Ao chegar em casa, notei o quanto eu estava fodido com F maiúsculo!
Mesmo assim, tentei deixar meus pensamentos livres.
Acendi um baseado, fiquei olhando pela janela o movimento e rezando pra isso acabar sem eu ter que me explicar.
Ganhei atestado de três dias, por isso só voltaria pra escola na segunda-feira, Bruna me garantiu ajuda nas matérias depois mas você sabe que isso não me preocupava no momento.
O fim de semana correu e o celular velho não tocou, aliás nada novo aconteceu e isso me incomodou.- Você tá bem?
- Tô! Pode pá. - notei que o cordão ainda estava em seu pescoço e eu o queria tanto de volta!
- Gostou? - percebeu meu olhar. - Minha mãe me deu...
- É, nem me fala dela. - respirei fundo e ela me encarou com dúvida. - Tenho que agradecer ela. - mudei o rumo da conversa.
Foi assim que aquele mês terminou, digamos que Novembro não foi muita coisa (tirando tudo o que descobri) e eu apostava todas minhas fichas em Dezembro, rezei pra finalmente aquele ser meu mês.
A semana de prova estava sufocante mas com a Bruna tudo ficava mais fácil, percebi a distância entra ela e o Yan, a minha distância e a de Sandra também foi contínua.
Patrick realmente sumiu e algumas vezes eu via Natacha se exibindo afim de chamar minha atenção (e conseguia).
Faltava uma semana para o término das aulas e o dia quinze seria comemorativo, aliás dezessete anos só se faz uma vez!- Vai ter festa? - me cutucou com a caneta.
- Não... Nunca fiz depois que minha mãe faleceu. - pude notar sua decepção. - Mas... Se você animar a gente pode ir pro baile!
- Já pensou? - ela riu. - Minha mãe me mata! - a Bruna me deu uma ótima ideia pra chamar a atenção da Sandra.
- Qual é, deixa de palhaçada! Você fez dezoito anos, lembra? - dei aquela cutucada de caneta de volta e ela ficou meio pensativa.
- Tem razão! Eu vou!
O sinal tocou e interrompeu nossa conversa, andamos até a calçada juntos e quando ela foi me abraçar pra se despedir, Yan se meteu na frente.
Estava com raiva, algo parecia errado mas como não leio mentes acabei perguntando o que houve.- Porra, tu tem coragem de perguntar? - empurrou meus ombros. - Você fez eu e a Bruna largar, cara!
- Ei, qual foi?! - arrumei o corpo e dei uns passos na direção dele. - Porra, moleque! Se enxerga. A gente não tem nada. - deixei que meu ódio tomasse conta de mim e o encarei friamente, esperando alguma reação.
- Eu vou amassar sua cara. - ele riu e notei que tirou sua mochila das costas.
- Calma ai, Yan! - a Bruna se meteu no meio, apoiou as mãos em seu peitoral. - Ele tá falando a verdade.
- Ah, vamos nessa. Solta ele. - deixei meu deboche em forma de sorriso. - Essa merda vai ser legal. - ainda estava rindo. Deixei a mochila cair no chão e fiquei esperando.
- Eu não vou deixar vocês brigarem. - me encarou com raiva. - Vai pra casa, Felipe! - fiz uma careta mas acabei colocando a mochila nas costas de novo.
Dei alguns passos tentando ir embora e pude ouvir Yan me xingar, ergui o dedo do meio em forma de desdém. Deixei os dois brigando, era possível ouvir os berros do Yan depois de duas quadras de distância.
Senti minha perna tremer e imediatamente conferi o bolso.- Alô?!
O coração disparou mas nada foi dito. Uma respiração pesada foi solta do outro lado, parecia querer dizer algo e isso me deixou mais apreensivo ainda.
Desligou.
Encarei o celular por alguns segundos mas logo o enfiei no bolso novamente.
Enfim, marcha... Deixa pra lá, ela sabia que era fácil me encontrar.
Novamente a semana se passou, durante as provas a Bruna foi fiel e não me deixou na mão mas também não tocou na conversa da briga.
Falamos o suficiente e tudo sobre os assuntos da escola, não dividimos mais o Hollywood Azul, já que ela voltou a sumir na hora do intervalo.
Mas ficar sozinho estava sendo bom, finalmente estava mantendo os meus demônios presos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)
JugendliteraturPRIMEIRA EDIÇÃO +18 (conteúdo de sexo, drogas e palavrões) NÃO AO PLÁGIO "Na favela você tem duas opções, ou contribui para o governo ou vira uma praga pro sistema! Digamos que eu acabava de me tornar um pouco dos dois. E de tanto fazer concórdia...