Capítulo XXVI • Surpresa!

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~ 22 de Janeiro ~
~ Segunda-feira ~

Ainda era a madrugada de ontem, mais ou menos umas duas da manhã, quando meu alarme apitou.

Havia programado ele para aquele horário pois tinha sido aquele horário que meu pai me orientara à acordar, para que me preparasse para a mudança.

Já estava de alta há alguns dias, mas tive que continuar presa aqui, nesse hospital sem graça, perdendo um tempo precioso de minha vida. ― que chego a questionar se será muito, perante todas essas tragédias que andam me acontecendo. É cruel pensar assim, eu sei. Já me repreendi de todas as formas, porém, não consigo convencer minha mente de que esteja sendo dura demais.

É um fato inegável e racional. Simples assim.

Zaya também teve a devida alta do médico e parecia tão saudável quanto quando a conheci, ainda no aeroporto. Estava feliz por ela. Pelo menos, não ficou com nenhuma sequela do acidente, como a sequela irreparável dos pais e a minha, que ainda tem chance de ser revertida, mas ignoro totalmente.

Pode parecer idiota, mas não consigo sorrir tanto quanto sorria antes. Os sorrisos que dou são forçados e robóticos. Quando devem aparecer, aparecem, e quando devem sumir, pois se tornaram inúteis, desaparecem.

Passou-se tempo, mas na minha cabeça tudo ainda se mantém muito recente. Preciso de silêncio, de paz e de solidão para me "consertar". ― ou melhor, acredito que seja apenas isso que necessite agora.

O professor Aizawa, que descobri há pouco tempo que também é conhecido por Eraser Head, o delegado civil daqui do Rio e outros heróis, que só ouvira falar em reportagens de canais jornalísticos, me esperavam, assim como meus pais, do lado de fora do hospital, em uma área mais reservada.

Em uma van preta, discreta e veloz, percorremos várias e várias ruas do Rio de Janeiro, sendo escoltados há todo instante por policiais em seus carros disfarçados e por heróis vigilantes. Meu pai não soltava a minha mão por nada e Agatha fazia o mesmo com a outra, apesar de estar segurando nos braços uma criança que de repente se movimenta.

Por todo o caminho, imaginei que pararíamos em frente à um casarão de filmes antigos, que por fora aparentava ser inofensivo, mas por dentro resguardava o maior esconderijo de heróis que esse mundo já viu. No entanto, reconheci meu erro de pensamento quando paramos logo em frente a uma doceria nada impressionante.

Os atendentes foram gentis conosco, logo depois de encerrarem a compra de algumas pessoas. Eu, apenas seguindo as orientações que me eram dadas, caminhei até um elevador, posto em uma área mais discreta da loja.

Todos nós descemos até um andar marcado no visor por um símbolo que desconhecia até o presente momento. Aizawa e o delegado se colocaram a frente assim que a porta se abriu e foi aí que a parte do "casarão que aparenta ser inofensivo" entra em vigor. Abaixo da doceria inocente, havia o tal esconderijo que tanto fui informada.

O movimento era intenso. Pessoas bem vestidas, algumas em trajes heróicos e outras não, percorriam o salão de um lado para o outro, carregando papéis, computadores, tablets etc. Estava com várias perguntas paradas no esôfago, mas as engoli, juntamente da saliva.

Somente uma verdade me importava, e eu já estava começando a compreendê-la: aquela seria a minha morada atual e eu teria que me acostumar com ela, de qualquer jeito.

O pior, é que o dia seguinte daquele já guardava situações ainda mais indesejáveis do que essa.

[ 13:20 P.M. ]
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De Repente, Você. (O Encontro)Onde histórias criam vida. Descubra agora