QUARENTA E QUATRO

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Martina

Tento me levanta mas um par de braços fortes me segura firme.

- Preciso fazer xixi- ele afrouxa o aperto e me deixa sair.

Os acontecimentos das ultimas horas me deixam confusa, eu estou dividida em aceitar ficar ou ir embora, por mais que tenha dito que ficaria, mas foi pelo calor do momento. As imagens dele matando uma mulher e uma criança voltaram a minha mente e eu não consigo ver bondade nele e ao mesmo tempo a forma com ele agiu comigo ontem, eu sinto que pode ter algo de bom.

Meus sentimentos estão uma bagunça, minha vida esta de ponta a cabeça. Em poucas horas eu descobri que seria mãe e que não serei mais, perder o bebê pode ter sido uma forma involuntária de me afastar do Valentim, por mais que a gente não fique junto eu teria que vê- ló sempre.

- Tá tudo bem?- ele bate na porta e afasto minha voz chorosa, minha vida tá sendo luta atrás de luta e espero ansiosamente pelos dias de gloria.

- Sim- abro a porta e aqui esta ele, de pé me encarrando com os olhos mais preocupados que eu já vi- Precisamos conversar.

- Depois vocês conversam.

- Caralho Juan me dá paz.

- Valentim, preciso falar com a Martina e ai ela pode ir pra casa- uma noticia boa, ir para casa.

O Valentim sai contra a vontade, um homem desse tamanho fazendo birra.

- Como você está?

- Estou melhorando, não é fácil, mas aos poucos vai. Ainda sinto um pouco de dor, mas os remédios ajudam.

A dor da alma não tem cura, então não vale a pena.

- Tenho um assunto delicado para tratar.

- Eu sei Juan, Valentim me disse que eu estava grávida e perdi- sinto um vazio enorme, não sei descrever.

- Martina... eu sinto muito. Devido aos abusos, você teve um aborto espontâneo, sinto muito por vocês- a voz do Juan é tão triste e dolorida.

- E- eu acho que foi melhor assim- brinco com meus dedos- Eu disse ao Valentim que ficaria, mas pensei melhor Juan, ele me machucou tanto, ele machucou pessoas inocentes- sinto a dor de tudo que aconteceu- Eu ficaria se ainda tivesse algo que me prendesse a ele, mas não tenho.

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Juan

A Martina esta sofrendo é evidente, ela precisa de alguém que cuide dela e  a única pessoa possível para fazer isso é o Valentim, mas eu entendo que ela não queira.

- Não se sinta obrigada a nada, por mais que eu ame aquele idiota, ele fez coisas muito ruins com você- pego as mãos dela, que estão tremulas- Não se sinta obrigada só porque ele te salvou... você sempre terá a mim, a minha mãe e a maluca da sua amiga- ela sorri fraco, o que essa garota tá sofrendo não é fácil.

- Cadê minha alta?

- Calma, vou te examinar antes e então pode ir.

- Você não quis trabalhar pra sua mãe não?

- Trabalho, sou médico deles e sou um ótimo atirador de elite- ela estremece- Só mato gente ruim, fica tranquila.

- Diferente do seu irmão e do seu primo.

- Não, somos diferentes do Henrique- acho que ela não sabe que o Junior tá vivo- Martina, você esta apta pra ir embora, se precisar estou no quarto ao lado do seu- ela da mais um sorriso, como eu queria que ela e o Valentim estivessem de boa e pudessem viver em paz

- Não vejo a hora de ir pra casa- tadinha.

- Tina, o Junior não tá morto, foi uma estratégia nossa pra pegar meu irmão.

- Juan, eu vi o garoto morto.

- Não, você viu uma ótima encenação criada por mim e pelo Valentim- eu explico a ela toda a tramoia que fizemos e ela fica boquiaberta.

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Valentim

Estou sentado na cadeira com o rosto nas mãos, essa alta foi a mais demorada que já vi.

- Bom dia, porque não esta com a Martina?

- O idiota do seu filho foi dar alta pra ela e está lá até agora.

- Calma, não precisa surtar assim.

- Jimena, eu acabei de saber que seria pai e agora não serei mais, a Martina disse que tem que conversar comigo e sinto que não é bom.

- Pai?

- É Jimena, ela estava grávida, mas graças ao desgraçado do sei filho e filho da puta do Pablo ela perdeu o bebê- não tô nem ai se ela é mãe dele, o Henrique vai queimar no fogo do inferno.

- Calma Valentim- ela encosta a mão em mim e se assusta- Valentim você esta queimando menino.

- Estou bem.

- Não esta! Você caiu de moto, levou uma faca e a julgar pelo hematoma no seu rosto também tomou umas bofetadas- ela suspira- Pra você cuidar da Martina você tem que estar bem.

- Eu tô bem, deve ser só uma febre, depois passa.

A verdade é que estou sentindo uma puta dor no corpo e o lugar onde o Henrique marcou está queimando como o inferno, mas é suportável. O caralho do Juan não sai dessa porra de sala e eu tô quase metendo o pé nessa merda.

- Toma- a Jimena me oferece um café, que por sinal está horrível- Teremos que manter a Martina aqui.

- Sério? No meio dessa merda? Ela já tá quebrada o suficiente pra ver tudo que acontece nesse lugar.

- Valentim, o Pablo tá com sangue nos olhos e em quem você acha que ele vai? Seu pai tá revirando a América atrás dele e nem sinal- eu vivi pra ver o Rojas querer matar o puxa saco que ele chama de irmão.

- Avisa ao Rojas que eu vou matar o Pablo, ninguém mais- eu tô fervendo de ódio nesse desgraçado e ele vai morrer da pior forma possível, só me aguarde.

Depois de vinte minutos o Juan sai com a pior cara que eu podia ter visto.

- O que aconteceu?

- Não- ele me impede de entrar- Ela não quer te ver, quer ir pra casa sozinha com minha mãe.

- Juan- digo sentindo meu sangue ferver- Se você não me deixar passar, vou te arrebentar no murro.

- Para de ser infantil e respeite o momento dela, foi por sua culpa que ela se afastou Valentim.

- Ela me disse ontem que ficaria, o que disse a ela?- foda-se se estou chorando. Estou perdendo o mulher que amo.

- Ela disse que se estivesse gravida ficaria... mas como não esta mais, não tem motivos para ficar.

Um soco no estômago.

Eu sou um monstro. Martina só ficaria se estivesse grávida.

- Eu vou pra casa- não aguento ficar mais aqui. É como se toda a dor ignorada me atingisse com tudo, cada parte do meu corpo dói de formas diferentes.

- Você não vai, olha seu estado.

- Estou ótimo- uma bela mentira. Estou fudido psicológica e fisicamente.

Se eu estou sofrendo, imagine a Martina  que passou tudo isso.

Eu nunca poderei ajuda- lá. Foi melhor o bebê não ter vingado.

Sinto meus músculos afrouxarem e perco um pouco a coordenação motora, minha visão esta estranhamente turva e é como se tudo girasse em câmera lenta e a dor sumisse.

- O que tá acont- minha voz falha.

- Desculpa cara, mas você precisa disso- ouço a voz do Juan longe e meus olhos fecham lentamente. Filho da puta me dopou, quando eu acordar  esse menino vai tomar um pau.

A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora