21 - Fantasma

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Existia bem ali algo muito além do que só raiva, solidão ou tristeza, existia muito mais que isso, Kazutora só não se lembrava mais. Por tanto tempo ele viveu recebendo e devolvendo violência, sozinho e sem esperança alguma, mas claro que não foi sempre assim, porém novamente, ele não se lembrava de ter sido uma única vez feliz verdadeiramente, onde acordou sorrindo e querendo viver por si mesmo, ele não lembrava de ter sido tão positivo alguma vez na vida.

Cresceu na violência e reproduziu ela a vida toda, não foi ensinado de outra forma, e até uns meses atrás ele continuava desta mesma maneira, com esse mesmo pensamento.

Sentindo aquela melancolia que vivia com ele a anos.

Aquela tristeza com muito açúcar, fácil de engolir e difícil de evitar, é o vício de muitos, e o precipício de uma mente sã.

O homem se sentia muitas vezes sempre em seu limite, onde tomava cuidado com cada coisa para evitar se quebrar totalmente, e nesse ciclo infinito onde apenas trazia violência e ódio para sua vida, não conseguia deixar de pensar em outras coisas. Em sua rotina era apenas isso que ele possuía, não havia tempo para coisas boas que traziam esperanças, e com isso ele foi se esquecendo cada vez mais quem ele era, deixando o próprio coração abandonado em uma solidão.

Ele se lembrava de sua infância e adolescência — apenas os momentos ruins — um quarto bagunçado, uma cama desarrumada, discussões, uma geladeira sem leite e com álcool, um armário vazio, uma madrugada em claro com medo e conforme ele foi crescendo isso era mais recorrente.

Essa rotina caótica e violenta que ele agarrou com si mesmo, onde o deixou abandonado e preso na própria solidão, fazendo com que os momentos felizes sumissem da própria memória, foi quebrada quando ele foi salvo.

Ele sabia de umas coisas, ele não merecia salvação.

Um homem como ele não merecia nada de bom vindo de mãos inocentes.

Mas naquela noite onde ele havia aceitado a própria morte, totalmente ilhado por pensamentos mórbidos, ele havia sido salvo, e não entende o motivo até hoje dessa empatia.

E como receber apoio era um problema para ele, o mesmo detestava isso, e infelizmente ele teve que lidar com essa salvação mais de uma vez.

"Ele é um humano ainda."

A voz da Senhora de idade ecoava na mente dele desde do dia em que foi salvo, e as mesmas frases se repetiam várias e várias vezes, junto a isso, sonhos de memórias felizes onde ele ainda era uma criança inocente e sorridente, brincando com seus amigos sem maldade alguma, acompanhado de memórias com a mãe dele.

E conforme ele ia te vendo mais, te encontrando em momentos inesperados, onde era sempre explosivo e intenso demais, ele só conseguia ser positivo.

Desejando te salvar, proteger e cuidar.

E sentir isso foi perturbador pra alguém que havia tido uma paralisia emocional, onde emoções como essa, só eram desbloqueadas através de álcool ou outras substâncias.

Era como um túnel sem fim, onde ele caminhava, e fazia apenas isso, sem rumo e sem objetivo, apenas mais uma alma, acostumado com a escuridão.

E foi quando aquela luz começou a aparecer no fim do túnel, com vestidos floridos, as vezes um jaleco, expressão de medo e raramente demonstrando coragem, mas o enfrentando mesmo assim.

Aquela luz o deixou cego, ao mesmo tempo que o fez enxergar outras coisas.

E ele gostava disso, mas ele não sabia.

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