40 - Revelação

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ATENÇÃO: CAPÍTULO ANTERIOR FOI EDITADO, LEIAM.

- Você precisa que eu durma com você? - ela me olhou com ternura. Aquela ia ser uma noite difícil...

- Quero. - concordei com a cabeça.

Pude ver a mão de Sandra tremer enquanto eu respondia Natacha.
Só não ouve tempo pra mais conversa pois os meninos entraram na sala, cabisbaixos.
O silêncio permaneceu, parecia que ninguém sabia dizer nada, tudo ficou estranho!
Até que Rato foi na cozinha e Bruna o seguiu, CG estava cuidando das coisas do morro, do lado de fora e não soltava o celular.
Natacha, levantou e foi no banheiro, aliás já fazia muito tempo que estávamos ali.

- Sinto muito, Felipe... - Sandra agora tinha uma voz doce.

- Tô bem. - ela se aproximou e esticou a mão pra mim.

Segurei sua mão e pude sentir seu calor, suas mãos quentes fizeram um carinho no meu dedo indicador.

- O que eu posso fazer por você? - agachou perto das minhas pernas e apoiou sua mão no meu joelho.

- Você não pode fazer tudo. - encarei ela. - Mas pode fazer mais agora do que nunca, Sandra. Eu acho que agora é hora de você rever e pensar o que pode fazer por mim de verdade. Eu tô cansado desse rolê, eu só quero acabar com isso logo.

Fomos interrompidos por Bruna e logo Sandra se levantou, meio desajeitada e tentando disfarçar.
Após um longo consolo de todos ali, eu já não aguentava mais e acabei pedindo pra que todo mundo fosse embora.

- Tá, eu vou ajeitar a cama aqui na sala e a gente deita aqui, vê um filme. - Natacha parecia empenhada em me distrair.

- Na verdade, tu pode meter o pé... - ela me olhou com dúvida. - Não quero falação na minha orelha com aquele Zé Mané que você chama de namorado.

- Não entendi, Playboy. Tu me pede pra ficar e me manda embora? - cruzou os braços. - Você tem que se decidir, cara.

- Natacha, mete o pé. - fui até a porta e abri a mesma.

Ela passou furiosa e sem me responder, pude imaginar os palavrões que ela me xingou. A real é que eu usei a Natacha pra fazer um breve ciúmes da Delegada... Não que isso fosse fazer alguma diferença agora, não que ela viesse correndo pro meu braço mas qualquer chance de cutucar ela, eu aproveitava.
Fora que, além disso, eu precisava ficar sozinho e digerir o que eu ia fazer depois dessa caminhada toda. Precisava mesmo pôr a cabeça no lugar e Natacha poderia me desconcentrar.

- É dona Carla... E agora?

Lá estava eu, sentado nos pés de sua cama. Sua camisola ainda estava no cabideiro e aquele lugar ainda tinha seu cheiro, que era o meu favorito.
Seu enterro seria na manhã seguinte e CG já tinha organizado tudo por mim mas quem dera se naquela noite eu tivesse conseguido dormir.

"você está bem?"
Sandra

Rezei pra não responder aquela mensagem, lutei contra meu maior esforço mas foi em vão, pois ela me ligou.

- Você tá bem, Felipe? - parecia brava.

- Tô. - eu estava deitado na minha cama, de olhos fechados, apenas ouvindo sua voz.

- Eu sei que você e a Natacha estão aí, sei que ela está te fazendo companhia mas se precisar, eu tô aqui... Tô falando de verdade.

- Beleza, então eu quero.

- Quer o que? - gaguejando silabou.

- Sua companhia, Delegada. Que horas vem? - ouvi seu silêncio. - Será que rola você comprar um hotdog na vinda? Acho que preciso comer alguma coisa...

O celular desligou e eu fiquei sem entender. Será que ela também tava no limite disso tudo?
Não quis saber, apenas fui tomar meu banho naquela casa escura e cinza.
Vesti meu samba canção e um par de meias, acredito que o tempo iria virar dentro de mim ou talvez, lá fora fosse apenas reflexo daqui de dentro.
Ver televisão já não era a mesma coisa, por isso não o fiz. Deitar e dormir parecia a melhor solução, ainda mais quando já se passavam das onze.
Ouvi um ruído lá fora, um carro diferente estacionava do outro lado da rua e ficou lá um bom tempo, durante uns cinco minutos e ninguém saia lá de dentro, minha espinha já gelou.

- E aí, irmão... Alguma novidade? - chamei CG no Nextel e quando saia da janela.

- Oh meu irmão, boa noite. - pausou. - Nada por aqui, a noite tá de boa.

- Então, faz um favor, meu chefe... Quando puder, manda um molecote pra ver um carro aqui de frente de casa.

Fui interrompido pois alguém bateu na porta, gelei o coração e diminuí o som do radinho. Caminhei devagar até a porta, as meias nos pés me traziam furtividade total. Olhei a greta da porta velha de madeira e pude ver Sandra. Xinguei em pensamento.

- Nossa, mas que inferno. - disse depois que abri a porta. - Você não avisou que vinha!

Deixei a porta aberta e virei as costas, voltando até a sala.

- Ah então... - entrou com o hotdog em mãos. - Eu fiquei no carro procurando meu celular mas acho que devo ter esquecido em casa.

Pude ver Sandra bater a porta e andar até a cozinha, colocando o hotdog na mesa e voltando até a sala.
Ela me olhava como se eu tivesse com uma melancia na cabeça.

- Quié? - dei de ombros. - Veio pra ficar me encarando assim?

- Não... - ficou desconcertada e arrumou sua postura. - Acho até uma noite muito boa pra gente colocar vários pontos nos ís.

- Vamos começar! - me ajeitei no sofá e esperei que Sandra fizesse o mesmo.

- Então... - ela se sentou na poltrona que era da minha tia Carla. - Queria que você soubesse a história inteira, da forma correta.

Vai ver fosse hora mesmo!
A gente precisava começar do zero e ir pontuado coisas importantes durante a conversa. Deixei que Sandra contasse tudo.

- A verdade é que no dia em que sua mãe morreu, o Dylon estava lá mas ele não estava sozinho, Felipe...

- Lógico que não, tava cheio de folgado com ele! - revirei os olhos, inquieto no sofá.

- Ele veio buscar o Patrick. Um dos motivos pelo qual o Dylon quis se aposentar, foi pra parar de procurar o Patrick. Naquele dia, quando ele veio, o Patrick atirou na sua mãe sem querer.

- O que cê tá falando, Sandra? - meu coração acelerado quase me matou com a porta de um infarto.

- Eu fui afundo, Felipe. Você me pediu pra procurar quem matou sua mãe, eu fui atrás. Examinei cenas de novo, vi fotos, balística da bala... Não foi o Dylon.

Fiquei em silêncio e só fechei os olhos. O Patrick sabia desde o começo o motivo de eu ter me enfiado nisso até o pescoço, eu nunca menti pra ele mas aquele desgraçado, ele me enganou a minha vida inteira! Por isso, nunca achamos o culpado e nunca iríamos achar, foi ele o tempo todo me manipulando.

- Não é possível, eu confiei tanto naquele filha da puta! - apoiei os cotovelos no joelho e abaixei a cabeça pensativo. - Eu entreguei a minha vida pra ele, eu fiz um tanto de burrada por causa dele, eu tô me sentindo um burro.

Ela ficou lá, parada me olhando por pra fora. O que não adiantava muito, ele nunca ia saber que eu descobri, agora ele tava morto, né? Qual diferença faz?

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora