A noite havia chegado à mansão italiana, envolta em uma atmosfera de luxo decadente. As luzes suavemente douradas iluminavam os corredores, lançando sombras alongadas nas paredes ornamentadas. O Senhor Demônio, com seus passos firmes e decididos, saía do escritório, deixando para trás um rastro de poder e autoridade. Enquanto se dirigia para as escadas, uma de suas empregadas apareceu, cumprimentando-o respeitosamente.
— Senhor, precisa de algo mais para esta noite? — Perguntou a empregada, sua voz suave e servil.
— Não, estou bem. Obrigado. — Respondeu o Senhor Demônio com um aceno breve, continuando seu caminho.
Ao se aproximar do topo da escada, ele avistou sua mãe, uma figura delicada e frágil, abrindo a porta do quarto onde seu pai estava enfermo. O semblante dela estava marcado pela preocupação e pelo cansaço. Ao vê-la, o Senhor Demônio sentiu uma pontada de algo que poderia ser descrito como remorso, mas rapidamente a afastou.
— Mamma. — Ele chamou, suavizando um pouco a expressão severa enquanto se aproximava para beijar-lhe a bochecha.
Ela retribuiu o gesto com um sorriso triste, seus olhos brilhando com uma tristeza profunda.
— Faz dias que você não vem vê-lo. Sabe o quanto você é importante para ele. — Disse ela, a voz embargada pela emoção.
O Senhor Demônio respirou fundo, sentindo o peso das palavras de sua mãe. Ele olhou para a porta do quarto, onde seu pai, Marfim Caccini, estava deitado, frágil e à beira da morte. Uma mistura de sentimentos conflitantes o invadiu, mas ele manteve a expressão imperturbável.
— Com todo respeito, mãe, você sabe que ele nunca me amou. Sempre me odiou. Você sabe disso. — Respondeu ele, a voz firme, mas com um leve tremor que só sua mãe poderia perceber.
Ela suspirou, seus olhos cheios de mágoa e resignação.
— Ele tem suas falhas, é verdade. Mas você é seu filho, seu sangue. E no fundo, ele sempre desejou o melhor para você, mesmo que não soubesse demonstrar isso.
O Senhor Demônio desviou o olhar, sentindo o peso das palavras de sua mãe como uma lâmina cortante. Ele lembrava-se das muitas vezes em que tentara, em vão, ganhar a aprovação de seu pai. Cada tentativa fora recebida com desprezo ou indiferença, moldando-o no homem frio e calculista que era hoje.
— Não tenho certeza se ainda acredito nisso, mãe. — Ele murmurou, quase para si mesmo.
Ela estendeu a mão e tocou o braço dele, um gesto de ternura que ele não podia ignorar.
— Por favor, filho. Ele está nos seus últimos dias. Talvez haja algo que ainda possa ser dito, algo que possa ser remendado. Não deixe o tempo passar sem tentar, pelo menos uma última vez.
O Senhor Demônio olhou novamente para a porta do quarto, sentindo uma batalha interna entre o orgulho ferido e um resquício de desejo por redenção. Ele sabia que a relação com seu pai era uma ferida aberta que nunca cicatrizara, uma sombra que pairava sobre ele, influenciando cada decisão, cada passo.
— Vou pensar sobre isso. — Disse ele finalmente, sua voz baixa, quase um sussurro.
Sua mãe assentiu, apertando seu braço em um gesto de compreensão antes de entrar no quarto, deixando-o sozinho no corredor silencioso. O Senhor Demônio ficou ali por um momento, perdido em pensamentos, antes de se virar e continuar seu caminho, à mente um turbilhão de emoções conflitantes.
A tensão familiar, a dor não resolvida e a iminente morte de seu pai criavam um clima de tristeza e angústia que impregnava a mansão. O Senhor Demônio sabia que os dias à frente seriam decisivos não apenas para ele, mas para todo o legado dos Caccini. E, talvez, para a primeira vez em muito tempo, ele se perguntou se estava realmente preparado para enfrentar tudo isso.
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Senhor Demônio
RomanceSinopse No mundo implacável das grandes máfias, o jovem e ambicioso Senhor Demônio se vê diante de uma perigosa encruzilhada. Com a saúde de seu pai deteriorando rapidamente devido ao câncer, ele deve assumir o comando da máfia italiana. Em meio a e...