26 - Estica Que Arrebenta

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Após a saída da viatura, fui socorrido pelo Rato que estava mais perto.

- Caralho, Playboy. - me levantou com a ajuda do CG. - Acabaram contigo, chefe.

Rato estava muito desesperado, eu mal conseguia ver a sua cara mas pela sua respiração dava pra sentir. CG gritava mais alguns bocados totalmente desesperado.

- Tá de que, patrão? - CG perguntou baixo e eu disse que de moto, mas saiu bem enrolado.

Eu sentia o sangue na boca, ardia a garganta e todos os dentes pareciam que estavam moles. A respiração falhava de quinze em quinze segundos, Rato me segurava conversando, tentando me manter acordado. Foi quando o barulho da moto me puxou do além. CG dirigia a moto, fiquei de garupa e o Rato se equilibrou na churrasqueira, fomos de volta pra favela.

- O que houve? Menino do céu. - reconheci a voz da minha tia. - Põe ele no sofá.

Senti meu corpo ser esticado no sofá, os olhos quase não se abriam, doía demais forçar.
A gritaria era intensa, minha tia queria saber o que houve e o Rato tentava acalmar ela. CG estava no celular, ligando aleatoriamente até achar algum enfermeiro morador da favela.
Foi quando pude ouvir a porta se abrir e a voz da Natacha tomou conta do lugar.

- Amor? - ela falou baixinho próximo a minha orelha. - Fala pra mim quem fez isso com você...

- Ele não consegue falar direito, o moleque tá arrebentado, Natacha! - CG surtou mas foi confirmado que a enfermeira estava a caminho.

- Qual foi, CG?! - senti o calor de seu corpo sumir. - Tá me respondendo? Eu quero saber, eu vou matar!

Pronto, agora a merda tava feita! A bateção de boca entre os dois me deixou irritado mas eu não ia me meter e tomar outro cacete. Se bem que, se fosse Natacha me sentando a mão eu não reviraria, nem se fosse a mais filha da puta (tipo a Sandra) em mulher não se bate, só relo a mão se for pra dar tesão, de resto nem conta comigo!
Pareceu que a enfermeira chegou na sala e ela insistia para me levar no médico bater uns raios-x mas Rato se rebelou.

- Qual condição, dona? - a voz parecia de deboche. - Vai falar que encontrou ele que jeito? Vai dar boletim! Vai dar merda.

- É claro que ele quebrou o nariz, vai saber mais o que quebrou na cara dele. Tem muito sangue, eu não consigo ver nada. - realmente, ela estava preocupada.

- Leva ele. - a voz calculista da Natacha esfriou a conversa alheia. - Leva que eu cuido daqui, vocês vão juntos, não deixa ele sozinho.

Rato e CG pareceram concordar pois não houve nenhuma contradição em forma de voz. O silêncio reinou até eu ser posto no banco de trás do Corolla.
Conclusão, quebrei o nariz e ele foi colocado no lugar, limparam todo aquele sangue, fui deixado em casa e eles voltaram no local pra pegar a outra moto deles que ficou pra trás.
Minha tia buzinou na minha orelha sobre o assunto mas eu só queria dormir!
Não achei a Natacha em lugar nenhum, apenas deitei na cama depois de um longo banho.

A minha mente tava a milhão, eu tava destruído por dentro, ferrado da cabeça, agora eu não tava entendendo caralho nenhum. Eu não tava entendendo nem o ódio que eu fiquei daquela delegada!
A pior fita vai ser trombar ela nas vielas, eu não garanto que vou segurar minha onda.
"viado, cd tu? to enchendo esse iphone de mensagem e vc n me responde faz maior tempão!"
Bruna

Foi com essa mensagem que eu acordei na tarde do dia seguinte. Por não conseguir digitar, acabei retornando em chamada de vídeo.

- Fala doido! - parou a risada quando viu minha cara toda torta. - Que isso, Felipe?

- Provavelmente tu tá fazendo uma cara de desnorteada! - dei uma risada e não escutei nada de volta. - To feião mermo?!

- O que você aprontou, doido? - respirou fundo.

- Ahhhh, Bruna... Cê sabe, tem muita coisa que eu queria que tu soubesse, mano. - devo ter feito uma cara de triste.

- Você sabe que pode me contar! Eu tô do teu lado, já falei. - balancei a cabeça em negação.

- Eu não tenho tanta certeza. - ri. - Mas aparece, caralho... Sumiu! Eu sei que terminamos a escola mas não a amizade.

- Pode crer! Vou te visitar, seu torto. - agora ela riu.

- E seu pai, tá firmeza o coroa?.

- Tá sim! A velha que não tá tão de boa, parece que tá atrás de um cara dono de favela, nossa... Quase não me deixa sair de casa.

- Entendi, metendo o louco ein. Tem que vir me visitar sim, sem neurose. Se tu não vier, vou ficar bolado.

Ficamos horas falando no celular até a mãe dela chegar e ter que desligar correndo.
Agora, eu iria fazer tudo pra cutucar a onça com vara curta, a Sandra vai ter que me aturar e eu vou esticar tanto o elástico que quando soltar, vai machucar.
A semana correu devagar, o nariz ainda estava dolorido e a Natacha fria.
Tentei levá-la pra cama, fazer um sexo pra descontar todas as raivas alheias, ela precisava disso tanto quanto eu mas ela parecia me evitar, como se ainda precisasse de respostas.
Era domingo quando finalmente tivemos nossa primeira briga, anw!

- Tu é um burro, Playboy, falei pra não ir.

- Ata, beleza! E a bola de cristal é meu saco? Para, né! Como eu ia saber?

- Eu quero saber quem te encostou, só isso! - as mãos na cintura e o pé que batia no chão, me deixava impaciente.

- Pra fazer o que, Natacha? - passei a mão na cara, totalmente exausto.

- Eu vou mandar os moleques matar! - gritou.

- Para, larga a mão! - falei mais alto ainda, o quarto começou a ficar pequeno por causa da gritaria. - Não vai se meter nessa porra! Ta metida comigo, não com o tráfico.

- Não importa. - ficamos frente a frente. Os dois bravos, rosnando entre os dentes.

- Se eu te pegar enfiada nisso, eu mesmo te tiro. Eu não vou perder você também. - conferi o cordão no pescoço.

Saí do quarto e bati a porta, precisava tomar um ar gelado da madrugada.
Fiquei sentado na calçada tentando fumar um beck em paz. Minhas mãos estravam tremulas, mesmo assim fiz um bom baseado. Acendi com calma e traguei no mesmo grau, deixando a brisa me alcançar, fiquei horas de olhos fechados, encontrando o beck só com o tato dos lábios, pensando e viajando nas ideias.
Por fim, estiquei tanto o elástico que arrebentou!

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde histórias criam vida. Descubra agora