Capítulo 23 - Pai e Filho

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O Senhor Demônio passa as mãos nos olhos, abre a boca em um bocejo cansado e se levanta da cardeira do seu escritório. Decidido a ir para o seu quarto, ele sobe as escadas lentamente, seus passos ecoando pelo corredor silencioso. Ao passar pela grande janela de vidro, ele olha para fora e vê alguns de seus homens patrulhando os terrenos da mansão. A visão de sua segurança reforçada lhe dá um breve momento de consolo, mas sua mente logo volta a se encher de pensamentos perturbadores.

Quando chega ao topo da escada, ele para em frente à porta do quarto onde seu pai estava. Hesitando por um momento, ele respira fundo e decide entrar. Bate suavemente na porta, que é aberta por uma enfermeira contratada. Ela leva um pequeno susto ao vê-lo e o cumprimenta rapidamente.

— Onde está minha mãe? — pergunta o Senhor Demônio, sua voz baixa mas firme.

A enfermeira, envergonhada, responde:

— Ela saiu para o seu quarto, senhor. Estava bastante cansada.

— Saia por alguns minutos. Quero ver o meu pai. — Ele ordena, e a enfermeira, obediente, responde:

— Sim, senhor. Qualquer coisa, me chame. Estarei aqui fora.

Respirando fundo, o Senhor Demônio entra no quarto. O ambiente estava escuro e sombrio, apenas um fraco raio de luz entrando pela cortina entreaberta. Ele se dirige até a janela, tentando reunir coragem para enfrentar seu pai.

Marfim, deitado na cama, fala com uma voz rouca e fraca:

— Até que enfim você resolveu vir me ver. Veio me matar?

O Senhor Demônio se vira lentamente, seus olhos fixos na figura debilitada de seu pai.

— Talvez sim. Ainda não está na hora desse acontecimento. Só quero lhe perguntar algo.

Marfim tosse antes de responder, a tosse soando como pedras sendo trituradas.

— Me diga. Direi o que for necessário.

Aproximando-se da cama, o Senhor Demônio pergunta:

— Como posso trazer seus aliados para o meu lado?

Marfim, com um sorriso fraco, responde:

— Você não precisa me perguntar isso. Eles irão lhe servir. Eles sabem o quanto você é competente, pois fui eu que lhe tornei desse jeito.

O Senhor Demônio olha fixamente para ele, sua expressão endurecendo.

— Você sabe o quanto eu quero lhe matar, não sabe?

Marfim tosse novamente, seu sorriso se alargando.

— Você sempre disse isso para mim enquanto eu lhe ensinava a ser homem. Agora estou esperando você realmente se tornar um.

Tomado pela raiva, o Senhor Demônio se vira e começa a andar em direção à porta.

— Você se tornou um demônio e eu tenho orgulho disso. — Marfim diz, sua voz cheia de um orgulho distorcido. — Não se controle. Mate, devore os corpos dos seus inimigos. Estarei lhe esperando para você me mostrar que realmente se tornou o demônio que eu criei.

O Senhor Demônio sai do quarto, batendo a porta com força. A enfermeira que estava do lado de fora se assusta com o barulho. Enquanto ele caminha em direção ao seu próprio quarto, ela o chama, sua voz trêmula.

— Aconteceu algo, senhor? Precisa de algo a mais?

Ele se aproxima dela, pressionando-a contra a parede, seu rosto a poucos centímetros do dela. A enfermeira, assustada, tenta controlar sua respiração ofegante.

— Você é bonita, com seus cabelos negros e olhos brilhantes. — diz o Senhor Demônio, sua voz baixa e intensa. — Venha ao meu quarto no fim do seu expediente. Não lhe forçarei.

A enfermeira continua com a respiração ofegante, se segurando na parede enquanto ele se afasta e vai para o seu quarto. Ela fica ali, tentando processar o que acabou de acontecer, enquanto ele desaparece no corredor.

Senhor DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora