Garotos cruéis! - Livro 01

04: Disney?

Enzo

Ela claramente não gosta de mim. E eu como o garoto mal intencionado que faz qualquer coisa para ter o que quer, sou a fonte do seu ódio. Mas a Disney me beijou primeiro, ela veio até mim, ela me pediu.

Revirei os olhos. Eu só queria que a princesa parasse de lutar por um final feliz, e aceitasse que o lugar dela é ao lado do vilão.

Encarar a sua boca e viajo naquela sensação, só consigo pensar nisso. Estou praticamente obcecado nessa coisa pequena. Não, você não é assim Enzo, volta para realidade.

— Tenho que ir para aula — boceja esfregando os olhos com a mão livre. Suas olheiras são escuras e profundas.

— Te vejo depois.

Ela não responde. Apenas se vira e vai até onde tinham deixado sua mochila e livros, observo ela andar até as portas duplas do refeitório indo embora. Vê-la fugir de mim está se tornando rotina. Sento na cadeira de novo.

— Você gosta dela?

Engulo em seco levando os olhos para Ruan. Ele tem um sorriso divertido no rosto. Os cílios são ruivos como o cabelo.

— E se eu dizer "sim"?

— Hahaha, que engraçado, mas irmão, você sabe que a gente não namora e porque! — Vicenty ri sem humor antes de ficar sério. O loiro de farmácia é o mais velho do grupo.

— Então, não, eu não gosto dela! — Meu tom é sério e introvertido.

— Ela beija bem? — Marcos pergunta depois do silêncio. Esfregando os olhos vermelhos, e arrumando o cabelo encaracolado com a outra mão.

— Pra caralho! — Não consigo mentir dessa vez. Não posso dizer que não. Não posso dizer que sim. Isso me deixa louco.

Aceitei essa merda de grupo dos populares. Porque eu queria ser "legal" como eles, mas ser aceito é mais do que parece. Aqui você tem que mostrar o quanto está disposto a ser um deles. Se você não é pisado, então você é a pessoa que pisa nos outros. Seja o primeiro. O mundo é infame, ele não espera.

— O desafio de aceitação é amanhã à noite. As pessoas aqui podem te reconhecer, mas queremos uma pequena prova. — Ruan muda o rumo da conversa, interrompido meus pensamentos.

Faço que sim. Sem me importar.

— Você deveria levar o seu "novo brinquedo"! — Vicenty comenta. Apertei a mão fechando com força.

— Não!

— Vai, por que não?

Engoli em seco. Entendendo o real teste que eles queriam de mim. Queriam saber se eu me importava com ela ao ponto de nunca a levar para um lugar daqueles. Não é um lugar tão ruim. Mas lá também não é um bom lugar.

— Ela vai me dar outro tapa. Pode ser pequena, mas é brava como um pinscher raivoso! — É verdade. Só não é um bom motivo.

Não posso com os argumentos do ruivo, Ruan é praticamente o líder:
— Ah, tenho certeza que você aguenta um tapinha. Então, leve ela, ok?

— Ok…

( … )

Espero impaciente perto do batente da porta. As aulas já acabaram. Várias pessoas já saíram da sala. Ela sai por último, esperando para não ser pisoteada no caminho, eu imagino. Minhas aulas terminaram mais cedo hoje. Seu curso é diferente do meu, então é óbvio que não temos aulas juntos.

Me coloco na sua frente. Lembrando de como ela chego em mim na festa:
— Disney!

— Oi? — Cruzei os braços inclinando o pescoço. Ela me corrige antes de mais nada. — Meu novo é Aurora!

— Eu sei. Não porque você disse, é claro. Mas não deixa de ser uma princesa da Disney! — Zombo.

— Escuta aqui Enzo… — Sua mãozinha levanta apontando um dedo para mim. — Me erra!

A Disney tenta fugir de mim de novo. Sua tentativa fracassada me diverti. Com um passo para o lado, seu corpo bate em mim como se eu fosse uma parede.

— Vou te acompanhar até uma lanchonete. A gente pode almoçar junto... — sou interrompido.

— Isso é um convite? Você vai pagar? — Ela está genuinamente cogitando aceitar.

— Sim… — Pondero.

— Tá bom. Mas vamos para o meu dormitório. Vou pedir delivery, você paga, não pode voltar atrás. — Sigo seu corpo que passa por mim e anda a passos curtos. — Estou delirando de febre, só pode. Deve ser a única explicação para essa péssima escolha!

Sorri de canto. Quando chegamos às escadas da entrada ela para. Desce devagar se apoiando no corrimão, que para falar a verdade eu nunca tinha notado que existia. Degrau por degrau ela conquisto a terra seca. Foi logo atrás. Logo à frente tinha uma parte com grama e árvores, atravessamos.

Antes da segunda escada que não é tão grande, mas a garota já está com falta de ar.

— São tipo 5 degraus. Além de pobre é sedentária também? — Ela vira o rosto como se eu tivesse xingando o animal de estimação dela.

— Incomodado? Me carrega! — Se volta para frente encarando a escada como se fosse escalar o monte Evereste.

Reviro os olhos. Me aproximo dela lhe tirando do chão em menos de 5 minutos. A Disney dá um gritinho surpresa.

— Estou com pressa, tenho outro compromisso depois! — Deixo claro antes de andar. Chegar até o dormitório foi muito mais rápido assim. Lhe coloco no chão. Ela encara a porta do dormitório antes de abrir. Entra rápido me puxando para dentro. Olha em volta do corredor e suspira aliviada.

Fecha a porta atrás de si e vira pra mim:
— Você disse que tinha um compromisso?