Capítulo 10

2.6K 165 14
                                    

Quando consegui ligar meu cérebro outra vez, já estávamos parados em frente ao carro. Entrei e sentei no banco do passageiro. A garrafa de vodka e energético estava aos meus pés, e eu ainda tentava empurrá-la mais para o fundo.
Nicolas entrou logo depois e pediu pra que colocasse o cinto de segurança. Revirei os olhos mas não discuti. Pus o cinto e ele deu a partida com o carro.
Metade do caminho ficamos em silêncio, ele super concentrado no trânsito e eu perdida na frase sobre ele querer beijar minha boca.
Olhei de canto para ele e percebi sua mandíbula contraída e seus olhos focados à frente. Estava lindo. Quase senti vontade de pular em seu colo e matá-lo de tantos beijos.
Quase.
- Onde fica a casa do seu pai?
Finalmente alguma conversa. Olhei para seu rosto que agora também procurava o meu.
- Já estamos próximos. Pode entrar na próxima esquerda.
Soltei o cinto e virei em sua direção.
- O que você está fazendo? Põe o cinto.
Dei risada.
- Não quero. Já estamos chegando.
- Chloe, deixa de ser teimosa.
- Deixa de ser chato. Nem o meu pai é assim.
- Agora entendo o motivo da sua teimosia. É falta de palmada.
Apertei os dentes e engoli o nó que se formou em minha garganta.
- Para o carro!
Falei baixinho.
- Não! - ele falou calmamente - A não ser que seu pai more nessa rua.
Maldita hora que aceitei conversar com esse cara. Maldita hora que resolvi beber e passar mal e ter que conhecer esse ser humano. Eu me arrependeria por isso pelo resto da minha vida.
- Nicolas. Para. O. Carro.
Ele olhou de relance pra mim e parou o carro, e por sorte estávamos em frente ao prédio aonde meu pai morava.
Abri a porta e desci. Ele veio atrás de mim. Apressei o passo até o portão, cumprimentei o porteiro que liberou minha entrada, fui para o elevador.
- Obrigada por me trazer. Agora pode ir embora.
Falei batendo os pés impaciente.
- Ainda não a levei até seu pai.
Soltei um suspiro frustrado e corri para escada.
- Não vai esperar o elevador?
Ele vinha correndo atrás de mim, me alcançando nos degraus.
- O que você acha?
Subi as escadas em passos pequenos por causa dos sapatos.
- Eu espero que seu pai more no terceiro ou no quarto andar, porque com esses saltos você nunca vai chegar lá em cima.
Parei olhei para trás e ele estava parado de braços cruzados. Aqueles braços... Imaginei tanta coisa que quase me desequilibrei.
Tirei os sapatos e voltei a olhá-lo.
- Melhor pra você?
Suas covinhas apareceram outra vez, e ele me colocou sobre seus ombros. Dei um grito e bati em suas costas.
- Tá doido? Me põe no chão!! Eu tô de saia, Nicolas! Me coloca no chão!
- Fica quietinha pra não acordar os vizinhos. Qual andar seu pai mora?
Você consegue ver meu rosto pegando fogo? Não de vergonha, mas de raiva? A posição que eu me encontrava, uma mulher de 24 anos, como uma menina teimosa ou um saco de batatas sobre os ombros de um brutamontes que se achava a ultima coca cola do deserto. Com certeza esse não era o meu dia.
- Não vou falar enquanto você não me por no chão.
Ele continuava subindo as escadas de forma decidida. Ele não facilitaria.
- Então podemos parar aqui no quinto andar e esperar por alguma luz divina.
Quantos anos ele tinha? Dezesseis? Quase gritei com ele outra vez, mas já estava cansada de ficar daquele jeito. Soltei a respiração e falei entre dentes.
- Oitavo. Meu pai mora no oitavo andar. Agora me põe no chão.
Ele parou entre mais um lance de escadas e deslizou meu corpo junto ao seu para me colocar no chão. O atrito de nossas roupas, o calor, o seu perfume, foram como uma droga pra mim. Meus olhos perderam o foco e só consegui fixar em sua boca que estava a uns 2 cm da minha.
Controlei a respiração e voltei à realidade dando um tapa em seu rosto.
- Você disse que não sou sua paciente. Portanto, não me trate como uma.
Ele me olhou horrorizado e quase no mesmo instante me arrependi do que tinha feito. Sua mão buscou o lugar aonde eu tinha batido e ele me puxou pela cintura, enlaçando meus cabelos em seu punho e buscando minha boca ferozmente.
Segurei em seu pescoço e fiquei na ponta dos pés, aceitando sua boca na minha com satisfação. Minha língua dançou com a sua num movimento quase ensaiado e sincronizado, meus dedos apertaram sua nuca, fazendo-me buscar o ar entre nossos lábios.
Um instante depois meus sapatos estavam no chão e eu estava contra parede, e os dentes do Nicolas buscavam meu lábio inferior, mordendo-o com intensidade e chupando-o com carinho.
Era uma delícia.
Uma de suas mãos deslizou em minha coxa e a elevou até sua cintura, fazendo meu sexo roçar em sua ereção. Perdi o raciocínio por completo. A sua mão que estava em meu cabelo puxou-o levando minha cabeça para trás, só para sussurrar:
- Deixa de ser teimosa!
Ainda de olhos fechados, consegui responder:
- Só quando você deixar de ser mandão.
Sua boca reenconstou-se na minha outra vez, dessa vez mais calma e íntima, sem desespero. Rebolei em seu quadril, e sua ereção apertou-se contra meu sexo, gemi em sua boca.
Passos na escada me assustaram, fazendo nós dois irmos para cantos opostos. Ainda ofegante arrumei a saia e o cabelo. Olhei para Nicolas que tinha um sorriso safado nos lábios, mas ainda assim parecia normal. Filho da puta!
Peguei os sapatos e coloquei nos pés, levantei o corpo e subi alguns degraus antes de cumprimentar dois rapazes que desciam.
Aonde eu estava com a cabeça? Como alguém poderia me desestabilizar desse jeito?
Subimos em silêncio mais três lances de escada e quando chegamos ao corredor do 8° andar, parei e sentei no chão.
- Eu sabia que deveria ter te carregado.
Ele disse encostando a cabeça contra parede e olhando em minha direção.
Engoli em seco e respirei fundo antes de responder.
- Cala a boca. Eu não sou um saco de batatas pra você ficar carregando por aí.
Sua risada ecoou no corredor vazio e a porta do apartamento do meu pai se abriu. Olhei pra cima e sorri ao vê-lo.
- Chloe, o que houve?
Segurei sua mão e me levantei. Abracei-o com força e desejei naquele momento nunca ter beijado o Nicolas. Minhas pernas pareciam gelatina.
- Pai! Que saudade! Desculpa a demora, tive um imprevisto.
Nicolas virou na direção do meu pai e estendeu a mão.
- Muito prazer em conhecê-lo, Sr. Sandler.
Meu pai olhou para mim e para o Nicolas ao mesmo tempo, por fim, apertou sua mão.
- Pai, esse é o Nicolas. Namorado do irmão da Hanna.
A surpresa nos olhos do meu pai não se comparava ao horror nos olhos do Nicolas. Abaixei a cabeça tentando esconder um sorriso. Senti um beliscão em minha bunda e levantei o queixo séria.
- O irmão da Hanna está na cidade? - meu pai perguntou avaliando a situação - Com o namorado?
Assenti e pelo canto do olho, percebi o rosto do Nicolas ficar do vermelho ao roxo.
- Sim senhor, eu encontrei a Chloe na empresa e ela pediu para que eu a trouxesse aqui.
- Eu não pedi nada. - respondi cruzando os braços.
- Tem razão, eu resolvi trazê-la.
- Porque você adora dá um de babá.
- Não tenho culpa se você é mais teimosa que uma mula empacada.
- Você está me comparando a um cavalo? - rebati um pouco alto, esquecendo que meu pai estava ali.
- Eu não disse isso.
- Mas é a mesma coisa!
- Dá pra vocês calarem a boca? - meu pai interferiu, um pouco divertido com a situação - Qual o seu nome, meu rapaz?
- Nicolas Balst.
- Chloe, por que não entramos e você me conta sobre seu primeiro dia de trabalho? O namorado do Léo pode nos acompanhar?
Olhei para o Nicolas que buscava uma saída e esbarrei em seu ombro.
- Claro.
- Me acompanhem.
Meu pai deu espaço para que nós dois entrássemos no apartamento.
- Porque você disse que eu era gay?
Nicolas falou baixinho.
- Pra você aprender a nunca mais me beijar daquele jeito.
Respondi no mesmo tom.
- De que jeito? Você gostou, Chloe.
- Cala a boca!
- Então - meu pai se aproximou do barzinho na sala - gostariam de beber algo?
Permaneci em pé ao lado do Nicolas, que tinha a respiração pesada. Sabia que tinha me metido em encrenca.
- Pai, quando é seu vôo?
- Às 00:30. Não se preocupe, minha menina. Ainda temos uma hora de relógio. Quero saber de tudo sobre a construtora. E Nicolas, fique à vontade.
Revirei os olhos e me aproximei do sofá. Sentei e cruzei as pernas, meu pai sentou-se ao meu lado e segurou minha mão.
Do outro lado da sala, o Nicolas acomodou-se em uma das poltronas, com os olhos fixos em mim. Merda Nicolas, entra no jogo. Você é gay!
- Consegui dá conta da papelada atrasada e adiantei alguns contratos. Pedi novas contratações para o projeto do shopping, o Hélio me deu algumas coordenadas, tudo está sob controle, pai.
Notei o seu sorriso orgulhoso e meu coração se encheu de alegria. Eu amava aquela sensação que causava em meu pai. Orgulho!
Sua mão apertou a minha e eu sorri.
- Sabia que você iria se sair bem. Sempre acreditei que você nasceu pra isso, Chloe. Você puxou à sua mãe. Determinada!
Ouvir meu pai falar sobre minha mãe era extremamente doloroso. Eu sabia o quanto sentia falta dela. Mas não sabia que ele me achava parecida com ela.
Olhei para o Nicolas do outro lado da sala e não consegui decifrar seu olhar. Balancei a cabeça e voltei o olhar para meu pai.
- Enquanto estiver fora, prometo que darei o meu melhor.
- A empresa é sua, Chloe. Você é a chefona agora.
Dei risada e levantei, caminhando de um lado para o outro, pensativa.
- Então você é o namorado do Léo. Nunca achei que iria conhecê-lo.
Ele perguntou oferecendo seu copo de wisky ao Nicolas, que recusou com um aceno de cabeça.
- Pois é. - a voz do Nicolas falhou - Ele me fala muito sobre o senhor.
- Grande garoto! Tem um futuro brilhante. Ele conseguiu o cargo na revista?
- Han... É, eu ainda não... - o olhar que o Nicolas me deu, quase me fez gargalhar.
- Não pai, ele não conseguiu o cargo.
Respondi piscando para um Nicolas que parecia terrivelmente aliviado.
O irmão da Hanna era publicitário, um dos melhores que já conheci. Tinha idéias incríveis, inteligentes e super sustentáveis. Tinha um talento nato.
Olhei no relógio. Era tarde e a Hanna deveria está preocupada comigo.
- Pai, eu preciso ir. Não quero ocupar o restante do seu tempo, daqui a pouquinho você viaja também e logo mais eu tenho que voltar pra construtora.
Meu pai levantou, colocando o copo sobre a mesa de centro, me puxou para um abraço.
Apertei meus braços ao redor da sua cintura e senti o cheiro familiar de... casa.
- Estou tão orgulhoso de você, minha menina.
Senti meus olhos ficarem molhados.
- Eu te amo tanto, pai.
- E eu amo você, Chloe.
Por cima do ombro, vi o Nicolas nos observar com um sorriso carinhoso nos lábios. Fechei os olhos para guardar esse momento com meu pai pra mim.
- O que você precisar, me ligue. Eu voltarei em dois tempos.
Balancei a cabeça afirmando porque simplesmente não conseguia falar. Meu pai nem havia viajado ainda, mas eu já estava com saudade dele.
Nos afastamos do nosso abraço e meu pai cumprimentou Nicolas.
- Você me parece ser um bom rapaz. Cuide do Léo, ele é fantástico.
Olhei para o Nicolas que balançava a cabeça como uma lagartixa e dei um sorrisinho.
- Sem problemas - ele respondeu - agradeço a sua filha que me apresentou-o. Tenho que arrumar um jeito de recompensá-la.
O olhar cortante que deu em minha direção, fez meu sangue gelar. Desfiz o sorriso e o encarei séria.
Será que este homem não conseguia levar nada na brincadeira?
- Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Sandler. Faça uma boa viagem.
- Obrigada, Nicolas.
Meu pai nos encaminhou até a porta e me abraçou novamente.
- Se cuide, minha menina.
- Pode deixar pai. Me liga quando chegar. Não esquece.
Beijei seu rosto e puxei o Nicolas pra fora. Entramos no elevador e acenei a ultima vez antes das portas fecharem.
- Você tá doida? Como pode dizer que sou gay na frente do seu pai?
Encostei na parede fria do elevador e soltei um suspiro.
- Relaxa. Meu pai não é homofóbico. Ele gostou de você.
- Esse não é o problema. Você sabe que não sou gay.
Olhei em sua direção e levantei uma das sobrancelhas.
- Sei?
Quase me arrependi do que tinha acabado de sair da minha boca, quando aquele sorrisinho de canto formou-se em seus lábios. Ele estava se divertindo.
- Nem se atreva! Só me leve pra casa. Estou cansada.
- Seu pai ama você, Chloe.
Opa.
- Eu sei. - respondi olhando pro teto - Eu o amo também. Muito.
Senti seu sorriso. Ótimo, agora seria a hora que ele iria perguntar sobre minha mãe.
Esperei...
Esperei...
Esperei...
Ele não perguntou. Respirei aliviada.
As portas do elevador se abriram e nós saímos lado a lado em direção ao carro.
Já no interior do veículo, inclinei o banco do passageiro e me deitei com os pés sob o painel.
- Tá tudo bem?
- Sim. - respondi - Você poderia ligar o rádio bem baixinho?
Ele obedeceu e eu agradeci.
Quando o carro ganhou velocidade, pude sentir todo o peso do dia em meus ombros. Estava exausta.
- Chloe, sobre o que aconteceu na escada de emergência...
- Eu sei... É pra esquecer não é?
- Não! - ele falou firme - Eu quis muito aquilo. Espero que possamos repetir.
O sorriso em sua voz foi bastante perceptível. Ele não estava flertando comigo, ele estava literalmente se jogando pra mim. Agradeci em silêncio antes de fechar os olhos e sorrindo, falar em um sussurro:
- Eu também.

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora