ficou firme e não desistiu me deixa triste, tem sangue nas pernas, sinais de que foi abusada várias vezes.

- Por favor, me desculpe- eu tento afastar minha frustração, preciso cuidar dela agora- Eu fui um idiota... não espero que ame, mas me desculpe por te deixar sozinha. Ela solta alguns murmúrios quando mexo a corrente, mas não entendo bem.

Ela é tão pequena e frágil, meu peito queima de ódio, eu vou matar um por um. E o primeiro será o Henrique, depois aquele velhos asqueroso e se o Rojas tiver metido nisso ele vai morrer também.

- Devagar... meu braço tá doendo- a voz dela é fraca, quase não se ouve, consigo soltar a corrente e tenho de ser ágil para que ela não caia.

As costas estão arranhadas, tem vários hematomas e meu toque a faz estremecer.

- Vou tirar isso- meu coração para de bater por um tempo. A dor que ela tem nós olhos me destrói, ela está quebrada.

- Eu sabia que alguém viria, por isso eu fiquei firme- ela pisca pesadamente e sem querer esbarra as mãos na minha coxa- Que isso?

- Nada demais, só um machucado. Martina, vou te colocar um pouco no chão para te vestir. Ela é tão pequena que minha camisa cobre quase que todo o corpo.

- Não, não tira- eu puxo a faca da minha perna e saí um pouco de sangue- Você vai sangrar até morrer- a voz dela some.

- Já morri pra quem me importava, vamos pra casa, você precisa de um médico.

- Porque eu tenho que pagar por uma coisa que eu não fiz? Porque aquelas crianças tiverem que pagar? As pessoas não se importam comigo... sou um brinquedo para elas- ela está tão fraca que a voz sai arrastada e falhada- Eu não quero mais viver, quero a morte, a minha, assim essas pessoas vivem em paz e para de me humilhar e me machucar.

A dureza nas palavras é de cortar o coração.

Quebraram minha garota.

Eu quebrei a minha garota.

Eu deixei que quebrasse  a minha garota.

- Valentim, eu quero dormir um pouco- ela suspira em meus braços- Só um pouco.

- Martina, você não pode dormir agora.

- Só um pouco, minha cabeça dói muito- ela se aninha em mim e começa a fechar os olhos e estou com medo de que ela não volte- Só um pouco- sinto meus olhos queimarem, estou com medo de perdê-la.

- Eu te amo tanto, tanto Martina que está doendo, não tem uma parte do meu corpo que não está doendo por você.

Ela me desejou que eu amasse alguém tanto, que doesse e esse alguém é ela.

- Me perdoe por deixarem te machucar- deposito um beijo no topo dos lindos cabelos escuros e ela se mexe.

- Eu só vou dormir um pouco, não me deixe sozinha.

O Juan está esperando pra levar a gente pra casa, não vou deixá-la sozinha, nunca mais.

- Por favor, não me deixe.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora