25 - O Caminho

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Dane-se se foi a coisa certa ou a errada, assim que Natacha saísse dessa merda de lugar, iria ser pedida em namoro da melhor forma possível.
Ia ter cachaça, maconha, droga, armas e muita gente torcendo pra essa porra funcionar, foda-se a delegada de merda.
O dia se passou com calma e Natacha me ligou pra nós ir buscar ela, eu e Rato fomos correndo e voltamos a zero, todo cuidado era pouco. Ela tava melhor, claro mas mesmo assim é bom ter certeza que tá tudo certo.
Foi recebida na favela com alegria e festa, ela fazia falta nesse inferno, suas amiguinhas quase morreram de saudades, palavras delas e não minha.

- E ai, tá feliz? - sussurrei ao seu ouvido, ansioso pela resposta.

- Eu tô, Playboy... - ela sorriu e mordeu os lábios, mas não sexy apenas feliz.

Sorri de volta e em seguida me levantei.
O centro comunitário tava lotado de bandido e da família da Natacha, por mais irônico que fosse até minha tia tava nessa fita.
Pedi pra abaixar o som e assim foi feito, o silêncio reinou. CG deu uma tosse ao ver que eu travei.

- É... - cocei a cabeça e ri sem jeito. - Ai rapaziada, esse ano que entrou vai ser só de bagulho bom, só fita certa. Eu tô completo com vocês aqui, oficialmente nós é família!

- Salve! - gritou o Rato lá do fundo, com um sorrisão estampado.

- Pra completar minha família, falta uma dama. - encarei Natacha que estava ao meu lado, sentada no banco de plástico. - Faltava não, né quebrada... Já achei. - houve uma risada uníssono.

Ajoelhei no chão, próximo aos pés daquela deusa, era pior do que perder a virgindade! Assumir que gosta de alguém e que quer esse futuro é tão assustador quanto perder minha mãe.
Engoli seco aquela saliva, estava nervoso mas queria muito terminar aquele pedido e ouvir aquela voz dizendo sim.

- Natacha, quer ser a minha primeira e única dama? - e dai ela riu mas riu tanto que achamos que falaria não.

- Aceito, Playboy! - ela pegou na minha mão. - Aceito pra caralho!

E ai, a favela fez bagunça. Capaz que até uns tiros pra cima rolaram!
De longe eu podia ver o quanto Natacha ria atoa, finalmente a sereia estava na rede.
Como pedido e calculado, ela dormiu no meu barraco, dormimos igual bebês. Eu tonto e ela querendo mamar, mas não era a hora... Sei lá, a mina acabou de sair atropelada por um aborto e querendo foder. Meu Deus!!!!!

A semana correu como um vento forte de um ciclone. Natacha me acompanhava mais do que Rato e CG, praticamente sempre estávamos juntos mas ela se tornou meu braço direito. Colocava ordem na boca e colocava pressão pra tudo se resolver, essa desgraçada vai tomar meu lugar assim...
Após quase um mês, Rato disse ter recebido uma ligação estranha, onde dizia o endereço completo de um corpo.

- Aham, e do nada tu recebeu essa ligação? - Rato ergueu as sobrancelhas como se fosse óbvio. - Vai se foder, Rato! Isso tá cheirando a merda.

- Porra, patrão... O LC sumiu, vou lá averiguar a situação. E se for o menor? A família tem que ter um enterro digno.

- Eu odeio quando tu tem razão, parceiro! - soltei a respiração e me levantei da cadeira, bem na cozinha do falecido Patrick acontecia a reunião. - Da um salve no CG e confere essa fita.

Tava estranho, esquisito e eu não confiei naquela informação, meu instinto gritava que isso ia dar errado pra caralho.

- Oh gata, tu sabe que eu tenho que cuidar dos moleques! - ela negou com a cabeça.

- E quem vai cuidar de você? - arqueou a sobrancelhas esquerda.

- Mas... - passei a mão na cabeça. - Não posso deixar ninguém na mão.

- Eu sei. - ela respirou fundo. - Eu amo você por isso. - agarrou a gola da camisa e me deu um selinho. - Vai lá e acaba com quem estiver no caminho, depois volta, vai ter uma surpresa pra você.

Aquela mordida que marcou me pescoço me fez prometer voltar vivo a partir daquele dia, não importava a missão, tinha que voltar pra sempre receber minha surpresa!
Peguei a bode velho da favela, liguei a motinha e corri pra seguir Rato e CG. Só que mais atento, alerta e bem mais desconfiado.
O final do trajeto nos levou pra trás da mata, um corpo revirado na lama e todo sujo de grama estava estirado.
Eu estava no fim da rua vazia, olhando aquela cena de longe. Rato virou o corpo e viu que era LC, balançou a cabeça em negação e pareceu comentar algo com CG.
Abriram a mochila e pelo visto estava vazia.
Pensei em chegar perto mas isso iria parecer que eu estava desconfiando dos moleques e eu não queria isso!

Em segundos, o lugar lotou de viatura, meu coração acelerou e eu tive que manter a calma e controlar os nervos.
Rato e CG foram prensados contra a parede, da pior forma possível, a cara arrastada na parede chapiscada.
CG gritava alguma coisa, parecia xingar os desgraçados.
Aquela loira saiu da viatura, caminhou até os moleques e ela não pareceu brava, apenas fez algumas perguntas mas confesso que a cara do Rato não estava lá aquelas coisas, certeza que ele queria pular no pescoço dela.
Caminhei vagarosamente até o enquadro, chegando bem perto até Sandra me notar.

- Que semana... - falei em tom de deboche, me calei quando um polícia me agarrou pela garganta, me jogando contra a parede. - Mais carinho com os convidados! - resmunguei jogado no chão.

- Não acredito que você tá aqui, Felipe. - Sandra rosnou pra mim, agora ela parecia puta de brava. - A noite foi boa ein! - apontou pra mordida que Natacha tinha me dado.

- O que a senhora tá querendo com os meus meninos? - mudei de assunto rapidamente. - Matou o Lucas e quer matar eles agora?

- O quê?! - me chutou, encolhi a perna e estanhei aquela atitude da delegada. - Tá achando que foi a gente? Se bem que bandido não merece outro futuro!

- Nem polícia! - cuspi na sua botina.

Ela agarrou a gola da minha camisa, ergueu meu corpo desconcertado e naquele dia (foi a primeira vez) que apanhei de uma mulher. Acredito que Sandra gostava de me proporcionar novos momentos, novas "primeiras vezes", só que dessa vez ela acabou com a minha cara. Estava tudo dormente, provavelmente eu estava sangrando e todo inchado, foram minutos de socos na cara que esfolaram a mão dela, o sangue que estava em mim transportou para sua luva.
A tontura já não deixava mais eu abrir os olhos.

- Deixa eles ai. - ela limpou a mão na minha camisa. - E da próxima vez, eu vou fazer isso pra matar, Felipe.

- Vai se foder. - sussurrei com a boca cheia de sangue, o coração doía muito mais do que a cara estraçalhada.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora