Ao abrir os olhos minha cabeça doeu, foi uma dor insuportável.
Pisquei bem os olhos até perceber que o dia raiou e que Sol dolorido era aquele!
Sentei na cama e tomei impulso pra levantar, tirei a camisa e a joguei de canto, andei até a cozinha e tratei de preparar um café forte.
Apesar de chorar feito bebê e admitir que doía, eu estava mais leve e com as ideias no lugar, o que nem sempre acontecia.
Peguei o celular e deixei uma mensagem pra Sandra."vc não me contou td, ou tu abre o jogo ou a gente vai ter problema, delegada"
Ao encarar o relógio, vi que o ponteiro acabava de marcar sete em ponto, por isso mantive a calma esperando o retorno da mensagem.
Sem pressa, tudo vai se resolver.
Eu queria me tornar um cara filha da puta, com muito exagero, cuzão a ponto de passar por cima de qualquer pessoa ou ordem mas eu não conseguia. Parece que o ensinamentos da minha mãe, socava a minha cabeça, implorando pra que eu fosse um bom rapazinho.- Bom dia, caralho. - Rato me pegou sentado na pia bebendo café. - Ah, que droga... Tá parecendo minha tia. - fez careta. - Olha aqui, até me arrepia.
- Vai se ferrar. - eu ri da sua alegria. - Transou foi? - ele concordou mordendo os lábios de felicidade.
- Mano, foi nossa primeira vez na cama juntos. - revirou os olhos. - Que conexão, Playboy!
- Tá legal... Eu acredito. - bebi o restante do café. - E o CG?
- Tá lá com aquela loira, foi a segunda vez dele. - enfatizou bem a palavra 'segunda' e eu voltei a dar risada. - E você...
- Eu dormi sozinho. - Rato me encarou com cara de curiosidade.
- Eu em... - fez um beiço estranho e ainda me condenando. - Tem primeira vez pra tudo nessa vida.
- Aí... - desci da pia. - Chama todo mundo, reunião ao meio dia.
- Problema ou solução? - Rato sentou na janela, meu lugar favorito.
- Isso depende do ponto de vista de cada um.
- Ah, com certeza é problema, Playboy. - virou a boca de lado.
- A gente da conta! - fiz um joinha com a mão esquerda. - Vou tomar um banho e meio dia, em ponto, quero todos aqui.
- Tamo junto, chefe. - ele fez o joinha debochando de mim.
Pronto, meio dia o compromisso era mais que sério.
Beijei a testa da minha tia e ficamos vendo algum programa besta pela manhã, até eu me ajeitar e voltar pra boca, onde todos estavam na casa, sem faltar nenhum. Era até gostoso de se ver.- E ai, galera. - recebi um "e ai" uníssono. - Seguinte... - prendi os lábios e abaixei a cabeça por alguns segundos. - Vamos ter problemas. Eu descobri quem matou o Patrick.
- O o q-q-u-e? - Rato travou e piscava sem parar. Espalmei a mão para que ficasse calmo.
- Foi uma delegada... E ela teve seus motivos. Ainda não sei ao certo mas eu tenho um contato e vou encontrar ele hoje ainda e esclarecer tudo. O Patrick tinha seus defeitos mas ele me fez da rua e isso foi bom, eu aprendi e errei tentando fazer o melhor. - escorei na mesa. - A gente vai se proteger, todo mundo vai estar atrás da gente. Eu quero crianças e mães em casa, a favela tá em guerra e a gente tem que estar juntos nessa.
Estava quente e silencioso. Apenas minha voz de destaque.
- O Patrick era corrupto, fornecia dinheiro em troca de arrego. Eles vinham, levavam o que queriam, deixavam a bagunça deles pra gente. Não é arrego essa porra! Essa porra é negócio e ninguém deve pra ninguém. Entenderam? - novamente uma concordância uníssono. - Fiquem vivos e protejam a favela. A gente é praga do sistema e não amigo deles.
Agora tudo estava em ordem. Esclareci tudo, cada gota, cada centímetro, cada palavra... Agora todo mundo sabia pelo o que a gente lutava.
Desculpa, delegada.... Seu nome tá na boca do sapo, igualzinho o meu.
A mensagem foi respondida com sucesso!"eu te disse o que você precisava, não tem mais o que falar... você está do meu lado não é?!"
Sandra"eu to do meu lado também tlgd e sei que vc ta escondendo algumas partes, onde a gente se encontra?"
"a gente não vai se encontrar!"
Sandra"vamo ve"
Ela caiu como eu queria que fosse, pronto... Agora eu vou até a Bruna, chamo ela pra uma conversa particular e coloco todos os pingos nos ís.
Bati na porta enorme de madeira, na verdade eu soquei até escutar alguém gritar um distante "to indo".- Felipe? - Dylon estranhou, aliás... Era quatro horas da tarde, em plena quarta-feira.
- Opa! Eu vim ver a Bruna. - cocei a orelha. - To meio malzão por esses dias... Achei que ela podia me dar uns concelhos.
- Mulher, né? - ele riu e me convidou pra entrar.
- Você sabe, elas tiram a gente do sério. - quis dizer sua ex, aquela maluca!
- Vai lá, ela tá no quarto. - apontou pra escada e pegou seu jornal.
Pude vê-lo sentar-se e abrir o mesmo. Depois de garantir que ele ficaria ali, subi as escadas chamando pelo nome da minha, até então, melhor amiga.
Finalmente abriu a porta e sorriu ao me ver.- Visita surpresa? - cerrou os olhos em mim.
- Eu sei... - dei de ombros. - To atrapalhando algum ritual com outra melhor amiga? - ela negou com a cabeça e entrei no quarto.
Bom, era minha primeira vez ali. Dizem que é pelos quartos que lemos as pessoas, então... Lá vai minha pequena analise.
O quarto era arrumado e tinha cheiro de doce, tava mais que na cara que a Bruna era meio egoista em relação à doces. Certeza que ao abrir o armário teria milhões deles caindo em cima dela.
Apesar da organização pude notar poeira, talvez ela arrumasse aquilo ali uma vez no mês e olhe lá...- O que você precisa? É algum recado do Rodrigo? - ela se sentou na cama e parecia animada.
- Ele não sabe que eu to aqui. - fechei a porta e sua animação diminuiu um pouco.
- Como assim? - ela fechou um suposto caderno e colocou na cabeceira.
- Bruna... Você precisa saber um bagulho. - passei a chave na porta.
- Pra que tá trancando a porta? - sua sobrancelha se curvou.
- Eu preciso que você me ouça até o fim. - puxei a chave e coloquei a mesma no bolso.
- Ta brincando comigo, Felipe? - sua voz de braveza foi exagerada.
- Xiu. - implorei. - Bruna, você sabe que meus pais morreram?
- O que? Não to entendendo nada, Felipe! - sentei na cama, frente a frente.
- Quando eu tinha dez anos. - ela me encarava curiosamente. - Foi um policial militar que atirou nela, foi bem na cabeça... Provavelmente ele era novo naquilo tudo, as vezes foi o susto, o calor da emoção, a dureza que é segurar uma arma. - respirei fundo.
- Ah, que droga... Você nunca me falou disso... E-eu achava que a Carla era sua mãe!
- Eu sei, mas ela é a única coisa que sobrou.
- Mas vai, continua... - ela alisou meu ombro tentando me consolar.
- Esse cara se meteu em uma furada, acredita? - eu ri. - Eu passei a merda da minha vida inteira sendo guiado por um cara que me ensinou a ser bandido, me ensinou a vender droga, a usar, a embalar, a mirar uma arma e... Atirar. - tirei a arma carregada da cintura e coloquei sob a cama.
Pensei que Bruna se assustaria com aquilo mas convenhamos que não era seu primeiro contato com uma arma de fogo.
- Mas eu não atirei. - encarei a arma. - Nunca atirei.
- Isso é bom. - novamente, tentando me confortar.
- Ela se chamava Ana Maria. - sorri. - O cara que atirou nela tá lá embaixo lendo jornal, nem sequer ele lembra disso. Era o seu pai, Bruna.
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EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)
Teen FictionPRIMEIRA EDIÇÃO +18 (conteúdo de sexo, drogas e palavrões) NÃO AO PLÁGIO "Na favela você tem duas opções, ou contribui para o governo ou vira uma praga pro sistema! Digamos que eu acabava de me tornar um pouco dos dois. E de tanto fazer concórdia...