11:Eu beijei um demônio, agora eu sei!

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Aurora

O interrogatório da minha única amiga/colega de quarto, é a única coisa normal que me aconteceu. No dia seguinte pela manhã é feriado, para a minha alegria. Mas como alegria de pobre dura pouco, tenho que ir ao supermercado e à farmácia.

— Como foi? Você bebeu? Deram uns amassos? Fico bêbada? Tinham bebida? Quem ganho a primeira corrida? Suas mãos estavam sujas de crachá, o que aconteceu? Me conta tudo!

Arrumei minha cama. Mal consigo acompanhar a linha de raciocínio. Bocejei. 8hs da manhã e a cama ainda parece me chamar. Consegui dormir a noite toda, pelo menos.

— Foi normal…

— O que? Normal?

— É, eu acho, o Enzo e os amigos são uns idiotas. As pessoas lá são mal educadas, te ofendem e falam com você mesmo sem te conhecer! — Resmunguei arrumando o travesseiro.

— Te ofenderam? Volta a fita.

Expliquei tudo que aconteceu enquanto me arrumo. Prendo o cabelo depois que troco de roupa, procuro meu chinelo debaixo da cama.

— Nossa, no final eles te defenderem?

— Não entendi nada também. — Calço meu chinelo roxo com estampa de folha. Paro no caminho antes de chegar ao banheiro. — Vou sair, passar no supermercado e na farmácia. Posso pegar o seu carro?

— Pode, compra um remédio de cólica pra mim.

— Tá bom.

( … )

No supermercado comprei o básico, creme de cabelo, shampoo, sabonete, pasta de dente, alguns biscoitos, macarrão instantâneo e molho. Paguei e fui embora, meu carro está na mesma, por isso paguei o da Tereza.

Estacionei perto da praça. Passei por uma loja com materiais escolares, tinha uma sessão com coisas na promoção, entrei pelo preço na vitrine. Acabei comparando um caderno de capa dura vermelho, vem com uma cartela de adesivo do ABC completo para poder colocar um título na capa.

A farmácia tem cheiro de pomada, não sei se é impressão minha. Comprei os meus remédios rápido, pronta para ir.

Não esperava encontrar ninguém da faculdade aqui. Um grupo pequeno, elas sempre estão em grupos. Ignorar é o que eu sempre faço, até porque eu sou muito importante para elas, nada é melhor do que atormentar a garota que está com o Enzo Correia.

Fiquei de costas esperando elas irem embora. Senti um líquido escorrer pelo meu cabelo, molhando meu rosto e pingando no chão. É café.

— Não se contentou com o Enzo, você precisava roubar o namorado dos outros?

Me virei.

— Eu não fiz isso…

O ensino médio já foi ruim o suficiente. Achei que a faculdade seria diferente, mas percebi que o problema não é o lugar, são as pessoas.

— Mentirosa!

— Ele disse pra gente que estava terminando porque a garota que está com o Enzo é mais bonita, e quando ele jogar ela fora, pode ter mais chances estando solteiro. — Sua amiga me acuso como se eu fosse a culpada.

A outra amiga desdenhou:
— Você deve ter se oferecido pra ele, já que fazem o mesmo curso!

Que tipo de pessoa chega acusando os outros do nada? De onde eu venho, isso é falta de senso comum.

— EU NÃO FIZ ISSO! — Gritei tremendo de raiva. Não me importava que estivessem olhando para nós. — Vocês são horríveis, sempre procurando alguém para colocar a culpa dos seus problemas. Eu não terminei o seu relacionamento, eu não me joguei para o seu namorado e eu nunca faria com você o que está fazendo comigo!

Sai correndo empurrando elas para passar. Estou ressentida por não ter feito nada, talvez revidado, afinal ela jogou café na minha cabeça. Mas agora eu sei, eu beijei um demônio. Não tinha pessoa pior e nem posso culpá-lo.

Atravessei a rua, alguém buzinou pra mim já que o sinal está vermelho. Abri a porta do carro, entrei jogando as sacolas do banco do passageiro. Apertei o volante para me acalmar.

Me lembrei do caderno. Peguei ele e a cartela de adesivo:
— Alguém para culpar, não posso culpar ninguém, mas posso ficar com raiva!

Não há mais nada que eu possa fazer. Não tem como mudar o modo que me olham. Se é assim, vou pelo menos escrever no caderno o que me der na telha.

— Os garotos legais não existem. Estão mais para garotos cruéis!

É isso. As letras são pretas e tem linhas brancas ao redor. Colei um de cada vez, formando duas palavras: "garotos cruéis". As coisas começaram com eles. Pego uma caneta no porta luvas.

Aurora: Uma coisa, algo que pode ser comprado, jogado fora, para brincar com os sentidos, para machucar.

Enzo: O maior idiota do mundo. Narcisista. Mandão. Controlador. Irritante.

Ruan: Um babaca.

Vincenty: O cara com deficiência de atenção!

Marcos: O menos pior.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora