Capítulo 24

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Eu gostaria de dizer que no outro dia pude explicar tudo a Shawn, que ele me entendeu, acreditou em mim e que nos acertamos. 

Que eu achei uma casa para ficar com o mesmo valor do aluguel que pagava antes e que minha vida continuou a mesma.

Mas não foi assim que aconteceu. 

Nos primeiros dois dias, eu mal saí da cama, imersa na minha própria tristeza e decepção, as palavras, a expressão de Shawn me assombrando a cada segundo, cutucando a ferida grande que eu mesma causei. 

Aaliyah me ligou, várias vezes, mandou-me inúmeras mensagens também, as quais eu não respondi. Não porque não queria falar com ela, mas porque sabia que, no momento em que atendesse, saberia como a sua família lidou com a informação, saberia da decepção que causei, de como machuquei as pessoas que me trataram tão bem enquanto tudo o que eu fazia era mentir para elas. 

Apesar de não ter entrado em contato com Aaliyah, quebrei a primeira regra de quando você é exposto na mídia.

Eu entrei na internet.

Quando abri meu instagram, haviam centenas, não, milhares de solicitações para me seguirem no instagram, dezenas de marcações e diversas solicitações de mensagem, as quais se resumiram a me chamarem de oportunista, ameaças e xingamentos muito bem elaborados. 

Claro, não satisfeita com isso, resolvi me martirizar ainda mais e entrei no twitter.

E, se eram ruins as coisas que diziam sobre mim no instagram, no twitter conseguiram piorar. Falavam da minha formação, acisaram-se de ser obcecada e stalker dele, estavam ansiosas para que Shawn me processasse o que lembrei — com muito desespero interno — que ele poderia fazer. 

Ou talvez Shawn apenas quisesse esquecer que um dia estive em sua vida. Me apagar, como uma mancha de lápis pequena e insignificante em um papel. 

Não sei qual das duas opções doía mais cogitar. 

No meu terceiro dia de inércia, Grace apareceu na porta do quarto e quase fui assassinada quando ela percebeu o que eu fazia no telefone. Claro, depois ela cuidou de mim como vinha fazendo durante todos os dias em que passei apenas chorando em seu quarto de hóspedes. 

Não fui a faculdade, não procurei uma casa nova. Eu simplesmente me recolhi em meu sofrimento o deixei tomar conta de mim. 

Estranhamente, me permitir sentir toda aquela angústia fez eu me sentir como se estivesse esgotado minhas lágrimas. Como se agora tivesse testado um vazio devastador, encobrindo a dor que se tornou um incômodo profundo e constante dentro de mim. 

No quarto dia, levantei da cama e me arrumei para a faculdade. 

Grace, que agora se tornou um anjo para mim, lançou-me palavras de encorajamento, sanando minhas preocupações ao dizer que poderia ficar na casa dela durante o tempo que precisasse.

Meu primeiro instinto foi negar, dizer que eu não a deixaria assumir essa responsabilidade... Mas eu sempre estava negando o que as pessoas queriam fazer por mim de bom grado.

E eu estava tão cansada de sempre estar lutando para ser independente, de nunca querer ser um incômodo. Eu estava cansada de sempre sentir que eu não deveria aceitar ajuda.

Grace se preocupava comigo, ela me ajudou, ela não me julgou.

Então eu aceitei e quando mencionei sobre retribuir, ela disse que fazê-la companhia era o suficiente. E essa pequena frase quase me fez cair no choro novamente.

À caminho da universidade, me senti paranóica, olhando ao redor para ver se alguém me observada e acompanhava o que eu fazia, mas não havia ninguém.

Sweet SymphonyOnde histórias criam vida. Descubra agora