07: O começou de alguma coisa...

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Aurora

Fala sério. Me encolho debaixo do braço do garoto que aparentemente nunca mais vai me deixar em paz. Ele abraça meu ombro de lado. Seguro na barra da camisa dele. Todas as garotas, todas olham para mim como se eu fosse um inseto. Todas me odeiam. É difícil achar o culpado assim.

Na verdade. Se o Enzo tivesse ignorado a minha existência isso nunca teria acontecido. Mas talvez tivesse. Já que aparentemente eu fui a primeira garota que ele beijou na faculdade inteira. Segundo minhas fontes (Teresa). Nada me impede de pensar que isso é sua culpa, e que ser a garota que ninguém sabe o nome é melhor do que ser a garota que ninguém gosta.

Me afastei dele e vou até o meu armário. Está escrito "piralha" com L, no metal bem grande. Com tinta vermelha.

— Que porra é essa?

— Não sei. Parece que escreveram errado! — Abro a porta do armário ignorado. Pego meus dois livros de hoje. Acho que vamos ter aula prática.

— Você deveria estar brava — me viro e olho para cima. Quem está emburrado é ele.

— Porque alguém que não sabe nem escrever piranha, sujo o meu armário? Tanto faz. Eu não ligo. Estou farta, não tenho mais nada para elas destruírem.

Ele entreabriu a boca percebendo. Se eu não tenho nada. A única coisa que resta é me machucar. Fazer comigo o que fizeram com o meu carro. Rezei para que não fosse isso.

— Por que fariam isso com você? Disney, isso não faz sentido.

Sorri de canto:
— Eu beijei você. Eu, não elas.

— O que?

— Agora, elas estão com inveja e raiva de mim. E você não quer saber do que uma garota é capaz quando está assim. — Bati a porta de metal.

( … )

Foi ignorada. Maltratada, e perdi a conta de quantas vezes me olharam torto. Por sorte no meu curso a maioria dos alunos são homens. Mas até os gays me encararam de cima a baixo.

Achei que apenas as garotas do curso de moda não gostassem de mim. Andei no corredor para a próxima aula um pouco nervosa. Levo apenas minha garrafinha de água e um avental para a aula prática.

É minha aula favorita. Nada pode estragar ela.

— Bom dia. — O professor mais exigente entra na sala. — Hoje vocês vão desmontar e remontar alguns eletrônicos e vou sortear um para cada dupla! — Minha animação se vai. — Eu escolho as duplas. — Anuncia fazendo todos ficarem na expectativa. Olha na frequência. — Aurora e Ruan, Pedro e Talis, Gael e Herberto…

Viro a cabeça automaticamente para o ruivo sentado no fundo. Ele tem um sorriso maldoso. Viro para frente revirando os olhos. Tinha que ser um dos amigos do Enzo. Esse dia não tem como ficar pior.

Juntamos as mesas, eu juntei a mesa. Depois de pegar um papel no sorteio, vi que ficamos com o micro-ondas. Desmontar e montar de novo não seria difícil, mas carregalo. Encarei o eletrodoméstico, não preciso tentar pegá-lo para saber que é pesado.

Virei. Foi até o fundo da classe e parei do lado ruivo:
— Ficamos com o micro-ondas. Pode me ajudar a pegá-lo?

Para a minha surpresa ele não disse nada. Apenas levanto e pego sem muito esforço, colocando no meio entre as mesas. Sorri de canto. Tratei de pegar as ferramentas no armário grande de ferro. Colei a caixa no chão.

Olhei o tamanho dos parafusos. Peguei a parafusadeira, comecei a tirar aos poucos. O ruivo fico apenas em pé olhando. Quando tirei a primeira parte, ele me ajudo a desmontar o resto.

Anotei o tamanho dos parafusos e a ordem das camadas. Chamei o professor duas vezes, quando desmontamos tudo, e quando remontamos. Tentamos ligar na tomada para ver se funcionava também.

O homem de barba elogia:
— Excelente, ele estava dando defeito!

— Você é realmente boa nisso, para uma iniciante! — O ruivo parece surpreso com suas palavras.

— Obrigada… — eu acho.

[ … ]

Assim que saiu do prédio, dou de cara com o moreno tatuado. Ele tem tatuagem para dar e vender. E é alto, o idiota faz o meu tipo. Sua pele, seus lábios cheios, suas mãos calejadas, seus olhos castanhas claros presos em mim.

Meu coração até esquece de bater. Respiro fundo. Vou na direção contrária para fugir dele. Mãos grandes puxam minha cintura para trás com força, meu corpo bate no seu.

— Vamos comer, eu pago!

O Enzo acabo me convencendo a ir com ele comer em uma lanchonete. Estamos sentados um de frente pro outro. Já fizemos os pedidos e eu só saiu depois de comer.

Acho que escutei errado. Pisco atordoada:
— Você pode repetir?

— Você tem que me acompanhar em uma corrida, hoje à noite!

— Não. Sem chance.

— Disney, não estou pedindo, estou avisando.

— Qual é o seu problema? Por que fala como se eu fosse sua? — Gesticulo irritada.

Ele ri.

— Porque você é minha! — Desvio os olhos do seu sorriso idiota. — E aconteça o que acontecer, você não vai sair de perto de mim. Disney, olha pra mim…

Olho a contragosto, cruzando os braços.

— Me promete que você não vai sair do meu lado?

— Eu odeio você!

— Disney, me promete.

— Tá bom.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora