5 - Chuva - Leona

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Na saída do colégio, olhei para o céu cinza e depois para a rua que estava molhada:

- AH NÃOOOO,... VOU ESTRAGAR MINHA CHAPINHA! - Resmunguei alto e fingi um choro, embora eu realmente quisesse chorar pelo meu cabelo.

Leon jogou a mochila no chão e passou por mim feito um furacão, indo para a rua, se molhando na chuva sem se importar com nada.

- VEM, PIRRALHA! A CHUVA UMA DELÍCIA! - Gritou por cima do barulho da chuva e me olhou.

Ele tirou o boné que estava usando e jogou em minha direção, passou a mão pelos cabelos e abriu os braços, fechando os olhos como se estivesse aproveitando cada gota da chuva.

"Quando ele fazia esse tipo de coisa, percebia que eu só vivia porque ele me ensinava a viver."

Fiz que não e gritei:

- NÃO VOU ESTRAGAR MINHA CHAPINHA, LEON! - Apontei para minha cabeça.

Leon olhou para mim, sem se importar com que caíssem gotas de chuva dentro de seus olhos, e começou a andar com passos firmes em minha direção, como quem iria aprontar.

- Não... - Falei, dando dois passos para trás. - Não, NÃO, NÃO, LEON! - Comecei a gritar quando ele me abraçou, todo encharcado da chuva.

"O corpo frio e molhado por conta da chuva, estava envolto no meu corpo seco e quente."

Ele colocou minha mochila ao lado da dele e me puxou para chuva.

- EU VOU TE MATAR, LEON! - Disse eu revoltada, dando adeus à minha chapinha mentalmente.

Ele se divertiu com minha irritação e deu uma gargalhada.

- Para de reclamar e aproveita, Sol. Tomar banho de chuva é bom, sabia? Limpa o corpo e a alma. - Ele me olhou com os cílios molhados. - E é provável que no futuro nós nem tenhamos tempo, ou ficaremos rabugentos demais para fazer isso, então... - Olhou no fundo dos meus olhos e me soltou do abraço; porém, mantendo contato físico ao segurar na minha mão. - "Carpe diem".

Refleti sobre o que ele disse ao olhar a mão dele na minha e... ele tinha razão.

"Na verdade, ele sempre tinha razão quando o assunto era: viver".

Ele fazia eu viver cada dia da minha vida como se fosse o último, mas sempre com consciência.

- Chapinha eu posso fazer de novo. Aproveitar momentos assim, não... né? - Olhei para ele que fez que sim com a cabeça.

Dei um sorriso e soltei as nossas mãos começando a correr pela chuva, dando pulinhos e rodopios. Comecei a dançar ao som das gotas que caíam pelo chão. Abri a boca, sentindo a água escorrer pela garganta quando engulo as gotas da chuva.
Olhei para Leon e o vi parado me assistindo com um sorriso torto no rosto enquanto a chuva se intensificava, a ponto de quase não conseguirmos ficar de olhos abertos.

- VAI FICAR AÍ PARADO? - Gritei por conta do som da chuva.

- É sempre muito bom te ver dançar, porém, já deu, vamos dar o pé daqui. Não quero que você pegue um resfriado. - Falou, vindo até a mim.

Ele segurou minha mão e me rodopiou, fazendo com que eu me lembrasse da valsa que dançamos na minha festa de 15 anos.

- Aaaa... - Fiz um biquinho triste e cruzei os braços. - Por quê? Logo agora que tava ficando legal?

Ele me olhou com tédio e então chutei uma poça de água em direção a ele. Leon olhou para a camisa branca do uniforme ser impregnada pela lama que chutei. Dei uma gargalhada.

- VAMOS EMBORA! TENHO UMA JAQUETA NA MINHA MOCHILA, VOCÊ VESTE ELA E, DEPOIS, A GENTE CORRE EM DIREÇÃO ÀS NOSSAS CASAS, PASSANDO PELOS LUGARES COBERTOS. - Ele falou e eu ignorei, mostrei a língua e voltei a dançar na chuva.

- EI, EU FALANDO COM VOCÊ! - Ele enfatizou, cruzando os braços na frente do corpo.

- PODE IR EMBORA, ENTÃO! EU VOU FICAR AQUI! - Gritei mais alto por conta do barulho da chuva, parando de dançar e batendo o pé no chão feito criança mimada.

- BIRRENTA! EU AGRADEÇO POR NÃO TER IRMÃOS. PORQUE VOCÊ JÁ ME TIRA A PACIÊNCIA. - Ele apareceu na minha frente e vi os lábios dele tremularem quando um vento frio bateu.

Revirei os olhos.

- É SÓ IR EMBORA, VOCÊ AQUI PORQUE QUER. - Mostrei a língua e cruzei os braços dando as costas para ele.

"Eu sabia que, fazendo isso, ele ia me pegar no colo".

- EU NÃO VOU IR EMBORA SEM VOCÊ. - Ele pegou nossas mochilas e, de repente, sinti braços passarem pela minha cintura.

Como o esperado, Leon me pegou no colo, me colocando sobre um dos ombros.

- ME PÕE NO CHÃO, LEON! - Gritei, fingindo uma irritação enquanto me debatia.

"A verdade é que eu estava amando aquilo".

- NÃO! - Leon riu e começou a andar rapidamente para debaixo da primeira sacada que viu.

Me debati mais ainda, mas me cansei e desisti ao perceber que ele não iria me soltar fácil assim. E ainda bem.

Soltei o peso do meu corpo nos ombros dele, aproveitando a carona e disse:

- Sua sorte é que as mochilas estão leves. E a minha sorte é que não tenho que andar até em casa. - Dei uma risada. - Meu carro de pernas. - Provoquei.

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