30: Seus olhos.

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Aurora

Enzo joga o papel com telefone para o amigo:
— Pra você. Do garçom ali.

— Opa — Estica o pescoço um pouco olhando para o garoto servindo as mesas. — É bem gatinho…

— E a Lola? — Estreito as sobrancelhas.

— Não é nada sério. Ela só está me usando mesmo. — Dá de ombros.

Concordo. Já estou cheia, comi o hambúrguer quase todo, mas tem muita coisa nele. Não aguento mais. A Teresa teria comido dois desses.

— Vou levar um hambúrguer para a Teresa também. — Aviso. Brincando com o guardanapo, dobro tentando fazer um pássaro.

— Tá bom. — Enzo apoia a cabeça em cima da minha.

Marcos fica olhando a gente.

— Sabe uma coisa engraçada. O Enzo chama quem ele não gosta de “amigo”. E lembra quando ele acendeu um cigarro vermelho pra você?

Lembro. Foi a coisa mais maluca que já aconteceu comigo, não sabia nem o que fazer. Pisco. Dando atenção às coisas confusas que o Marcos fala.

— Sim, o que tem?

— Ele estava te protegendo. De todo mundo. Porque não tem uma alma viva na faculdade que não saiba que o Enzo nunca fico com ninguém. Para aquelas garotas isso era um desequilíbrio na vida social delas, mas a verdade é que era só inveja. Para os garotos não importava, eles só…

— Já chega, Marcos!

— É verdade?

Enzo concorda, se afastando e bagunçando os cabelos. Agora faz sentido, pelo menos um pouco. Não sabia que ele significava tanto, é quase como uma celebridade.

— Quando disse que você me pertencia, foi um aviso para todo mundo. Se mexerem com você, estariam mexendo comigo. E ninguém quer briga com o nosso grupo.

— Mas destruíram meu carro. Me ameaçaram. E vai saber se o incêndio não foi proposital. Só estou dizendo que talvez nem todos pensem assim.

Os dois se olham. Marcos puxa o meu hambúrguer inacabado, com um sorriso despreocupado:
— Não precisa se preocupar com isso. No fim vão todos se arrepender. Garotos maus tem sempre uma carta na manga.

( … )

Estou bem melhor. Tento não pensar demais. Puxo o meu namorado gostoso para o estacionamento. Se estivéssemos de carro aqui seria um lugar perfeito para testar o estofamento dos bancos.

Ele se escora na moto e me puxa para um abraço onde só os seus braços estão em volta de mim.

Quebra o silêncio da noite fria:
— Sabe qual a minha cor favorita?

— Preto.

— Não. A cor dos seus olhos.

Levanto a cabeça para olhar para ele. Franzindo a testa. Enzo não é exatamente romântico, ele só fala o que pensa.

— Meus olhos não tem nada demais.

— Contra a luz ficam esverdeados. De longe parece castanho. De perto uma mistura dos dois.

— Não sabia. — Penso em algo para falar também. — Sabe, meu nome não era Aurora. Era Maria. Mas a minha mãe mudo quando me adoto, eu tinha 6 anos, ela disse que eu parecia uma princesa.

— Pra mim você é a Disney. — Diz baixinho como um segredo.

Sorri de canto aproveitando o calor dos seus braços. Fecho os olhos me focando apenas nele.

— Você ainda é minha.

— Sou?

— É! — Me aperta. Sorri contra seu peito.

Me solta. Levanta os cavaletes debaixo da moto usando o pé. Dá umas palmadinhas no banco.

— Vem na frente.

Me puxa. Me ajudando a subir na moto antes dele. Enzo segura, porque meus pés não alcançam nem a marcha que dirá o chão. Me inclino com medo de cair. Ele sobe atrás, usa os pés apoiando a lataria parada, suas mãos sobem a saía do meu vestido. Ele aperta minhas coxas. Seguro firme no guidão.

— Enzo!

Inclino o pescoço para lhe dar acesso. Ele beija o lugar. Arfo. O estacionando é mal iluminado, ninguém veria a gente de longe. Mas poderíamos ser facilmente assaltados.

— Pra onde você quer ir, amor?

— Pra casa.

— Tem certeza? Não vou deixar você sair do quarto tão cedo. — Seus dentes puxam a pele e suga, provavelmente deixando um chupão.

Meu celular começa a tocar de repente. Pego o aparelho na minha bolsa. Seu corpo preciosa o meu quando ele apoia as mãos no tanque da moto. Ainda beijando meu pescoço.

Aceito a ligação. O número não é conhecido.

“Alô.”

“Oi. Você pode vir aqui?”

É a voz da Lola. Ela está chorando.

( … )

— Não precisa me esperar. Vou ver se ela está bem e…

— Vou ficar aqui.

Concordo. Deixo minha bolsa em volta do seu pescoço, e entrego a sacola com o hambúrguer da Teresa também. Ele não me deixa devolver a jaqueta, vou usando ela mesmo.

Toco a campainha.

O Enzo surge do meu lado de repente. Sigo quando uma empregada atende a porta e ela pede para segui-la. Ele vem atrás, deixo-o sentado no sofá esperando.

Acaricio seu cabelo antes de ir:
— Eu volto já, já.

A empregada me leva até a última porta do segundo andar. Abro a porta e o quarto com cheiro de perfume caro em tons de salmão não me surpreende. Lola está sentada em um canto de cabeça baixa. Vou até ela e me agacho na sua frente.

Levanta o rosto. Um lado está vermelho e seus olhos inchados de chorar:
— Quem te bateu?

— A namorada do papai. — Se encolhe. — Não sabia para quem ligar. O Marcos não está atendendo. Desculpe. Só fica um pouco comigo.

— Tudo bem. Que tal se eu te ajudar a tomar um banho, está com cheiro forte de bebida.

— Ela também jogo bebida em mim. Só porque o papai não está aqui. — Sinto pena dela. Mas ela vai superar.

Ajudo a garota a levantar. Ela toma banho praticamente sozinha quando lhe ajudo a entrar no box. Quando noto estou pondo ela na cama.

— É como cuidar de uma irmã mais nova.

— Obrigada… — Fecha os olhos pegando no sono. Não sei direito o que aconteceu, espero ter ajudado.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora