Capítulo 35

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É estranho pensarmos que qualquer conversa com alguém, pode ser a última.

Falo isso de forma ampla, com todas as interpretações possíveis.

Não imaginei que quando minha mãe me deu um beijo de boa noite num domingo comum depois de assistirmos um filme seria a última vez que a veria. Claro, a reencontrei mais uma vez, mas hoje Sinu era uma estranha. Não dei adeus, não falei nada de diferente. Nunca imaginei que tudo iria mudar desde então.

Jamais passou pela minha cabeça que Shawn descobriria tudo naquele dia. Que ali seria a nossa última vez. Claro, o vi depois, várias vezes, mas era diferente agora. Eu não me escondia mais na minha mentira. Ele mudou comigo por causa da verdade e nunca mais me veria da mesma forma. Aquele momento em que Shawn disse que me aguardava na casa de seus pais após me oferecer abrigo foi nosso último momento juntos. Juntos como... Nós dois.

Apesar de todas essas situações, nunca aprendemos.

Quando larguei do estágio naquele dia, estava feliz. Finalmente minha vida estava entrando nos eixos. Havia sido um dia bom.

Cheguei no Pickering quarenta minutos depois, um pouco nervosa pela possibilidade de encontrar Shawn ou sua família, mas logo passou quando entrei na casa de Grace.

— Sabe, normalmente as pessoas são bem recebidas quando entram na casa das outras. — Exclamei, alto para que ela conseguisse me ouvir do quintal da casa, que era  onde eu sabia que ela estava sentada.

Coloquei as compras que havia feito na sua mesa da cozinha, desempacotando boa parte e colocando o leite na geladeira.

— Acho que podíamos fazer um bolo ou algo assim. — Caminhei até a porta que levava a área externa da casa, passando pela soleira e aproximando-me por trás de Grace, que permanecia sentada na cadeira. Toquei seu ombro, retirando a mão no mesmo instante. — Caramba, você não está com frio?

Contornei a cadeira, ficando de frente para ela. Observei seu rosto, a expressão serena e relaxada de quem estava imersa em um sono profundo. Grace sempre dormia do lado de fora, mas nunca teve um sono tão pesado.

— Grace? — Chamei, esperando que ela abrisse os olhos e fizesse alguma piada como sempre fazia.

Esperei e esperei, no meu íntimo, evitando que o pensamento óbvio viesse à minha mente.

Ela estava dormindo.

— Grace. — Minha voz saiu fraca.

Não me movi por alguns segundos, temendo descobrir o que sabia que estava ali caso eu me aproximasse. Observei seu rosto, os olhos fechados, a expressão levee tranquila. O corpo relaxado. Tudo ela exalava serenidade.

Meus olhos arderam e tomei coragem para me aproximar, encostando os dois dedos na pele fria do seu pescoço. Ar saiu pelos meus lábios e minhas pernas não conseguiram mater-me de pé. Sentei no chão, estática demais para o seguir ter alguma reação.

Não chorei naquele dia. Não derramei uma lágrima sequer. Me senti estranha quando liguei para a emergência e fiquei ali sentada, esperando. Em determinado momento, segurei sua mão e apenas soltei quando a levaram de mim.

— Ela tinha alguma família? Alguém que eu possa contatar? — Uma das pessoas perguntou.

Balancei a cabeça.

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