15: Nas quartas nós usamos rosa.

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Enzo

Depois de esperar por tanto tempo para beijá-la de novo, o Marcos só pode estar de brincadeira com a minha cara. Fiquei com tanta vontade de bater nele.

— Por que tá me olhando como se quisesse me bater?

— Porque eu quero!

— Calma cara, paz e amor, respira fundo e conta até 10, você faz terapia, lembra? — Levanto as mão passando por mim de fininho. — Se você me bater, vou contar pro Ruan!

Suspirei desistindo. A Disney já tinha saído correndo arrastando a amiga junto, parece déjà vu.

Afasto esses pensamentos, é outro dia. Tem outros problemas para lidar. Encaro as minhas camisas com super heróis e uma preta sem estampa, desistindo de pegar qualquer uma delas para pegar uma rosa. Nas quartas nós usamos rosa, porque o Marcos viu em um filme e quis copiar.

Nunca ouvi ninguém dizer tanta merda como essas garotas que se dizem fãs. Esse parece ser o menor dos meus problemas. Porque os caras do time de futebol começaram a chamar a minha garota de puta. Se a Disney ouvisse isso ficaria ainda mais magoada. Lidar com garotas é fácil, é só pisar nos sentimentos delas. Já os garotos têm que pisar no orgulho deles.

Não quero que ela chore por eles.

O treino começa às 5:10. Parei a bola com formatos de hexágonos e pentágonos, pretos e brancas, usando o pé. Não gosto de grama, por isso recusei inúmeras vezes o pedido do treinador para participar. Mas a minha maneira de lidar com as coisas é a longo prazo, violência não resolve tudo.

Não tem maneira melhor de se vingar do seu inimigo, do que ser amigo dele.

Meu sorriso é cínico:
— E aí, vamos bater uma bolinha?

O treinador apita chamando todos para perto dele. Pego a bola e vou também. Eles parassem confusos com a minha presença.

— Comunicado rápido, Enzo é o nosso mais novo jogador! — Sua animação exagerada deixa a maioria desanimados. Ontem de noite liguei para ele e foi aceito sem objeções, no entanto eu tinha uma condição. — E ele será titular.

— O que?

— Chego e já é titular?

— Treinador, isso não faz sentido!

Sugeri depois da reação esperada:
— Injusto? Vamos fazer uma aposta.

Girei a bola no dedo indicador. Ela fico assim sem cair por um tempo. Esse jogo de correr atrás da bola e tudo uma questão de estar com a bola e controlar o jogo.

— Um jogo de 1 contra o resto, menos o goleiro. Eu contra vocês. Se vocês ganharem vou ser o reserva, mas se eu ganhar vocês vão ser os reservas por dois meses.

— Um time de reservas? Isso não existe.

— De toda forma, a gente já ganhou!

( … )

28 a 1.

Bebi água observando um time inteiro destruído no chão. Um monte de perdedores. Cansados demais para se mexerem. Ninguém contava com o que só eu e o treinador sabíamos. Fiz eles se cansarem correndo atrás de mim depois de deixá-los fazer um único gol, foi difícil, mas no fim não tinha ninguém de pé. Fiz 28 gols seguidos.

— Falo, tô indo pra aula — acenei. — A gente se vê no treino, não fiquem tristes, reserva também é jogador!

Vou destruir a dignidade deles um pouquinho todo dia. O meu rancor é pior do que qualquer karma. Tem horas que violência não é o bastante, eu poderia ter batido um pouco em cada um. Mas não sou idiota, também iria sair machucado.

Minha expressão é de poucos amigos. Mas um sorriso ilumino meu rosto com ela vindo na minha direção, usando uma jardineira comprida e uma blusa de mangas caídas:
— Amor.

— Escuta aqui seu lunático, não sou seu amor! — Ela fica tão bonita quando fica brava. Me aproximo, envolvendo meus braços nela, lhe tirando do chão em uma abraço apertando. — Enzo, agora não, eu estou brava!

— Tá bom. — Beijei a sua testa.

— Inferno, me ponhe no chão!

Suspirei soltando ela. A garota não perde tempo com enrolações:
— Que porra é essa?

O anel entre seus dedos me diz que ela está esperando por alguma coisa.

— O anel que você queria.

Seus olhos rolaram sem paciência.

— Eu não queria um anel, será que você não entendi!

— E o que você quer?

— Que você me pedisse em namoro, droga! — Gesticula irritada.

Fiquei confuso. Nunca namorei antes. Achei que fosse só comprar um anel e pronto. Mas parece que tenho que pedir também, mesmo sendo óbvio.

Pego o anel da sua mão e coloco no seu dedo:
— Você quer namorar comigo.

— Quero… — Ela está meio envergonhada.

— Não foi uma pergunta. Eu sei que quer.

Antes que pudesse levá-la para longe desses abutres. Um deles resolve se manifestar. Não sei o seu nome e não quero saber.

— Parece que a vadia da relação é ele!

— Somos duas! — Pisco, com um sorriso de canto. Também posso pisar na masculinidade frágil de alguns deles.

— Seu… — Um dos seus amigos tento segurá-lo.

( … )

No refeitório sento junto dos caras, Aurora compro um café puro e foi para a biblioteca. Os três na mesa estão de rosa também. Marcos principalmente, vestido dos pés a cabeça. Até uma bandana e um boné.

Ele parece feliz como se fosse um daqueles dias que as pessoas dão presente sem motivo, e chamam de aniversário.

— Você precisa de uma blusa rosa melhor, Enzo!

— Tá bom.

Ele pára de comer o bolo, confuso:
— O que você quer?

— Preciso que me ajude com uma coisa. — Vou direto ao ponto.

— Quem é dessa vez?

Vincenty aponto para frente:
— Alguma daquelas garotas?

Nós não namoramos por motivos pessoais. Não é por motivos fúteis, como: um fã-clube, pegar e não se apegar, ser um cara lixo. Tanto que nossa vida pessoal é responsabilidade nossa. A novidade do meu relacionamento, não surpreendeu nem um deles.

— Você só trás mais problemas! — O ruivo nega em desapontamento.

— ENZO! — Reviro os olhos com meu nome sendo chamado pelas três garotas ao mesmo tempo.

— Vestido vermelho, só para destoar com meu look! — Marcos tem esse apego na moda.

Elas falam em sincronia como se tivessem ensaiado:
— Você não pode namorar!

— Isso não é da conta de vocês. Fiquem fora da minha vida. E mais longe ainda da Disney! — Digo com firmeza.

— Mas…

— Nem se a própria Taylor Swift me pedisse! — Solto uma risada nasalada.

~ * ~

PS: Obrigada por acompanhar a história. E desculpe pelos erros ortográficos. Tento corrigir o máximo que posso.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora