Capítulo 40

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Lili

Eu nunca tinha me sentido tão bem em um ambiente tão rápido assim. Eu estava muito nervosa quando cheguei na casa do Abner, mas ele e a irmã conseguiram deixar o ambiente muito bom.

Nem percebi as horas passando e quando me dei conta recebi uma notificação. Era a minha mãe. Eu não tinha avisado que ia até a casa de um cara que eu estou gostando. Nunca fui de conversar esses assuntos com nenhum dos dois e nem sei como eles vão reagir quando eu contar essa novidade.

- Eu tenho que ir... - avisei baixo para o Abner enquanto a Maria me mostrava o álbum de foto dos dois e dos pais deles também.

Eu já tinha conhecido a Maria, quando eu e a Khauane fomos comprar nosso material da faculdade. Mas eu nunca mais tinha falado com ela depois disso, até hoje, momento que conversamos muito.

- Não, fica aqui - O Abner falou me abraçando fazendo drama.

- Eu não posso, magrão - falei repetindo o novo apelido que tinha dado a ele.

- Você já vai? - Escuto a voz da Maria ao meu lado - Tá tão cedo.

- Tá marcando só dez horas no relógio - O Abner disse logo em seguida.

- Só? - Perguntei rindo do comentário dele.

Me despedi dos dois e o Abner fez questão de me levar de moto até a minha casa, apesar de morarmos perto.

- Você já sabe quando eu posso vir aqui pra conhecer seus pais? - ele perguntou tirando o capacete.

- Acho que depois de amanhã eles não vão trabalhar, então você pode vir na hora do almoço - respondi enquanto tirava o meu capacete.

- Você pode me confirmar depois?

- Eu vou perguntar de hoje para amanhã e posso te confirmar já - Respondi me aproximando dele.

- Amanhã você não tem aula, né? - O magrão me perguntou.

- Não, o professor vai ter uma palestra - Respondi olhando para ele.

- Quer sair com a galera amanhã?

- Você não vai ter aula? - Perguntei confusa enquanto ele descia a moto e se aproximava de mim colocando as duas mãos na minha cintura me puxando para perto.

- Só vamos ter uma aula amanhã, dá certo a gente ir assistir algum filme e depois sair pra comer alguma coisa. - ele respondeu cheirando o meu pescoço fazendo o meu coração bater mais forte.

- E o seu trabalho? - Perguntei puxando ele para mais perto e inclinando um pouco os meus pés para ficarmos em uma altura um pouco igual.

- Posso tirar folga amanhã. - ele respondeu. 

- Você quer chamar quem?

- A gente pode chamar a Khauane, Levinks, Apollo, Thiago, Prado, Jotapê, Breno, Alanys e a Maria. O que acha?

- Não quer chamar o João Lucas também?

- Ah, falta ele né... - ele disse debochado me encarando com um sorriso.

- Deixa de coisa feia, menino - dei risada batendo no braço dele de brincadeira - A gente pode confirmar isso quando você chegar em casa. Agora eu preciso entrar...

Com muito esforço, me despedi dele e entrei em casa com um sorriso que estava sendo muito recorrente no meu rosto.

- Quem era esse? - me assustei com a voz da minha mãe saindo do corpo.

- ai que susto, mãe - falei com a mão no coração e todo o meu sorriso morreu quando percebi que tinha que falar sobre o Abner - É um menino que eu estou gostando.

- Não quero você conversando com ele.

Ela só disse isso. Meu coração, que antes estava acelerado com todos os sentimentos que eu estava sentindo, agora estava quebrado.

- Qual seria o motivo? - Perguntei com a voz trêmula. Eu sou uma pessoa bastante emotiva e qualquer coisa é motivo para que eu chore, mas as palavras da minha mãe sempre vão me ferir bem mais.

- Não quero que você se envolva com aquele menino. Desde que os pais dele morreram esse menino perdeu o futuro dele, você vai mesmo se relacionar com esse sem futuro?

Quando os pais do Abner e da Maria faleceram, isso foi notícia em muitos jornais, mas eu nunca tinha associado a imagem do menino chorando a ele.

- Ele trabalha e está na mesma faculdade que eu - Respondi com raiva olha do para ele - Ele vai ter um ótimo futuro.

- E você já viu aquele cabelo dele?

Isso me deixou sem falar por uns três minutos.

Eu nunca imaginei que essas palavras fossem sair da boca da minha mãe.

- O que tem o cabelo dele? - respondi a encarando com a minha cara fechada.

- É um cabelo ruim e de pixaim. - ela respondeu um pouco mais alto e me encarando - Ele não vai conseguir sustentar você, Ariele. Ele é um favelado sujo.

Apesar de morarmos no mesmo bairro, o Abner mora em uma comunidade um pouco afastada e eu moro em uma parte um pouco melhor.

- Você não tem ideia do que disse agora, né? - Consegui perguntar com lágrimas caindo.

- Vai para o quarto, Ariele - Ele respondeu apontando o dedo para o meu quarto.

- Eu não vou dormir aqui hoje - eu disse furiosa indo para o meu quarto e pegando uma bolsa para colocar algumas roupas minha e dormir na casa da Khauane.

Sai de casa com a cara vermelha e com o meu sangue fervendo. Nem olhei para trás, mas vi que ela estava sentada no sofá tomando água, agindo como se nada tivesse acontecido.

- Se você continuar com ele, eu vou fazer da sua vida um inferno - escutei ela falando quando abrir o portão de casa - Anote o que eu estou falando.

Liguei para a Khauane falando tudo que tinha acontecido e ela deixou que eu dormisse na casa dela.

Assim que eu cheguei lá, desabei totalmente.

- Isso é tão ruim, Lili - Escutei a voz da Alanys e ela tirou alguns cabelos da minha cara para limpar as lágrimas que escorriam do meu rosto.

- Eu tinha dito pra ele que ia organizar um almoço para que eles conhecessem - comecei a dizer entre lágrimas - Como ele vai conhecer alguém tão babaca desse jeito?

- Você quer que eu chame ele pra cá? - A Kakau perguntou me trazendo um copo de água.

Mix de Sentimentos || Magrão & LiliOnde histórias criam vida. Descubra agora