Garotos cruéis! - Livro 01

34: Quem eu sou?

(TEMA SENSÍVEL: lembrando para quem não leu o aviso, ESSE LIVRO NÃO TEM ABUSO SEXUAL. O livro tem temas sérios, mas é leve).

Aurora

Abraço ele por trás enquanto mexe na comida. Ponho a mão dentro da sua camisa preta, acariciando seu abdômen. Desde a mão para dentro da sua calça.

— Aurora! — Protesta. — Estou fazendo a comida…

Se vira com as bochechas vermelhas. Que lindo. Muito fofo. Aperto sua bochecha. A Tereza ainda não chegou, estamos sozinhos.

— Desculpe, bebê. — Me afasto deixando ele fazer a comida. Pego seu óculos na bancada. — Enzo?

Ele vira o rosto. Ponho os óculos nele. O garoto me olha confuso. Vou para o outro lado da bancada. Minha barriga ronca. O estagiário que trabalha comigo não fez quase nada e o Bello ainda teve que dar uma saída.

Observo ele, seus ombros são largos. Caras altos fazem meu tipo por algum motivo que não sei explicar, pergo o fôlego sempre qeu ele ponhe as mãos na minha cintura. Enzo está longe de ser perfeito, ele também é chato e sincero demais. Mas ele está sempre aqui, ele é a minha casa, o lugar que eu volto no final do dia.

Ajudo ele a arrumar a mesa quando a comida está pronta. Ponho os pratos e as colheres. Enzo é o único que usa garfo e faca.

— Aurora. Eu… — Me viro para ele. Não costumo ouvir muito o meu nome da sua boca. — Queria te mostrar uma coisa.

Enzo mexe nas mãos, nervoso. Concordo sem dizer nada. Ele tira o avental de coelhinho e deixa na bancada, os óculos também. Pega minha mão e me leva para o quarto. Lhe sigo sem questionar.

Abre a porta. Me deixa de um lado da cama e senta do outro lado virado de costas para mim:
— Não queria que as coisas mudassem. Não queria que me olhasse diferente. Não queria que fosse assim.

Dou um passo para frente.

— Está tudo bem, não importa o que seja…

Ele tiro a camisa me mostrando suas costas pela primeira vez. Arregalo os olhos, chocada, horrorizada, sem palavras. Ele sempre diz "Seja o primeiro". Eu nunca entendi, até entender. Até ver com os meus próprios olhos.

— O que é isso? — Pergunto sem acreditar.

— Eu não fui o primeiro.

Meus olhos transbordam de uma vez. Choro compulsivamente como uma criança. Ando até ele, fico na sua frente tentando limpar as lágrimas com os torços das mãos. Não consigo parar de chorar. Meu peito dói. Meu corpo tremi.

— Por que alguém faria isso com outra pessoa? Por que alguém faria isso com você?

Tento engolir o choro. Tento ser forte por ele. Tento, mas não consigo. Isso é demais. É a maior atrocidade que eu já vi, e por alguma razão tenho certeza que não foi ele quem fez isso com sigo mesmo.

— É o que as pessoas fazem, elas são assim. “Você não pode quebrar uma pessoa, e achar que está tudo bem porque deu comida e um teto”. Foi o que a minha primeira psicóloga disse para minha mãe.

As suas costas. Fecho os olhos com força. Fungo. Engulo em seco. Quero ouvir tudo, cada palavra. Toda a história.

— Eu sinto muito, sinto muito, sinto muito — digo sem parar, ainda chorando.

São enormes, cicatrizes enormes e pequenas também, queimaduras por cima de cicatrizes e cicatriz por cima de queimaduras. Quem faria uma atrocidades dessas? Fico de joelhos, apoio a cabeça no seu colo tentando parar de chorar.