08: A floresta sombria!

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Enzo

Nessas histórias para crianças que os pais contam tem sempre uma floresta sombria e assustadora, eu acho, meus pais nunca leram histórias para mim mesmo. Mas aqui, onde a vida não é um conto, a floresta não é o problema, é o que tem nela. Olhei o hora a cada meio minuto. Ela está atrasada. O estacionamento da faculdade tem uma neblina e o ar está frio. Observo uma figura pequena se aproximando. Desencosto da moto do mesmo instante.

Ponho as mãos nos bolsos, mordendo o lábio em expectativa.

— Enzo?

Aqui

— Aqui onde?

Reviro os olhos. Liguei a moto para acender o farol. Tem um poste na entrada que a luz acende e apaga toda hora, a mesma coisa de nada. Disney vem praticamente correndo, acho que lugares isolados com pouca iluminação lhe dão medo.

Fixei meus olhos na sua roupa, short curto, tênis, blusa pequena, e um moletom com zíper aberto. Suas mãos estão nos bolsos do moletom.

Puxei o cós do seu short, lhe trazendo para perto:
— Por que demorou tanto?

— Eu, eu não estava pensando em não vir…

— Disney, sei que você não queria estar aqui, e agradeço por cooperar mesmo sem entender nada. Você lembra do que me prometeu?

— Não entendo mesmo!

— Apenas não saia do meu lado, e não importa o que eu diga, mesmo que eu mande você ir embora. Não saia.

( … )

Acelerei para recuperar o tempo pelo atraso dela. Suas mãos seguram a minha camisa com força, sua teimosa é divertida, ela acha que eu não percebo quando tenta me evitar. Mas para ser sincero não gosto quando a Disney me afasta.

Gosto quando ela chora por mim. Gosto do seu revirar de olhos. Gosto de quando me ameaça.

Para ser honesto não sei líder com o seu ódio.

Tomei a frente de um carro, acelerando mais. A pista tem poucos veículos, mas os velhos costumam manter a velocidade em 30 km por hora. A placa diz 60. Me inclinei para acelerar mais quando saímos da pista para uma estrada de terra.

A floresta tem árvores altas e que ficam amontoadas, elas dão a impressão que o lugar é mais sombrio do que parece. Como o começo de um filme de terror, onde um casal vai para a floresta, tem uma cabana e os dois morrem.

— Enzo, se você derrubar a gente, eu te mato! — Olha a reviravolta do filme, a mocinha era a assassina.

— Que fofa, um doce de pessoa!

— Ou talvez eu mude de ideia…

Franzi a testa, o tom raivoso da sua voz faz parecer que sua fala tem um sentido negativo. Logo à frente estava a entrada do terreno abandonado.

No canto direito como sempre tem um som, vou na direção oposta estacionado a moto. Antes que a Disney tentasse descer segurei suas coxas.

— Espera! — Tirei o meu capacete primeiro. — Tira o capacete antes de descer.

Para a minha surpresa ela tiro e me entrego. Lhe ajudei a descer com o apoio do braço esquerdo, a altura pode ser um problema para a coisinha pequena. Sua expressão é séria e ela está calada.

Suspiro.

Coloquei os capacetes no guidão da moto. Tirei a chave e passei a perna descendo. Entreguei a chave para ela, puxei sua cintura com suavidade para que fossemos para frente.

Andamos até os meus amigos.

— Você vai correr. A sua moto é uma CB 1000R, não tem como você não correr. — Aurora se coloco na minha frente de repente, os olhos soltando faíscas, ela nem pisca. — Me fala, como eu não vou sair de perto de você?

Sorri de canto.

— Não vou correr, você vai!

Foi arrogante da minha parte presumir que ela iria, e mais presunçoso ainda por achar que ela sabe andar de moto.

— Eu? — Disney aponta para si mesma com incredulidade. Moda de atitude me puxando pela gola da camisa. — Enzo, fala que essa droga é mentira. Tenho cara de quem sabe correr de moto?

Sua boca está tão perto que quase esqueço que estou sendo ameaçado.

— Você pendeu a porra do juízo? Quer saber? Eu vou embora… — Me solta passando por mim e tentando ir embora.

Segurei sua cintura:
— Não…

— Não? Estou praticamente gritando e tudo que você faz é sorrir, nem ao menos me leva a sério! — Abracei ela por trás para lhe manter no lugar.

— Não estou sorrindo… — Nem notei, mas eu estava mesmo. — Disney, não precisa ficar com medo, vai dar tudo certo!

Virei seu corpo. Voltamos a andar, ela mais calada do que nunca. Não posso simplesmente falar, a Aurora parece saber para que direção estamos seguindo. É um péssimo lugar para um encontro, tem drogas, bebidas e apostas. A Disney segura a minha camisa enquanto anda do meu lado, mesmo sem querer, ela está tentando confiar em mim.

Seu cabelo grande e ondulado está solto, o cheiro do seu shampoo chega até mim quase que de propósito.

O carro do Marcos tem o capô mais alto. Fechei o zíper do seu moletom com o ar frio antes de segurar firme os lados do seu quadril e colocá-la sentada nele. Seus olhos estão irritados, ela me encara segurando minha camisa.

— Eu sei! — Suspirei. Fiquei entre suas pernas, o braço em volta da sua cintura.

Marcos apareceu no meu campo de visão:
— Ela veio? Fala aí, quantos tapas foram? Eu apostei 3 e o Vincenty 5!

— Nem um, ainda! — Sua voz ressentida responde baixo.

— Recebi ameaças, uma de morte! — Meu sorriso aparece de forma espontânea.

Um tapa certeiro na minha nuca me fez tombar a cabeça. Estreitei as pálpebras.

— Para de sorrir.

Antonela aparece pela frente, ela é a prima do Ruan:
— Ei, garotinha, tá acham que é quem pra bater no Enzo?

— Alguém que tem duas mãos. E se eu bato nele ou não, não é da sua conta! — A Disney fica tão bonita com ciúmes. Ela acaricia o lugar que atingiu como se tivesse se sentido culpada, sua violência é em último caso quando não pode mais fazer nada ou está brava.

Antonela normalmente não se mete, mas ela gosta de uma briga:
— Que infantil. Quantos anos você tem, 13?

— Tem razão. Menores não podem estar aqui. Foi mal gente, tenho que estar em casa antes das 9. É uma pena! — Seu sarcasmo é maior do que a minha arrogância.

— Disney! — Encarei seu rosto.

— Foi só uma piada, fala sério — reviro os olhos.

— Que piada? — Vincenty surge diretamente de Nárnia.

Tenho 13 anos!

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora