TRINTA E SEIS

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Valentim

Eu toco o interfone e ninguém responde, eu ligo e ninguém atende. A porra da porta tá trancada. Que merda!

Elas vão me odiar por isso, mas eu tive que quebrar a porta para entrar. A casa tá toda apagada, a não ser por uma luz vindo da fresta na porta do banheiro.

- Martina?- eu bato e não tenho resposta, então eu abro a porta devagar. Ela esta sentada debaixo do chuveiro abraçando as pernas- Oi- ela nem se dá ao trabalho de olhar pra mim,  então me aproximo e ela se encolhe.

- Não toque me mim! Me deixe em paz, estou cansada das pessoas me machucarem- a dor na voz dela é nítida- Eu não tenho culpa dos erros dos meus pais, me deixa morrer sozinha!

- Me deixe ajudar... por favor!- eu imploro que ela me deixe ajudar, vê- lá assim parte meu coração em vários pedaços.

- Eu quero que você morra! A sua ajuda é a única que eu não quero- ela em nenhum momento me olhou- Você me deixou sozinha e humilhada, por puro ego... e agora vem dar uma de bom moço, some da minha vida, some. 

Ela esta sofrendo tanto, meu Deus, porque ela? Eu prefiro tomar um tiro do que ver a Martina sofrer assim e ainda saber que tenho culpa.

- Martina, eu prometo que não vou te machucar.

- Suas promessas são em vão- ela me olha e eu vejo tristeza e dor nos olhos dela. Eu entro debaixo da água e a tiro do chão, ela é tão pequena, frágil e inocente.

Ela nem sequer relutou em sair dos meus braços, parece que uma parte dela queria que eu viesse, a Martina é igual a mim: uma parte de ódio e a outra de amor. 

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Martina

Quanta hipocrisia, eu xinguei, mas deixei que o Valentim me salvasse de novo. Em sã consciência eu nunca deixaria isso acontecer,  mas estou tá mal que mal consigo me levantar.

Ele não me coloca na cama, ele senta e eu continuo nos braços dele e uma parte de mim tá amando e a outra está odiando. Eu amo esse lado carinhoso que ele tem, é realmente muito doce e cuidadoso e odeio o lado possessivo dele, é muito cruel e frio.

- Eu vou colocar isso em você- ele passa os braços do roupão. Ele me coloca de pé e arruma o restante e amarra, depois me coloca na cama.

Eu choro descontroladamente, eu sinto um pouco de dor onde o Henrique esteve. Nojo. Minha cabeça dói um pouco e meu corpo tá cansado de tanto sofrer.

O Valentim me deixou sozinha no quarto, mas ouço os passos dele pela casa. Porque eu tenho que ser sempre salva por ele, isso me coroi, sempre terei uma dívida com meu inimigo. Meus olhos estão pesados e fica difícil ficar com eles abertos, eu só quero dormir e esquecer tudo isso.

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Valentim

Eu volto para o quarto e a Martina dormiu, encolhida como um bebê no útero. Não posso ir pra casa, afinal arrebentei a porta e estou com dor no braço e na perna, maldito tombo.

Não encontrei nenhum sinal do Henrique, tomara que ele esteja longe. Muito longe.

Me sento no chão do lado da cama, vendo a assim não quero nem imaginar o que ela sentiu.

- Eu fui um idiota do caralho com você- eu passo a mão no cabelo dela, que está muito molhado, ela não pode dormir assim. Tinha um secador no banheiro eu peguei e fui secar o cabelo dela.

Sem chances de deixar ela dormir desse jeito.

- O que você está fazendo- ela diz abrindo o olho devagar.

- Seu cabelo tá muito molhado e seu travesseiro também, então estou tentando secar- ele sorri fraco e se senta na cama.

- Não precisa, pode ir pra casa.

- Não posso- ela me olha sem entender- Eu quebrei a porta da sua casa e não tem ninguém que arrume a essa hora e eu não vou te deixar sozinha.

- Porque você veio? Você me tratou como um lixo e...- ela não está olhando pra mim- Você quebrou sua promessa- eu desligo o secador, o cabelo já está seco- Você me machucou duas vezes Valentim, mas foi menos pior só que o que o Henrique fez- a voz dela some. Preciso ter uma conversa séria com a Jimena, não sei onde ela estava com a cabeça de mandar esse desgraçado- Ele foi legal por um tempo, mas ele é mil vezes pior que você foi- ela está chorando de novo e meu instinto protetor é maior, eu a abraço.

Ela se agarra a mim e chora compulsivamente, como se eu fosse o porto seguro dela. Porque eu sou um filho da puta desse jeito?

- Martina, a única coisa que meu pai me ensinou de bom é não voltar pra onde eu fui ferido ou traído, pois essas pessoas não mudam e eu não vou mudar. Não se apegue a mim querendo isso, mas como eu prometi a Jimena, te protegerei enquanto tiver um gota de sangue circulando em mim- ela é tão pequena- Você é a pessoa que melhor sabe o quanto eu sou cruel e quanto eu te machuquei... gostaria muito que ficasse, mas eu sei que é melhor você ir.

- Por mais que uma parte minha te odeie- ela funga- Outra parte sente algo por você e eu não sei o que é e também não sei como explicar- que caralho! Eu queria muito que ela me odiasse e não tivesse dito isso.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora