8 - De Volta ao Zero

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Eu não preguei os olhos nem por segundos, as ideias não me deixavam dormir.

As aulas voltaram com força e a Bruna estava ansiosa pra isso tudo, enquanto eu me encontrava em choque. Ainda tentando digerir a brutalidade da realidade.
Eu tinha pego uma DP da última prova mas depois que Bruna me ajudou a convencer a professora fiz um trabalho. Quero dizer, Bruna fez. O importante é que havia tirado notas altas no segundo bimestre e passado sem mais nenhuma DP.
Todas as noites, subindo a favela, encarava aquela UPP e não me saia da cabeça a vontade de ir lá e mata-los. Vai ver, ainda não tinha o feito pois realmente não havia coragem dentro de mim, não tinha peito pra essa merda!
Mas eu precisava saber o que acontecia.
Tirei aquele uniforme velho e embolei dentro da mochila, junto com as drogas e o restante das porcarias. Deixando aquela calça jeans velha e o tênis da Nike amostras.
Tomei um pingo de coragem e parei da frente do vidro blindando daquela UPP.
Os olhares daqueles cuzões foram de raiva, não que o meu olhar tenha sido diferente naquela semana.

- Sai da minha visão, moleque. - um deles disse com certo desdém.

- A gerencia quer bater um papo. As donzelas tão disponíveis ou tô atrapalhando a noite do pijama? - eles se entreolharam mas a porta blindada foi aberta.

- Qual foi? O Patrick não disse que ninguém vinham... - entrei na cabine e a porta foi trancada.

- Se ele não falou nada a responsá é dele, eu não sou pombo correio de ninguém. - um deles se sentou na cadeira e esticou as pernas por cima da mesa, exatamente como estava quando o vi de fora.

- O combinado não é vocês virem aqui, caralho! O combinado é a droga e o dinheiro estar no lugar de sempre! - mas que caralho de droga e dinheiro é essa?

- Ou, ou! - franzi a testa. - Pelo amor de Deus, vai dar seus pitis lá fora! Eu vim pra saber do combinando, entendeu? O Patrick tá num B.O ai. - desconversei.

- O combinado é metade do dinheiro da droga, fora o arrego de vocês. - o verme mais novo estava sentado, ainda naquela posição, enquanto eu conversava com o grandão de pé. - A gente vai entregar as armas... Mas tem que esperar.

- Seu outro amigo tentou vir aqui, fazer as coisas diferentes, isso não vai mudar. Esse é o acordo. - o novato disse, interrompendo seu companheiro. - Gentil era um cara legal, valeu a tentativa dele mas o Patrick realmente é impiedoso. - o ódio apertou meu coração.

- Eu não quero mudar nada, entendeu? Só passei pra conferir se tá tudo nos trâmites. - eles concordam. Enquanto isso. Eu tentava manter a cara de mal, tentava não perder a pose de cachorro louco.

- Então fechado. Esse é o acordo único que não fez a gente encher vocês de bala até hoje. - disse em um tom arrogante enquanto abria a grande porta. - Boa noite. - praticamente fui expulso.

Sai de lá com todas as informações que eu precisava, mas acabei tendo que recapitular devagar pra processar; o Patrick se tornou corrupto. Fornecia drogas, dinheiro, pedia armas mas acabou sem mandar em nada, entregando o morro na mão do sistema. Havia matado o Gentil por ele tentar reverter a situação (provavelmente à mando daqueles vermes). Pra mim, ele não se perdeu, Patrick tinha se tornado alguém irreconhecível.

Por volta das dez da noite, depois de ter jantado e fumado um baseado pra relaxar a cabeça, ouvi um toque diferente. Carla acabou me confirmando que algo tocava no fundo do meu quarto.
Lembrei-me daquele celular velho da delegada.
Corri até o quarto, procurando incessantemente, jogando tudo pro alto. Finalmente!

- Alô? - houve um longo silêncio e eu já estava quase desistindo.

- É a Delegada. Alguma novidade? - e contei pra ela tudo o que havia descoberto, com uma certa desconfiança. - Mais alguma coisa?

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora