71 - Coração Abalado

56 4 6
                                    

- Meu Deus... - ela sussurrava. - Quanto tempo... - seu rosto ainda estava grudado no meu peito. - Que raiva de você.

Agora olhando de perto, seu cabelo escuro parecia combinar mais, confesso que ela tinha até ficado mais nova. Apesar do tempo, Sandra ainda não tinha mudado nada, tinha os mesmos costumes...
As calças jeans coladas e de boca larga, os saltos finos e escuros, a camisa social... Sabe aquelas de manga longa que tinham fechos de botões? Então!
Ela sempre linda, sempre cheirosa, com cara de brava mas quase um doce por dentro.

- Eu achava tanta coisa quando você sumiu... - ela me soltou e me encarou. - No começo, eu fiquei perdida, não sabia o que fazer sem ter meu rival por perto. - ela sorriu de lado.

Confesso que eu ainda estava em choque, mal conseguia formular uma frase na minha cabeça, quem dirá deixar que a frase saísse rumo a fora.
Sandra percebeu meu silêncio e prendeu os lábios.

- Tá tudo bem? - cerrou os olhos na minha direção, esperava uma resposta. - Você tá tão... Diferente.

Não dava, eu não conseguia falar nada. Minha língua parecia amarrada, um nó na garganta que quase me sufocava.

- Todos esses anos sem a gente se ver e você não vai dizer nada? - agora o tom de voz havia mudado. Diria que ela estava desapontada.

Sandra me reparou, procurando algum defeito, algo que respondesse a minha calmaria e silêncio.

- Você se casou? - puxou minha mão, tentei não ceder mas ela acabou encarando de pertinho a aliança. - Meu Deus, você se casou!

Eu realmente não sabia se ela estava feliz ou decepcionada.

- Por que a gente tá aqui se você tá casado?

- Nem dez minutos, delegada... Nem dez e você já tá metendo a culpa só em mim.

- Ah, você tem boca agora? - cruzou os braços após soltar minha mão. - Por que caralho você me olhou daquele jeito no elevador?

- O que? - fiz careta. - Você também me olhou daquele jeito. - fiz aspas com os dedos. - Você que bateu aqui no meu apartamento e também tá em um relacionamento. Aí, a culpa é só minha?

- A gente não vai brigar, Felipe. - negou pra si mesma balançando a cabeça.

- Não mesmo. Eu só achei que precisava te ver... Mas se quer saber, nem foi tudo o que eu imaginei. - neguei pra mim mesmo, era até engraçado.

- É... Não foi tudo isso. - travou o maxilar e deixou o silêncio tomar conta.

- Tudo bem então. Foi bom te ver e saber que tá tudo bem. - ela me olhava como se eu não tivesse mudado nem um pingo.

- Você é escroto. - revirou os olhos. - Eu nem sei porquê eu vim até aqui me humilhar.

Sandra andou batendo os pés até a porta mas qual é... Eu tinha perdido quase seis anos da vida dela e ela da minha, seria só isso mesmo?
Passando anos sonhando com essa desgraçada, vendo esse olhar pelos corredores da minha casa, me casando e tentando ser feliz bem longe dela mas sendo que era ela que me trazia o que eu precisava.
Não podia deixar ela ir assim...

Corri até seu corpo e empurrei a porta entreaberta, ela me encarou como se fosse sacar a pistola e me algemar ali mesmo mas só esperou que eu dissesse alguma coisa.

- Não posso deixar você ir assim. - soltei a porta e esperei que ela largasse a maçaneta. - Não posso porque eu penso em você todos os dias da minha vida... E eu sei que eu casei, eu sei que eu tô seguindo a merda da minha vida. Ela é incrível, é uma garota que realmente precisa de alguém pra cuidar dela, eu achava que eu seria esse cara mas você é uma praga, Sandra. Você nunca saiu daqui. - apontei pra cabeça. - E se quer saber, é mil vezes pior na cabeça do que no coração.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora