Espelho Sem Vidro

Capítulo 24

☽• Leon •☾

  Dirijo calmamente pela estrada de chão com o carro da pista que conferi que não está sabotado, olhando uma vez ou outra para a Leona que está sentada ao meu lado, no banco do passageiro, apoiada a cabeça no vidro da janela.
  Desde que entramos aqui decidi levar a Leona em um lugar em que ela ainda não conhece. Ela não disse uma palavra sequer até agora e isso me aperta o peito. Seguro o volante firmemente, fixando os olhos na estrada, não acostumado com a sensação.
 
🌙💭Ela está triste, mais do que ver, consigo sentir.

  É horrível não poder sumir com a dor dela. É impossível fazer isso.

🌙💭Não tenho controle sequer com minhas emoções, imagina com as dela.

   E isso é tudo que eu menos queria. Apenas penso em como tudo poderia ter sido diferente se eu tivesse feito uma escolha simples. Poderia ter mudado todo o rumo de nossas vidas.

🌙💭O que adiantaria eu me culpar mais uma vez agora?

  Mais uma pessoa havia morrido e eu não conseguiria deixar de sentir o peso da morte do Reyes em minhas costas.
 
  Estou me sentindo como se tivessem amarrado uma Âncora em meu pescoço e me jogado ao mar.
 
  Minha visão embaça e quando noto, pisco diversas vezes, tentando evitar. Esse não é o momento para esse tipo de coisa. Eu tenho que a reconfortar, não posso cogitar mostrar vulnerabilidade à Leona agora. É o momento dela e eu quero fazer por ela o que eu sabia fazer de melhor antes disso tudo... promover estabilidade em um lugar sólido, como uma Âncora faz a um Navio. Porém, é preciso saber o que está fazendo para se jogar uma Âncora ao mar e, eu errei quando tentei jogar a Âncora na primeira vez.

"Não parei a embarcação do jeito certo".

   Pisco meus olhos várias vezes e paro o carro quando chegamos a porteira da chácara. Desço do carro percebendo a Leona me acompanhar com o olhar e faço os mesmos passos que o Renan fez aquele dia, com a diferença de destrancar e trancar o cadeado da porteira com a chave; que ele tinha me dado junto com a permissão de eu poder entrar e sair daqui quando eu quiser.
  Quando volto para o carro novamente, comprovo que de fato ela está me olhando. Mesmo no meio de todo caos, dou um pequeno sorriso, tentando passar um ar de tranquilidade com o ato, ao mesmo tempo em que ajo de forma sincera por vê-la aqui.

"Comigo e viva"

  Estaciono o carro na garagem da chácara e tiro meu cinto, desligando o carro, descendo pela última vez e indo até a porta do lado onde ela está sentada.

— Chegamos. — Aviso abrindo a porta do carro para ela.

— Onde estamos? — Pergunta e percebo sua voz mais calma, embora não anule a tristeza em seu olhar

— Na chácara do Renan. — Informo quando ela sai do carro.

  Fecho a porta e noto Leona se afastar, observando tudo como uma gata curiosa.

— Ele me deu liberdade de vir quando quiser. — Digo, parando ao lado dela que encara a água cristalina da piscina.

  Mesmo que eu saiba que não foi totalmente de boa fé, sei que ele quer me manter em um lugar onde ele saiba me encontrar. Mas lógico que não irei dizer isso em voz alta para a Leona ouvir.

  Continuo:

— Desde a primeira vez que estive aqui, me lembrei de você, porque este lugar é lindo. — Confesso e a olho no mesmo momento que ela olha para mim, com os belos olhos alaranjados dela que, mesmo que estejam ofuscados pela tristeza, estão brilhando por conta do sol. — Quer dizer... — Me atrapalho e engulo em seco passando a mão pelos cabelos. — Pensei em como você poderia gostar daqui, por ser mais perto da natureza assim como todos os nossos outros lugares favoritos que frequentavamos, quando mais novos. — Explico e desvio o olhar dela.