Capítulo XXVII • Seu Presente é a Verdade

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[ 19:30 P.M. ]
| Na cozinha do esconderijo |

Quando cheguei na cozinha, pisando fundo por todo o trajeto até lá, vi Edgar e Agatha, trocando risadas enquanto se ajudavam com a louça.

Como eles poderiam rir assim? Como eles ainda conseguiam se olhar nos olhos depois do que fizeram contra mim?
Como pode duas pessoas possuírem tamanha falsidade e frieza?

Aquilo era inacreditável, e me dava nojo.

Agatha: Liah, querida! ― soa simpática, mas após perceber meu estado, transforma seu humor. ― algum problema? Por que está assim?

Ah, não sei. Que tal... por descobrir que vocês mentiram para mim por dezessete anos? DEZESSETE, e não apenas um?!

Agatha: Liah... ― agora ela está mais próxima, alternando o seu olhar entre mim e os papéis que trago em mãos. ― o que é isso? O que são esses papéis? ― tenta alcançá-los, mas eu a impeço, retirando de seu alcance com brutalidade. ― Liah! O que está acontecendo com você?

Seu tom soa sério agora, já que nunca a tratei assim, com tanto gelo. Aquilo me faz sorrir, de uma maneira que a deixou ainda mais aterrorizada. Por dentro, queria gritar de ódio e chorar todos os líquidos que possuía em mim, mas por fora? Por fora, eu queria rir da cara de cada um, de tamanha hipocrisia e falsidade.

Edgar, após se livrar do avental e secar suas mãos, aproximou-se de nós duas, visivelmente preocupado, mas também chateado com o meu atual jeito.

Edgar: o que está acontecendo? Por que está agindo assim, filha? ― sinto uma outra lágrima escorrer, o que transformou a chateação de meu pai na mais pura e doce preocupação. ― Liah... Esteve chorando? Por quê?

Agatha: nos diga o porquê, meu bem. O que está acontecendo contigo?

Liah: vocês... ― respiro fundo e engulo a saliva excessiva, garantindo que a minha voz não voltasse a falhar a partir daqui. ― vocês são dois mentirosos. ― eles se entreolham, mas logo retomam o olhar para mim, já que deixei à vista deles aqueles malditos papéis. ― aqui está o porquê de eu estar assim. AQUI ESTÁ! OLHEM!

Lancei os papéis no chão e cerrei os punhos, assim que os vi pegarem cada um.

As expressões deles se escureceram em choque, como se todos os piores pesadelos que já tiveram estivessem sido revividos; e pior, trazidos para a realidade. Gostei de ver aquilo. Um sorriso clareou minha face chorosa, embora as lágrimas não cessassem em nenhum instante.

A verdade estava vindo à tona, finalmente, e eles não imaginam o quanto esperava por isso.

Agatha: Li-Liah... ― ela leva a mão na boca, já com os olhos marejados. ― Ed... Ed. ― clama pelo noivo, que apenas me encarava, também com os olhos repletos de lágrimas.

Liah: vocês... vocês são dois mentirosos! Como... como tiveram essa coragem, hein?! ― Edgar entrega os papéis à sua noiva e tenta me cercar com seus braços, mas eu posicionei minhas mãos a frente de meu corpo, impedindo-o. ― nã-não. Não ouse se aproximar. Qual o problema de vocês?! Acham que um abraço medíocre irá consertar isso tudo?!

Edgar: fi-filha. ― ele tenta se aproximar novamente, mas eu continuei como estava, com as palmas de minha mão a frente de meu próprio corpo. ― Liah, podemos explicar. Mas... mas por favor, se acalme, meu bem.

Liah: ME ACALMAR?! EU NÃO QUERO ME ACALMAR! ― esbravejo e cerro os punhos, apreciando o temor que paralisou meus pais. ― por todo esse tempo, por todo esse maldito tempo, vocês sustentaram essa merda. Por DEZESSETE ANOS, eu fui enganada pelas pessoas que mais confiava! EU CONFIAVA EM VOCÊS! P*RRA, EU CONFIAVA! ― as lágrimas voltam, mas eu logo as seco com o dorso das mãos. ― eu sou adotada... ― a desgraça da voz falha, fazendo-me pronunciar tudo em um sussurro. ― e-eu... eu não sou sua filha pai... Nã-não sou.

De Repente, Você. (O Encontro)Onde histórias criam vida. Descubra agora