Valentim
Tem dez minutos que o exame ficou pronto, mas aquele ordinário não aparece com o resultado, daqui a pouco o chão vai fundir nos meus pés. Se ela estiver mesmo gravida e não quiser o bebê eu crio sem pensar duas vezes, mas se ela quiser a criança e não quiser meu registro vamos ter uma briga boa, não vou abrir mão da única coisa que eu posso fazer de bom na vida.
- O resultado saiu e não é bom- eu disse que ele é perfeito para ser secretário do diabo, nunca tem nada bom.
- Fala meu filho.
- Realmente ela esteve...- o interrompo
- Esteve?
- Sim, devido ao abuso sexual e psicológico, ela teve um aborto.
- Que inferno!
Mais uma coisa pra deixa- lá mal, eu sou um belo de um filho da puta fodido, se minha mãe estivesse viva ela nunca iria me perdoar.
- O que eu faço Juan? Caralho. Como eu vou contar pra ela isso?
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Juan
A fragilidade da Martina atinge meu primo como uma bala, ele acabou de descobrir que seria pai, mas a crueldade tirou a criança antes mesmo deles saberem.
- Eu tô com muito medo Juan, muito medo por ela- o Valentim tá tão quebrado quanto ela- A Martina vai quere morrer por causa disso, eu não vou conseguir contar.
- Olha Timtim, não precisa contar a ela nada agora- meu Deus essa garota não vai parar de sofrer nunca?
- Juan, ela me disse que queria morrer Juan, morrer. Você tem noção do quão vazia ela esta pra querer isso? Do quão machucada ela esta para querer isso?- ele suspira pesadamente, mais uma vez está irracional e agora é pelo medo- Como eu vou falar pra uma mulher que acabou de ser abusada que ela perdeu um filho? Como?
- Você está sendo irracional, calma.
- Ela escondeu os alunos dentro de um armário, como você acha que ela ficaria em saber que não conseguiu salvar o próprio filho?
- Você não sabe, talvez ela nunca fosse querer a criança- o pior erro da minha vida foi falar isso, tomei um belo de um soco no nariz- Porra, pra que isso?
- Pra você lembrar de pensar antes de falar.
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Martina
- Oi- o Valentim diz entrando na sala. Ele esta impecável. Limpo, os cabelos penteados e a pose de sempre, apesar de estar andado um pouco travado.
- Oi, como vai sua perna?
- Tá bem... como você está?
- Melhorando aos poucos- eu queria muito não me lembrar de nada.
Toda vez que fechava os olhos via o Vinicius caído e aquele monte de crianças pelo caminho e a única hora que fechei meus olhos e não vi nada disso, foi quando estava nos braços dele e me dói saber disso. Eu vi o Valentim matar uma mulher e vi o Junior morto no chão do quarto, ele é tão cruel e impiedoso, mas ele me salvou inúmeras vezes que me vejo dividida entre o amor e o ódio.
- Eu sinto muito por tudo- ele senta do meu lado e me encara. O olhar é tão doce e calmo, nem parece o cara de antes- Eu achei as crianças no armário, estão todas bem.
- Sério?- ele acena com a cabeça e meu coração pula de alegria e meu extinto é abraça- ló
- Estou muito realizado em saber que você está bem, eu fui um idiota- ele brinca com meu cabelo- Sempre uma bagunça- que sorriso lindo-Não espero que você me ame, mas pelo menos me desculpe pela grande merda que eu fiz.
Eu lembro vagamente do que ele me disse... eu te amo tanto, tanto Martina que está doendo, não tem uma parte do meu corpo que não está doendo por você.
- Valentim- sinto uma lagrima escorrer pelo meu rosto- Eu não sei se te amo, mas eu pensei em você todas as vezes e sempre tentei achar um porque de você me odiar tanto, pensei em várias formas de mudar pra você voltar a ser meu amigo, mas não sei mais diferenciar as coisas
- Não tem explicação Martina, eu não sei lidar com perdas, são difíceis pra mim.
- Eu- não sei como contar isso a ele- Por favor, não seja rude comigo... eu acho que estou grávida e o filho é seu.
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Valentim
A verdade chega a ela antes do que eu queria.
- Porque você acha isso?
- Tem um tempo que minha menstruação não vem e poucos dias depois daquela noite- ela sabia, agora ficou mais difícil ainda- Eu tive um sangramento estranho.
- Eu usei proteção, mas não tenho certeza do que aconteceu depois- não devia ter falado isso. Nessas horas o Juan podia aparecer por aquela porta e me dar um soco pra eu pensar antes de falar.
- Eu não estive com outro homem além de você e não deu tempo do que aconteceu ontem...- ela abaixa a cabeça e seca os olhos- Enfim, se eu estiver mesmo grávida, não vou abortar e você querendo ou não eu terei a criança, mesmo que você não me aceite, gostaria que a aceitasse.
Parece que a Martina enfiou uma faca em mim e girou. Eu preciso contar a ela.
- Martina, olha pra mim... por favor. Eu nunca deixaria você criar uma criança sozinha e mesmo que você quisesse abortar eu criaria sozinho- vejo os olhos dela se alegrarem e perderem o brilho assim que a conto- Mas temos um problema- ignoro o nó que se forma em minha garganta- Perdemos o bebê.
- Não, como assim Valentim? Não, como assim?- mais uma vez eu vejo a minha garota se quebrar em vários pedaços.
- Me desculpe- me deito ao lado dela na cama e a puxo para meus braços. Queria passar toda a dor dela pra mim, se pudesse não pensaria um segundo em fazer isso- Depois a gente fala disso, com calma o Juan vai explicar tudo.
As lagrimas dela molham meu peito, a recompensarei por cada coisa ruim que ela passou. Eu disse que não mudaria, mas por ela farei o possível para ser melhor.
- Valentim- ela diz baixinho sem me olhar- Vou levar um tempo para me doar totalmente, mas estou disposta a ficar- passo as mãos pelos cabelos dela, eu amo tanto essa bagunça que ele é- Eu queria muito um lugar para descansar... e quando você me achou eu consegui.
- Pode descansar, você esta segura comigo para sempre, eu te amo Tina- ela se aninha mais um pouco, ainda chorando, estou me viciando em beijar essa bagunça de cabelo.
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A PROTEGIDA- UMA HISTÓRIA DE CARTEL (CONCLUÍDA)
FanfictionMartina é uma jovem professora que batalha todos os dias para conseguir o que é seu e sua vida muda quando ela reencontra seu inimigo da escola: Alberto Rodrigues, que por coincidência (ou não) começa a trabalhar na mesma escola que ela.