50 - Preços e Valores

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Era ela.
Mas o que ela tava fazendo aqui?

- Vai me levar de novo, delegada?

E fiquei lá, peladão e de pau pra cima. Traguei o beck e soltei a fumaça devagar, enquanto a fumaça sumia no ar, virei a taça de champanhe.

- Ou veio tomar um Chandon comigo? - ri de forma perversa.

Ser assim, já era meu DNA. Perdão.

- Felipe, eu vim te prender! - tirou as algemas da cintura e veio na minha direção.

Dei alguns passos pra trás, ficando bem no fundo da hidromassagem, fazendo com que ela tivesse uma distância segura de mim.

- Vai ter que entrar aqui dentro! - coloquei a taça no canto da banheira, com calma e deboche.

- Anda, Felipe! - ela bateu o pé, parecendo uma criança mimada.

- Vossa senhoria me daria o direito de saber o motivo da minha prisão? - outro trago pelado e seguido de mais deboche.

- Seu chip tá clonado, vi sua localização hoje, sei que você fez parte do roubo dos bancos! - segurou a arma na cintura. - E vai por uma roupa! - disse medindo meu pau e em seguida desviando o olhar.

- Agora eu não posso nem andar na mesma rota que já sou o culpado de tudo... - respirei fundo, dando tom de indignação. - Pode parar de graça, que esse aqui você já até colocou a boca. - gritei.

Ela fez um xiu com o dedo na boca e olhou para os lados, como se tivesse medo de alguém escutar e eu revirei os olhos.

- Seguinte, não vou pagar pela porta. - o som ainda estava ligado, por isso a gente tinha que falar um pouco alto. - E já que a gente vai transar, gostaria de privacidade. Quero outro quarto.

Seu olhar era de reprovação, seguida de um pouquinho de ódio e indignação.

- Felipe, eu jurei que eu ia te prender ou te matar da próxima vez que eu te visse. Não torna isso difícil, depois que eu puxar o gatilho, não tem mais volta.

A nossa relação ficava bem mais legal assim, eu de vilão e ela de boa moça. Mesmo que eu não quisesse ver ela nem pintada de ouro na minha frente, lá estava ela, o destino sempre trazia um jeito de colocar aquela desgraçada na minha vida. Seja para o bem... Ou para o mal...

Sai da banheira, ainda pelado, coloquei o baseado nos lábios e estiquei os braços pra frente, me entregando as algemas.

- Pode me levar mas vai me levar assim. - sorri sem deixar que o baseado caísse.

Ela cruzou os braços e ficou ali me examinando por uns dez segundos, acho que ela concluiu que eu não tinha mais jeito e riu da minha cara. Acabei deixando escapar um riso frouxo também mas logo me comportei.
Ela simplesmente sacou a arma e atirou na minha perna.
Depois do barulho, quando eu já estava no chão, eu senti minha coxa queimar tanto que parecia fogo me queimando.

- SUA FILHA DA PUTA! - xingue tão alto que pude jurar que alguém ia me escutar. - SUA DESGRAÇADA DO CARALHO!

Eu via o sangue escorrendo, aquilo doía pra porra. Então era essa a sensação de um tiro?! Ca-ra-lho! Eu nunca mais queria levar outro na minha vida!
Em segundos, o chão ao meu redor já estava ensopado de sangue e a dor aumentava invés de diminuir. O baseado já tinha voado longe! Eu queria poder levantar e acertar um tiro na perna dela também, aí ia ser interessante mas parecia que eu nunca mais ia andar na minha vida.
Ela abaixou de joelho no meio das minhas pernas e simplesmente me algemou enquanto eu gemia de dor, segurando na coxa e fazendo todas as caretas possíveis.

- Agora você vai comigo! - puxou uma toalha do pequeno armário do quarto de motel.

Sandra agarrou em meus cabelos e me puxou pra cima, fazendo com que eu levantasse do chão e andasse de forma torta e manca até a porta. Eu não parava de reclamar um segundo daquela dor do inferno, fora que por onde eu andava, escorria litros de sangue.

- Escuta. - íamos andando pra fora do quarto enquanto eu tentava falar. - Eu tô caindo fora, eu juro. - meio que eu gaguejava de dor ao soltar as palavras. - Não precisava dessa merda, a gente já tinha colocado um ponto final nisso! - berrei.

Estávamos de frente ao carro do Gentil, quando ela parou de me puxar e me encarou, me dando permissão pra falar.

- Eu tô indo embora, Sandra. - soletrei entre abafos de dor, segurando a toalha no meio das pernas. - Eu cansei dessa merda, me dá a chance de sumir. - limpei a testa que escorria suor.

- Você tá falando sério? - ela me deixou encostar no carro e eu pude respirar fundo.

Agora, a perna não doía tanto como antes, parecia que ela tinha ficado cem por cento dormente.

- Eu juro pela minha mãe! - engoli seco a saliva e fechei os olhos, ainda fazendo uma careta de dor.

- E você vai pra onde?

- Oh, delegada... Se eu te contar não vou conseguir sumir. - ela soltou toda a respiração do pulmão, parecendo que queria me dar mesmo a última chance.

- Vamos entrar. - murmurou, segurando em meu braço e me levou pra dentro de volta.

Tentou fechar a porta quebrada do motel, depois de ter me colocado sentado na cama.
Pegou o telefone fixo e discou na recepção.

- Vocês tem uma linha e uma agulha? - pausou me olhando. - Isso, é que eu rasguei minha roupa. - riu forçado. - Ok, obrigada.

Desligou o telefone.

- Nem a pau que você vai me costurar! - gelei. Senti o coração disparar.

- Não vai doer. - fez careta. - Não posso te levar no hospital, eu vou falar o que?!

- Que você me deu um tiro, porra. - ergui as sobrancelhas.

- Não vai doer. - repetiu firme dessa vez. - Você tá algemado, não vai doer.

- Beleza. - concordei. - Mas eu não vou pagar a porta!

- Tá. Tá. Eu pago a porta! - olhou pra mesma e concordou com a cabeça.

Ela ajeitou os travesseiros atrás das minhas costas, manteve o ferimento pressionado pro sangue parar, até que a agulha e a linha de costura chegassem. Meu coração queria pular pela boca, só de imaginar.
O sino tocou e ela foi conferir a caixa que ficava na parede, logo pegou a agulha e a linha, veio em minha direção.

- Oh, você deu sorte! - o sorriso tomou conta do seu lábio. - Linha branca!

Travei o maxilar.
Que diferença fazia a porra da cor da linha?! Nenhuma! Essa merda ia doer de qualquer jeito!

Sandra pegou um uísque na geladeira e balancei a cabeça em negação consecutivamente.

- Eu não vou pagar. - silabei de novo.

- Porra, Felipe! Você roubou vários bancos e continua pão duro?! - balancei a cabeça positivamente em desespero.

- Nada mudou! - reclamei.

- Tá, dane-se. Vamos começar isso logo, tenho que ir embora.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora