33: Segredo?

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Enzo

A semana de provas passo bem rápido. O professor entrega as provas corrigidas. Ele para perto da minha mesa me olhando com desgosto, depois me entrega a folha. Já estou acostumado, sempre tiro a nota mais alta, e ele não gosta de dar a nota mais alta para ninguém.

Prefiro livros que ensinam, desde criança, como os de receita. Mas ultimamente estou pensando em ler alguns de romance já que a Disney gosta tanto. Vou leva-lá na livraria no final de semana.

Ela disse que iria de ônibus para o estágio, e eu poderia ir busca-lá. No treino da tarde depois do almoço, vou direto para o campo falar com o treinador.

— Oi, como vai o nosso titular?

— Estou saindo do time.

— O que? Por que?

— Odeio grama! — Resmungo.

— Você não pode me abandonar assim. Terminar o nosso relacionamento sem mais nem menos, porque não gosta de, grama?

— Não fala como se eu estivesse terminando com você. Eu tenho namorada, só uma.

Queria fazer isso rápido antes que todo mundo chegasse. O homem à minha frente parece estar a ponto de chorar, ainda tem um time inteiro, eu sou só mais um jogador.

— Você não pode ficar só no primeiro jogo da temporada?

— Não.

— O que tá acontecendo? — O camisa 2 vem até nós. Ele é um baita fofoqueiro.

— Estou saindo — ando de costas acenando.

— Tchau, até amanhã.

Sorri me virando. Não vai ter amanhã, nem depois de amanhã. Estou abandonado eles como eu queria. Mas por que me sinto culpado? Talvez seja pena.

( … )

O homem sentado na cadeira parece mais confortável que o normal. Meu psicólogo é uma pessoa estranha, com mania de arrumar os óculos e se assusta fácil.

Júlio não costuma anotar muita coisa. Ele só conversa comigo. Amarro o cadarço do tênis sem me abaixar, estou no sofá de sempre da sala de sempre.

— Estou namorando há uns meses.

— Me conte sobre ela.

— Ela não é perfeita, é teimosa, é insensível, brava, e bonita. Gosta de ler, mas não tem dinheiro para comprar muitos livros. E não aceita meu dinheiro, deve ser orgulho. Quando ela me ameaça fica muita fofa.

— Entendo! — Júlio me olho como se eu tivesse algum problema.

Não esperava que ele entendesse. Alguém sentimental e altruísta como ele. O homem faz o tipo que se apaixona e é abandonado depois de parecer muito carente.

— Ela te ameaça com que frequência?

— Ultimamente nem tanto. Suas ameaças estão ficando mais sérias, outro dia disse que ficaria sem me beijar por 2 meses. Isso é muito tempo.

O homem pisca surpreso. Ele sorri tentando disfarçar.

— Esperava outra coisa. Ela costuma ser violenta?

Penso a respeito:
— Não. Só briga quando fica brava.

— Vocês discutem?

— Não tem discussão. Ela geralmente está certa. — Enfatizo. — Mas tem uma coisa me incomodando. Eu queria contar uma coisa para ela.

— Então conte.

Nem o homem à minha frente suportaria ouvir a história toda e não passar mal. Ele é humano também. Ficar adiando talvez seja pior.

— E se tudo mudar, e se eu não for mais a mesma pessoa que ela achava que eu fosse? — Indago, brincando com as chaves. — Quem eu sou para você?

— Um paciente.

Nego. Não é isso que eu queria ouvir. É claro que sou um paciente, mas antes disso sou uma pessoa, eu tenho um nome. Ele não tem uma bola de cristal, não pode adivinhar.

( … )

Chego na hora marcada para pega-la no estágio. Ela está embaixo de um carro. Me escoro na parede, esperando. Aurora usa a superfície com rodinhas que lembra um skate para sair. Ela limpa as mãos em um pano e abre um sorriso quando me vê.

— Ei, estagiária! — Um cara aparece vindo da sala do Bello. — Já termino?

— O que você acha? Tem certeza que sabe como consertar alguma coisa? Já que eu tive que consertar o seu concerto!

— É claro que eu sei. Me admira uma mulher saber.

Ela revira os olhos. Se levanta e vem na minha direção. Passo um braço pelo seu ombro.

— Vamos? Vou fazer empanado pro jantar. — Me abaixo roubando um selinho.

— Sim. Faz panqueca com bastante molho também. — Pede com os olhos brilhando. Concordo.

Mostro o dedo do meio para o idiota quando andamos para saida. Odeio gente assim, gosto de cozinhar desde sempre, mas sempre ouvi que não é certo homem fazer comida. Meu ambiente familiar sempre foi cheio disso, um lugar que eu não gostava de estar.

Ponho o capacete nela e lhe ajudo a fechar.

— Cadê o seu?

— Emprestei para o Vincenty.

— Não é melhor você usar então, vi no jornal uma vez que a maioria dos acidentes são fatais para quem dirige. — seguro suas mãos lhe impedindo de tirar. O apartamento não é longe.

— Mas você é mais baixa.

— Esse é o seu argumento? A minha altura? — Fecho o visor do capacete sem aceitar mais questionamentos que não tem sentido.

~ * ~

PS: Vocês não estão preparados para os próximos capítulos, eu não estou prepada, ninguém está. Lembrando que o livro é curto.

Garotos cruéis! - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora