5 - Eu tô te Vendo

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- Tá tarde! - interrompi sua boca na minha.

Ela percebeu meu jeito desajeitado mas o dia não foi do mais divertido.
Tratei de procurar o caminho de casa.
O Rato estava parado no meu portão, do mesmo jeito que eu, ele estava um lixo.

- Fala ai... Feliz aniversário. Saúde. Paz. Liberdade e dinheiro! - apertei seu ombro.

- Você não foi no enterro. - olhou para o chão. - Acho que não vou sair amanhã, mano.

- O Gentil ia querer que gente se distraísse. - passei a mão na nuca e puxei todo ar possível.

O Gentil sempre foi o mais animado do bonde e não me trazia nenhum conforto em saber que suas festanças tiveram fim.
Ao entrar em casa, joguei o corpo exausto no sofá e pude ouvir Carla vindo até mim.

- Passou no jornal. - apertou meus joelhos e espremeu-se para caber do meu lado. - Sinto muito! O Alexandre era um bom menino.

Ela era meu ponto fraco. Não pude chorar no enterro de Ana Maria, muito menos no do Julio mas acredite, aquela tinha sido a gota e quando me dei conta, já estava sendo amparado novamente por seus braços.
O cheiro de mãe me confortava. Realmente eu tinha ficado pra titia...
Acabei dormindo naquela posição e ela tratou de me cobrir como sempre fazia.
Tive sonhos bons, o que me fez tranquilo pelo menos em sonhos, ali todos estavam vivos e felizes, do jeito que eu sempre quis.
Continuei ali até o amanhecer, naquele sofá estreito, duro. Igualzinho ao meu coração!

O sábado nasceu e eu peguei ele na metade. Capaz que eram umas quatro da tarde e eu já estava me preparando pra sair junto com os moleques. Não dava pra fingir que o Gentil não morreu, mas também não tinha como fingir que não era uma data comemorativa. Porra, era aniversário do Rato! Vinte e seis anos só se faz uma vez na vida.
A hora se passou muito rápido e quando parei pra notar a visão do morro, já estava de noite.

- Nós vai mesmo fazer isso? - prendeu os lábios e guardou a pistola na cintura.

- CG, a gente vai fingir que foi culpa do Rato? - passei a camisa polo da Lacoste pela cabeça, tentando não amassar o cabelo.

- Cara... Não sei. O Patrick nem saiu de casa, vai saber.

- Ele vai aparecer, papo reto. Tá tudo bem! - dei de ombros. - E a gente vai de Ranger.

Entramos no carro e um embrulho no estômago foi instalado. O Rato tentava por um pen-drive enquanto o CG analisava o banco sujo daquela noite.
Dirigi vagarosamente procurando o Point que o Rato tinha escolhido, não foi difícil de achar já que o som era alto e a rua estava lotada de pessoas.
Estacionei a Ranger (era estranho saber que ainda era do Gentil e ele não tava ali) próximo ao bar e assim todos puderam nos ver descendo.

- Que droga, preciso encher a cara! - sussurrei próximo ao ouvido do CG, depois de atrairmos todos aqueles olhares.

- Você não tem idade! - sorriu com a convicção de ser mais velho que eu. - Vou te pagar sua primeira cerveja! - ele precisava parar de fumar.

Entramos no Point e pegamos uma mesa pequena, ficando de pé ao seu redor. Depositamos nossos celulares em cima da mesma, que estava acompanhada por um balde de Budweiser e outro de RedBull com uma garrafa de Ciroc.
A noite ia ser daquelas, precisávamos esquecer certos acontecimentos. O que faltava ali era o Patrick, que já havia sumido desde o ocorrido.
O calor que fazia ali era intenso e as bundas que se jogavam pra cima ao som do paredão, eram mais intensas ainda.

- Olha a loira... - apontou pra de vestidinho curtinho rosa. Ele grudava no seu corpo e desenhava suas mais belas curvas. Admirei com uma certa paciência. - Tá no pente!

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora