Capítulo XXII • Despertar

17 4 23
                                    

————— ※ ·❈· ※ —————

~ 15 de Janeiro ~
~ Segunda-feira ~

• Liah:

"Aqui? De novo?"
Me perguntava isso fazia mais de horas ― pelo menos, no meu ver, se faziam horas.

Era aquela mesma casa. Aquela mesma casa em que eu parecia viver com os meus "pais" durante meus pesadelos, repetitivos e frustrantes. Porém, dessa vez, havia algo de diferente. Em não entrei naquela moradia, como sempre fazia. Eu já estava dentro dela, deitada sobre uma cama, em um quarto espaçoso e que considerava o mais puro luxo vintage.

Descalça, caminhei pelos corredores tranquilamente.

Estava tudo no mais profundo silêncio, porém, eu não me sentia assustada. Alguma coisa me avisava que estava tudo bem, e que ficaria tudo bem.

Foi então que, de uma forma repentina e desproporcional ao espaço que caminhava, esbarrei em uma porta. Percebi que chegara ao fim do corredor e só restava aquela porta. A qual, por mais incrível que pareça, possuía a mesma numeração do quarto de meu pai, na Pousada Paradise Palace.

Sim, era exatamente o mesmo. Eu sabia que era, não tinha dúvidas disso.

Quando levei uma de minhas mãos até tal número, a porta se destrancou e eu vi o meu pai. Dessa vez, se tratava realmente dele, Edgar, e não um farsante qualquer que minha mente sempre inventava.

Eu podia perceber a sua inquietação a cada frase que lia nos papéis que segurava, como se neles houvesse um imenso segredo, daqueles de filmes de suspense e mistério.

Eu tentei me aproximar dele, mas antes que tivesse qualquer outra atitude para confortá-lo, meu pai se levantou. Caminhou rapidamente com aqueles papéis até o seu guarda-roupa. Lá, abriu suas portas, afastou suas camisas praianas que tanto adoro e revelou, aos meus olhos, um cofre secreto.

Sua senha, que simbolizava a data de meu nascimento, 22/01/2006, foi de rápida memorização de minha parte. Logo ali, naquele mesmo cofre, os papéis foram guardados e trancafiados.

Sei que não passa de um sonho estranho, mas me criou uma certa curiosidade. O que poderia haver escrito neles para que o meu pai ficasse assim? Tão abalado?
Argh... Que sonho mais estranho.

[ 02:12 A.M. ]
| Internada no Hospital Central |

Assim que pude "retornar" ao meu ser e constatar que havia realmente me libertado daquele sonho tão peculiar e suspeito, coloquei a minha cabeça em seu devido lugar.

Aos poucos, minhas lembranças retornaram e eu me recordei de alguns fatos relevantes.

Passeio com os tios...
Acidente...
Capotamento...
Quase afogamento...
Perda de consciência...

Antes que a minha mente se perdesse em milhares de questionamentos sobre esses mesmos fatos, levando-me à um martírio sem fim na procura de respostas claras e decisivas, dei a devida atenção para a minha pessoa. ― não sou do tipo narcisista, mas... eu sentia que não estava muito bem. E, realmente, não estava.

Meu corpo parecia ter sido destroçado por inteiro e em seguida remontado, com peças que não se encaixavam de maneira correta e que me incomodavam, muito.

Tudo, absolutamente tudo em mim, doía.

Até mesmo respirar, uma ação tão simplória do ser humano, estava me ferindo. Eu sentia como se, invés de oxigênio, o que percorria minha garganta de dentro para fora eram lâminas afiadas e torturantes. ― é... Eu realmente não estava nada bem.

De Repente, Você. (O Encontro)Onde histórias criam vida. Descubra agora