14 - Imune?

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Em questão de segundos, mulheres de um lado e homens de outro, essa foi a ordem dos policiais.
Eu com a mão na cabeça e de cara pra parede, até então nada de novidade, essa novela todos aqui já viram.
Bruna me olhava apreensiva do outro lado, pena que meu copo foi jogado no chão, se não eu estaria bebendo de canudinho agora, tentando reconfortar seu coraçãozinho.

- Bruna Alves? - ela ergueu a mão. - Vem comigo.

Ela acompanhou o policial até eu perdê-la de vista, isso me deixou intrigado. Será que a Sandra estava aqui ou ela apenas foi reconhecida e deportada pra casa dela?
Tentei me manter sereno.
As chaves da moto já não estavam mais comigo, estava nas mãos de um policial que fez a maior revista na moto procurando drogas. O desgraçado até tirou o banco da pobre moto!

- Então você é o famoso Playboy? - encarou minha identidade. - Olha, aniversário hoje... Falta pouco pra gente te prender de vez.

- Se forem me prender ano que vem, por favor... Façam um bolo. - acompanhei sua risada que sessou perante meu deboche.

- Eu não sei o que a Sandra quer contigo mas fica ligado que é por ela que você ainda tá vivo. - sua mão amassou a gola da camiseta nova que Natacha tinha me dado.

- Ei, ei! - fiz com que me soltasse. - Vai amassar a camisa nova, Doutor. - Natacha me olhava do outro lado rindo.

- Se vira pra parede, vou terminar de te revistar. - soltei toda a respiração pela boca e acabei me virando devagar.

Suas mãos rudes iam passando por cada pedaço da roupa, ora apertava, ora chacoalhava. Encontrou meu beck bolado e pude vê-lo com raiva de encontrar aquilo em meu bolso.
Amassou entre seus dedos, destruindo toda minha felicidade.
Eu queria poder xingar sem tomar um soco na boca!
Meu nome foi gritado no fundo de uma viatura e eu estremeci por reconhecer aquela voz.
O policial que me revistava me arrancou da parede e eu acabei vendo o desespero na cara da Natacha.
Fui jogado pra dentro da viatura, tropeçando e caindo deitado no banco de trás.

- Fala pra mim, me prova, que essa porra não foi ideia sua. - Sandra segurava o volante com força.

- Caralho! Que tratamento VIP é esse? - me ajeitei no banco. - É meu aniversário!

- Você tá achando que tem algum privilégio comigo, Felipe? É isso?

- Não! Eu não quero nada de você.

Automaticamente, me lembrei daquela noite juntos. Endureci o corpo e o silêncio dela me sufocou.
Ela ligou o carro e saiu acelerando a viatura no meio da favela, deixando o resto dos policiais um pouco desesperado também (talvez imaginando que eu tivesse roubado o carro).
Após alguns minutos correndo em alta velocidade, naquelas vielas apertadas, e me jogando pra todos os lados. Cada batida me fazia reclamar e ela não parecia preocupada.
Enfim, freiou.

- O que você tá fazendo? - gritei enquanto passava a mão na cabeça resmungando da dor.

- Você tá colocando a minha filha em risco! Eu quero você longe dela. - seu rosto era tão sério, muito mais do que o normal.

- Não tem nada haver com ela. - deixei minha testa franzir. - Eu não sabia que eu ia entrar na sua família de penetra! Tudo aconteceu por conta de um tiro, que caralho!

- A culpa não foi do Dylon, ele não quis atirar!

- Então esse é o nome dele? - tudo estava sendo dito em meio a gritaria. - Eu vou atrás dele, mato e sumo. Combinado?

Saí do carro e acabei batendo a porta com mais força do que o esperado.
O lugar estava vazio, a rua deserta e escura. Provavelmente estávamos no pico do morro, apenas nós dois.
Ela saiu atrás de mim e ficou de pé na minha frente, me olhando como se agora eu fosse o errado desde o início.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora