1 - Clipes De Coração ‐ Leona

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Enquanto a professora explicava, eu ficava com tédio. Odeio aula de história.

"Odeio ficar entendiada."

Peguei um clipes, desses de prender em papel, e fiz um coração. Prendi ele em uma folha aleatória para testar se ainda funcionava... E sim, ele ainda prendia folhas, só que agora formava um coraçãozinho ao invés daquele formato feio e sem graça de antes.

Olhei para trás e vi o Leon, meu melhor amigo, que rabiscava alguma coisa em seu caderno:

- Leon! - Chamei sussurrando, para que a professora não me notasse.

Leon terminou de escrever e me olhou rapidamente, depois olhou para a professora. Quando viu que a barra estava limpa, arrancou a folha do caderno em que escrevia, colocou uma borracha em cima da folha, e amassou o papel envolvendo a borracha.
Ele joga o mesmo papel para o Renan, que estava do outro lado da sala sentado na frente de Fernando. Renan pegou o papel amassado e o abriu para ler, deixando Fernando ler também.
Enquanto isso, Leon se virou para mim, me dando atenção.

- O que quer Leo...a? - Me provocou com um sorrisinho travesso.

Fiz cara de tédio e mostrei a língua, enquanto colocava o coração de clipes, cor laranja, em cima da mesa dele:

- Olha o que eu fiz! - Uma empolgação saiu em minha voz.

- Uma cruz? - Sussurrou de volta para mim, pegando o clipes em mãos e o olhando com uma expressão confusa.

Fiz cara de tédio, novamente.

- Não sei onde isso se parece com uma cruz. - Tomei o clipes das mãos dele e o prendi na folha do caderno, para ele entender. - É um coração, seu burro! - Sussurrei, ainda com cara de tédio, mas logo em seguida dei uma risadinha, que quase me fez ser pega no flagra pela professora.

Me virei para frente em questão de segundos, para a professora não nós ver, e quando ela voltou a escrever no quadro, eu me virei para trás novamente e disse:

- Me esqueci que você não tem um coração e por isso não reconhece um. - O pirracei, fazendo careta.

- Tu me cutuca, fazendo com que eu perca o foco da aula, pra simplesmente mostrar um clipe e dizer que eu não tenho coração? - Fez uma pergunta retórica, colocando a mão no peito esquerdo, ao fingir levar um tiro.

- Você nem estava prestando atenção na aula. - Pontuei.

- Só você mesmo, pirralha. - Terminou, rolando os olhos de forma brincalhona.

- Eu não sou pirralha, OK? - Minha irritação faz com que minha voz ecoe mais alta do que deveria, fazendo também com que a professora me chame a atenção.

- Leonaa...

- Desculpa, professora. - Digo.

Me sentei normalmente e, depois de alguns segundos, senti uma respiração na minha nuca:

- Já que não gosta de ser chamada de pirralha, vou te chamar de Leoa a partir de agora. "Roar!" - Ele imitou um rugido que provavelmente seria de um Leão, mas deu uma gargalhada depois de perceber que falhou miseravelmente.

Normalmente, eu ficaria irritada. Odiava que ele me chamasse por aqueles apelidinhos toscos, mas o sorriso dele, com a risada e o som de "leão deficiente", fez com que eu gargalhasse também; o que acabou fazendo com que a professora nos aplicasse uma bela bronca.


- SILÊNCIO! - Ela bateu na mesa com força. - Querem que eu troque vocês dois de lugar? - Disse, apontando o dedo indicador para mim e para o Leon, enquanto nos fuzilava com o olhar.

Pondo meu cabelo atrás da orelha, eu fingi não ligar e fingi também voltar a escrever o que nem havia começado.

- Foi mal fessora, não vamos mais te atrapalhar. - Leon disse com uma "educação falsificada".

A professora respirou fundo, claramente sem paciência, e voltou a ensinar.

Fernando e Renan começaram a rir e mordi os lábios, tentando não rir também. Leon mostrou o dedo do meio para os dois e depois se aproximou do meu ouvido novamente, sussurrando:

- Eu não aguento mais ficar aqui. - Me virei para ele. - Estou sentindo que vou morrer entedia... - Uma bola de papel o acertou na cabeça enquanto ele falava.

Gargalhei, não conseguindo segurar a risada por nem mais um segundo. E de repente, alguém também me acertou com uma bolinha. Leon jogou uma bolinha em mim.

-EIII! - Eu disse, fingindo estar irritada, mas acabei rindo.

Arranquei uma folha aleatória do meu caderno e a amassei, jogando na cabeça de Leon. Quando me dei conta, uma guerra de bolinhas havia começado e a professora estava aos berros tentando nos fazer parar.

Leon olhou ao redor, vendo que Renan e Fernando estavam tentando sair de fininho da sala. Eles deram um tchauzinho para Leon, que me olhou; depois olhou para eles; depois olhou para mim de novo; e por fim ficou em pé pronto para dar o fora também, mas a professora se irritou e bateu na mesa com força novamente, fazendo um estrondo.

- CHEGAAA! - Ela gritou.

A sala toda parou de se mecher. Parecíamos estátuas.

A professora de história olhou para Renan e Fernando que estavam na porta e depois para Leon. Ela olhou para os outros alunos e, por fim, para mim:

- Quem começou essa guerra de bolinhas de papel? - Pegou uma bolinha no chão e mostrou para sala.

Ela olhou para Leon, que se sentou e tentou se esconder, deslizando na cadeira para debaixo da mesa. Eu e a sala toda, automaticamente, apontamos para Leon.

- Foi ele! - Eu disse na "cara de pau", enquanto via Fernando e Renan aproveitando o vacilo da professora e saindo da sala sem serem notados.

- Traidora! Até você? - Sussurrou Leon boquiaberto.

- Isso é pra você aprender a nunca mais zuar o meu coração de clipes ou me chamar desses apelidinhos toscos. - Sussurrei de volta e cruzei os braços.

De repente, me deparei com a professora na nossa frente, olhando para Leon. Ela apontou para porta e disse, nem um pouco feliz:

- Pra fora A-GO-RA, Leon Madox!

Leon se levantou erguendo as mãos ao ar em sinal de rendição. Mas antes de sair ele se virou para mim e disse:

- Tudo por culpa de um clipe em forma de cruz.

- É um coração! - Mostrei a língua ofendida por ele não respeitar a minha obra de arte, e cruzei os braços.

- Tanto faz, pirralha. - Ele piscou, bagunçou o meu cabelo e começou a andar em direção a saída.

Abri a boca para responder, mas a professora me interrompeu antes mesmo de começar.

- Silêncio, Leona, ou você também vai! - Me repreendeu, e eu não disse mais nada.

Leon mandou um beijo para a professora, que estreitou os olhos, o ignorando, e abriu a porta para ele sair.

Arrumei o meu cabelo e me sentei no meu lugar.

☀️💭Bem feito.

Do lado de fora, pela janela da sala, Leon gritou:

- MANDA ESSES TRAIDORES CATAREM AS BOLINHAS FESSORA!

- Silêncio, Leon! Caso contrário, eu te mando para a detenção e lá você se resolve com seus pais. - A professora disse apontando para ele sair da janela.

- NÃO! - Gritou em desespero. - Uma advertência já ótima. - Deu um riso nervoso e alguém correndo ecoou por detrás da porta.

A sala toda deu risada, mas a professora ficou séria e os alunos se silenciaram.

- Arrumem tudo ou advertência pra todos! - E a sala toda começou a catar as bolinhas que jogamos.

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