25: Praticamente uma coleira.

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Enzo

Pode me chamar de lunático, possessivo, obcecado, do que você quiser. Só não pode dizer que sou infiel. No meu grupo de amigos cada um faz o que bem entende, mas todo mundo se ajuda quando precisa. Vincenty não presta atenção no que ele não acha importante, de todos ele é o mais bruto. Marcos é o infantil e mais novo. Já o Ruan é o manipulador, sério, e ninguém intendente ele.

Espero no estacionamento como um bom namorado faria. Não sei muito sobre relacionamentos, mas de acordo com os três: Garotas gostam de serem tratadas como jóias.

— Tô te falando, as minas piram quando você abraça e fingi que se importa! — Marcos sempre dá o mesmo conselho. Ele assopra a fumaça do cigarro pra cima.

— Apaga essa porra, antes que a Disney apareça. — Aponto para o cigarro entre seus dedos.

— Mas faz muito tempo que eu não dou um tapinha…

— Vou te mostrar o tapinha! — Me afasto da moto fazendo mansão de ir na direção dele.

O covarde se esconde atrás do Ruan:
— O Enzo fica bipolar do nada, e todo agressivo com a gente, mas quando a Aurora aparece ele muda.

— Joga o cigarro fora, não sabe que a garota tem asma? Ou vai pra longe. — O ruivo resmunga sem querer se meter muito.

Marcos joga no chão e pisa. Mas não está com a cara feia que achei que estaria.

— Como tá indo o trabalho novo? — Marcos pergunta pro Vincenty, mudando de assunto, o loiro está deitado no capô do próprio carro. O sol nem aparece, e ele ainda está de óculos escuro.

— Uma droga, meu pai quer que eu assuma a empresa e aprenda a cortar carne. Porque o meu avô era açougueiro e se um não der certo, o outro vai.

— E você não quer nem um! — Concluo.

A parte ruim de ser rico e ter que fazer mais dinheiro, ninguém é rico, apenas tendo dinheiro e não gastando. Mas se você tem mais do que pode gastar, então você é como eu.

— Coitado do garoto rico… — Marcos para de zombar se aproximando de mim. Ele puxa o meu cordão de prata da blusa. — É sério isso?

Eu uso um cordão com o nome dela, tem até uma coroa no primeiro A.

— Ela usa um anel, achei que deveria usar um colar.

— Cara, isso é praticamente uma coleira!

Vicenty levanta o troco abaixando o óculos para ver também:
— O que ela fez com você amigo?

Reviro os olhos.

— É por isso que a gente não namora! — Marcos resmunga.

— Vão ver se eu tô na esquina!

( … )

Levo ela para a entrevista de moto. Está nervosa e segura minha mão o tempo todo. Guio ela para o enorme portão. O mecânico abri um sorriso assim que me vê, é um pouco cínico, mas é uma boa pessoa.

— Enzo, achei que não vinha mais. — Ele limpa as mãos em um pano velho.

— Mas eu vim. — O homem suspira negando. — Essa aqui é a Aurora, a…

A garota tampa minha boca com a mão livre:
— Não quero favoritismo. Depois você fala.

Olho no fundo das suas íris esverdeadas. Sei que é uma questão sua, e sei que tenho que ficar na minha. Mas estou chateado. E ela ainda se afasta.

— Me chamo Bello, minha filha é aquela da foto. — Fala todo orgulho. — Tem 1 ano, e vai fazer 2. Já sabe até falar papai…

— Já deu pra entender. Você ama sua filha. E aí, a gente veio pelo emprego.

O senhor suspira de novo. Ele faz um gesto como se eu tivesse razão. Se vira e vai até uma sala, volta com um papel.

— Estou aceitando gente para um período de experiência. Você e outro rapaz vão estagiar por um tempo. Vou pagar, é claro. — Bello fala diretamente com a Disney. — Se tiver interesse, pode assinar aqui. E começa na próxima semana.

Ela olha pra mim primeiro com um sorriso, faço que “sim” com a cabeça. Assina e aperta a mão dele.

— Muito obrigada, senhor Bello.

— Ela é a minha namorada! — Digo de repente porque estava me incomodando.

— Não diga? Vocês entraram de mãos dadas! — O velho diz rindo. — E eu não gosto de favorecer ninguém.

— Viu? O velho não é tão ruim. — Puxo ela pela cintura.

— Que velho?

Ela já tinha assinado mesmo. Aceno com um sorriso pronto para ir embora. O homem suspiro pela terceira vez.

( ... )

Mal ponho o pé em casa e já recebo mensagem do Ruan. Ele me lembrando que temos trabalho a noite. Só tenho um trabalho, que não é muito convencional e a maioria das pessoas não gostam.

Fiz comida caseira e passamos a tarde assistindo filmes. Deixei o ar-condicionado ligado e fechei as janelas. Aurora pediu para assistirmos “Minha mãe é uma peça”, então fiz ela assistir “De volta para o futuro” comigo.

Perdemos a noção do tempo. Olho no relógio. Estou atrasado.

— Tenho que ir.

— Pra onde?

— Para o trabalho.

— Que trabalho? Desde quando você trabalha? — Falo como se eu fosse um vagabundo.

— Lembra dos rachas de moto? Meu trabalho é movimentar as apostas e às vezes perder de propósito.

Ela fez uma careta cruzando os braços:
— Isso é ilegal.

— Estou atrasado — Levanto, não sem antes lhe dar um selinho.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora