14 - Pt2. Depois da viagem - Leona

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Vi o Leon sumir do meu campo de visão com o pai e olhei rapidamente para o Renan:

-- Vou embora. - Logo após falar, comecei a chorar, sem deixar Renan responder e saí correndo até o carro.

Não esperei a resposta dele e nem sei se Luci havia falado algo com ele antes de ir atrás de mim, pois não olhei para trás em momento algum enquanto corria.

Entrei no banco de trás do carro e Luci entrou um pouco depois, se sentando no banco do motorista. Ela olhou para trás, onde eu estava chorando, encolhida e abraçada aos meus joelhos, e disse:

- Ele vai voltar, Leona. - Ela esticou o braço para pôr a mão no meu joelho, com um sorriso de consolo no rosto. - Vai ser bom pra vocês dois esse tempo longe um do outro, aliás, vocês estão crescendo e a vida adulta está chegando. Vocês não vão poder ficar grudados o tempo todo. - Ela sorriu gentilmente.

Eu a olhei e até pensei em dizer algo, mas eu realmente não sabia como reagir.

"Eu estava muito mal, muito mal mesmo".

Nunca havia sentido uma dor tão forte como aquela. Alguma coisa dentro de mim me dizia que eu iria ficar sozinha e perdida depois daquele dia...

"...e eu fiquei".

Depois da viagem, eu e o Leon conversamos por mensagens durante uma semana. Durante aquela semana, ele estava estranho, cada vez mais frio, e no sétimo dia, ele sumiu. Eu mandei mensagens, liguei para ele e para o pai dele, esperei retorno e nenhum sinal de vida.

Um mês depois da viagem do Leon, ainda não havia notícias dele, e meus pais tiveram de viajar para uma reunião das Empresas Marinho; a empresa de moda da minha Família.
Eles foram assinar as últimas papeladas para a nova loja de roupas que a Marinho iria abrir, em uma cidade ao lado da nossa. Digo "iria" porque durante a ida até a cidade, um motorista bêbado atingiu o carro em que os meus pais estavam, fazendo com que meu pai perdesse o controle do carro e acabasse caindo em uma ribanceira.

"Os dois morreram".

Dali para frente, a minha vida foi de mal a pior, pois a saudade dos meus pais e a dor de não saber por onde o Leon andava me matavam aos poucos. Depois que o Leon não mandou mais mensagens, ele nunca mais apareceu. Não atendia ligações, suas redes sociais estavam inativas, nenhuma mensagem, nada. Nem o Renan teve notícias dele.
Eu tentei contato com o Leon de todas as formas possiveis e nada, tentei até mesmo avisar sobre o falecimento dos meus pais, mas nunca obtive respostas.

Durante o primeiro ano após a viagem, pensei em escrever cartas, mas provavelmente não teria retorno.
Liguei; mas sempre dava na caixa postal, até o número não existir mais.
Ia à casa dele direto, até que um dia ela foi vendida. Perguntei à nova moradora sobre o antigo dono; o pai do Leon; e ela me disse que não sabia de nada sobre ele. O que era de se esperar, pois o pai do Leon sempre foi fechado e misterioso. O Marcos sempre pareceu não gostar muito de mim e após a morte da esposa; a Mãe do Leon; ele havia ficado mais estranho ainda. Inclusive, um dos motivos que me fez apoiar a viagem do Leon foi justamente o Luto pela mãe. Ele não estava nada bem com aquilo, mas eu nunca soube o real motivo deles terem saído do país.

Nessa bagunça toda, comecei a escrever um diário.

E o tempo foi passando...

A minha vida foi mudando...

Eu fui crescendo...

"Eu não tinha mais 16 anos".

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