31 - Rei

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Fechei os olhos exatamente as quatro da manhã, mantive o sorriso e a conversa alheia durante a nossa resenha no bar mas isso estava muito esquisito. Doeu saber que a morte do Patrick estava sem sentindo algum.
Dylon, de longe era o cara perfeito, ele era cheio de defeitos e de imensos defeitos, ele não era a chapeuzinho vermelho....

- Que noite! - reclamei jogando a camisa por cima do ombro enquanto Rato sorria. - Ta nas nuvens, ladrão?!

- Papo reto! Não da em cima de mim que eu to gamadin. - jogou os pés na mesa.

- Da hora, de verdade, tá fluindo. - sorri. - Cadê o CG? Já é quase três da tarde.

Encarei o relógio de pulso conferindo as horas, escorei as costas na parede ao lado da janela, olhei o movimento na favela e acendi um cigarro.
É oficial, voltei a fumar por culpa/ausência da Natacha.

- Sei não, mandei mensagem mas o radin tá desligado.

- Vamô lá dar una visita pra ele. - arrumei a 45 na cintura.

Atravessamos as vielas conversando sobre ontem, eu não estava confuso sozinho, Rato também queria saber quem era Dylon, afinal tudo estava tão superficial, esfregando na cara e nós não conseguíamos entender o recado.
Patrick nunca me falou de nenhum irmão, sempre foi sozinho e foi assim que ele me ensinou. Tava na cara que o Dylon não conhecia o Patrick!
Terminei o cigarro admirando a favela, CG morava de frente a uma escadaria enorme, onde dava visão pro asfalto das cidades vizinhas.

- Eu não vi se ele chegou, meninos... Ele não deixa ninguém entrar no quarto dele mas bate lá. - a mãe do CG era legal mas um pouco passada das ideias mas não se assustou com a pistola na cintura.

Subimos a escada apertada em direção ao quarto do CG, a casa era mais apertada que a minha. Rato socou a porta por alguns segundos, sem parar. Ouvimos a tranca ser aberta o CG todo amassado, sem pensar duas, abri a porta passando por cima de qualquer permissão e quando vi estava dentro do quarto do CG olhando em volta.
Rato gritava querendo saber o motivo de não atender o celular, foi quando vi a loira do bar, de ontem (amiga da Carla) na cama do CG.
Ao ter certeza que era ela, coberta até os peitos por um lençol azul, ela abriu os olhos por conta da gritaria e acordou, tomando um susto comigo.

- Moiado. - me afastei e pude perceber a arma do CG em cima da cabeceira, ao lado fileiras de cocaína. - Circulando! - falei com o Rato e fiz sinal com a mão.

Sai do quarto e empurrei Rato pra frente, parando a gritaria. Encarei CG com um sorriso mas não deixei que Rato percebesse.

- Bora, a boca te espera. - pisquei e saímos fora da casa.

Agora sim, CG começou a viver como um REI.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora