47 - Renascimento (OU MORTE)

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Depois de ser consumido por uma madrugada de pensamentos, o Sol nasceu e o tempo quase pareceu me dar esperanças de dias felizes.

- Bom dia. - entrei na antiga casa de Patrick.

- Eu vou casar. - Rato disse empolgado assim que entrei.

- Quê?! - ergui as sobrancelhas em um sorriso. - Não pode ser!

- Pode sim, meu parceiro. Vou me aposentar! - fez o sinal do terço católico nos ombros.

- Só se for com uma velha rica!

- Sabe que eu vou morrer primeiro que a Bruna, né? - ele fez cara de quem tinha razão e eu concordei, era óbvio.

- Parabéns, Rato. - peguei sua cabeça e abracei. - Você merece ser feliz irmão e levar uma vida tranquila longe desse inferno aqui, tá ligado? Um de nós vai sair disso aqui e ficar suave.

Essa era a realidade, a gente sabia que nem todos iriam viver até seus 80 anos e ficar em paz. Morrer nessa vida, seria o caminho mais fácil pra seguir, na verdade, seria um prazer.

- Eu espero ser padrinho! - ri.

- Porra, lógico, né? Acha que eu vou dar esse mole!

- E pra quando é esse rolê aí? - me joguei no sofá do lado do CG.

- Quatro, três meses, a gente quer tudo rápido, tá ligado? Agora a muié lá deixou a Bruna em paz e ela decidiu que não quer mais morar com a amiga dela.

- Você fala a delegada? - revirei os olhos.

- É, pai. As duas estavam meio pá, sua culpa, tu sabe. - dei de ombros.

- E ela vai? - parecia enojado mas confesso que doido pra ver a Sandra.

- Eu sei lá, Playboy. É a mãe da mina, eu vou fazer o que?!

- Tá dormindo com uma mula sem ferradura, caralho? Só perguntei. - CG riu enquanto futricava no celular. - E tu, o que tá arrumando aí?

- Eu tenho certeza que essa praga vai me chamar pra ser padrinho, vou ter que arrumar uma companhia pra ontem. - puxei o celular da mão dele.

- Ah, CG, para de chorar! - Rato riu. Comecei a mexer no celular rolando a dash do Tinder. - Eu vou escolher pra você!

Passei a tarde dando Match com um tanto de gatinha no Tinder e troquei ideia com algumas fingindo ser o CG, já que ela era bem ruim de papo.
A real, é que eu precisava ir pra casa mas eu não queria correr o risco de me sentir sozinho. 
Rato pediu um almoço pra gente naquela tarde, comemos os três juntos sentados na velha mesa do Patrick.
Ele, Patrick, hoje não fazia mais falta igual no começo... Agora que tudo fazia sentido, eu já tinha motivos pra sentir essa saudade, já não tinha motivos pra muitas coisas que vinham acontecendo!

- Acho que é hora de ir puxar um ronco. - bocejei.

- É, viado. Vai lá, tem gente no teu lugar. Tá suave hoje.

E assim, me despedi pra tomar um banho e ver se conseguia dormir pelo menos algumas horas sem nenhum pesadelo.
Adentrei na casa escura e tratei de ligar as luzes, já ia escurecer de novo e eu precisava ser rápido se eu quisesse voltar pra boca de madrugada.
Tomei meu banho com calma e deitei na minha cama, pude pensar novamente em tudo que tinha acontecido até agora e eu quase chorei... Quase!
O foda é que eu tava tão na merda, tão sozinho, que eu achava que não tinha mais jeito de arrumar nada.

- Ah, Felipe... Que merda de vida, em. - sussurrei enquanto encarava o teto.

Até meus pensamentos pararem de me sufocar, permaneci acordado mas depois que eles pararam, eu dormi tão bem que nem lembrava quando foi a última vez.
Meu sonho era tão real, quase pude jurar que eu estava lá. Finalmente, pelo menos em sonhos, minha família estava completa e eu não estava sozinho.
A única coisa que passava na minha cabeça quando eu acordei, era que eu precisava recomeçar minha vida. Talvez longe daqui, ou talvez tão perto disso aqui só que tão diferente.
Troquei minha roupa, coloquei um casaco e uma calça, já que ainda estava meio frio e voltei a subir o morro na madrugada fria.

- Então, eu tava pensando que depois do seu casamento, você vai mudar de vida e eu acho que nos dois podíamos mudar de vida também. - CG me encarou enquanto eu me referia a ele na conversa.

- Eu tô velho pra isso aqui, Playboy. - Rato avisou. - Mas eu sei que depois de tudo tu não quer ficar aqui. Tô ligado que tá foda...

- Tá, mano. Tá fodido ficar lá em casa, tudo me lembra ela e aí eu saio e lembro de outra. Adianta o que?

- Eu tô pensando numa fita aí, preciso de vocês dois pra esse serviço, tá ligado?! Pra gente mudar de vida, eu quero casar, CG vai poder fazer as coisas pra mãe dele em paz e tu vai poder viajar o mundo se quiser.

- Só falar, chefe. - fiquei super empolgado.

- Mas é uma fita de milhão, é pra fazer e cair fora. - concordei. - Nós assalta um banco, assalta um carro forte, um bagulho grande e some.

- Eu quero. - afirmei animado.

- Mas é pra sumir, Playboy. A gente nunca mais vai poder se ver. Se não vai moia pra nós três. - Rato alertou. - Tá disposto?

- Mano, se for pra te ver viver bem e longe dessa merda toda. Se for pra ver nós três longe desse inferno, eu quero.

- É isso, Rato. Eu tô até o pescoço nisso aí, irmão. - CG completou.

Então, Rato explicou o plano dele.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora