Capítulo 16

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Não sei vocês, mas quando acontece algo errado comigo ou na minha vida, evito ao máximo ter que sair da cama. Na verdade não sinto a menor vontade de abrir os olhos e acordar. Meu desejo era que o colchão me engolisse, só para que o sábado sumisse de vista.
Despertei daquele sono pouco calmo e pouco perturbado e notei o quarto à minha volta. Tudo estava estranho, por que ele estava por toda parte.
Nicolas era maravilhoso, o sexo era maravilhoso, tão intenso e significativo que nem notei seu cheiro em meu lençol.
Seus lábios por todo meu corpo, aquele olhar que me fazia entrar em chamas, suas investidas fortes e a boca suja... Aquela boca que me levou a orgasmos antes mesmo de eu cogitar tê-los.
Mas havia o mínimo do Gabe naquele quarto também, princialmente o que tinha me dito na noite anterior. Ele tinha ficado magoado... Pensar nisso fez meu peito se apertar e minha cabeça doer um pouco mais.
Eu era o pior ser humano existente na terra!
Virei para o outro lado da cama no instante em que a porta abriu e a Hanna entrou.
- Tá acordada? - perguntou fechando a porta atrás de si.
Não sei o que deu em mim, mas comecei a chorar. Hanna caminhou até a cama e deitou ao meu lado, me abraçando junto ao peito.
- Vai ficar tudo bem.
- Não, não vai! - soluçei - Você ta chateada comigo, o Gabe ta chateado comigo e o Nicolas provavelmente não quer me ver nem pintada de diamante... Eu sou um ser humano horrível...
Ouvi o riso baixo da Hanna, fechei os olhos e respirei fundo entre as lágrimas.
- Quem diria... Chloe Sandler, a chefona chorando...
Dessa vez eu dei risada, mas era verdade. Desde quando eu não chorava assim na frente de alguem? Desde a morte da minha mãe e fazia tanto tempo...
- Duas das coisas que você disse antes, estão erradas. - ela continuou - Eu não estou chateada com você e você não é um ser humano horrível. As coisas só fugiram do controle, Chloe. Você ainda pode consertá-las.
Levantei o rosto e sequei os olhos.
- Posso?
Ela balançou a cabeça afirmando.
Hanna era incrível, a única pessoa que conhecia capaz de acreditar muito mais nas qualidades que nos defeitos.
- Hanna, você acha que eu tenho problemas com...
- Eu acho que você tem problemas em não ouvir as pessoas ao seu redor.
Ela falou me interrompendo.
Mordi meu lábio e fechei os olhos outra vez. Uma onda de sensações e emoções passou por mim naquele momento.
"Você tem problemas em não ouvir as pessoas ao seu redor", foi a frase que meu pai tinha dito à minha mãe uma noite antes dela morrer. Nunca me esqueceria daquela ultima briga deles, foi a pior de todas.
Eu achei que naquele dia meus pais se separariam, mas eu nunca entendi o porquê. Também nunca perguntei ao meu pai.
- Você acha que eu posso ser amiga do Gabe? - perguntei baixinho.
- E porque não? O erro não foi seu, Chloe. Na verdade um pouco, sei que vocês transaram uma vez...
- Duas. - interrompi.
Hanna folgou seus braços ao meu redor e fitou meu rosto. Vi a surpresa nos olhos dela.
- Tudo bem, duas vezes. Não sei se percebeu, mas o Gabe é meio caretinha então se por acaso duas transas na mesma semana não significasse algo...
- Mas não significa, não é? - interrompi outra vez levantando da cama.
- Chloe, não vou mentir pra você. Ele havia conversado com o John sobre te apresentar aos pais dele.
Uma risada grave escapou de minha garganta. Observei o olhar da Hanna endurecer e engoli a gargalhada.
- Me perdoe, mas ele não conhece a frase "sexo sem compromisso"? Hanna, eu só queria transar. Na verdade eu ainda só quero transar.
- Com ele, com o Nicolas ou com os dois?
Um silencio pesadíssimo preencheu o quarto. A pergunta fazia sentido. O que eu queria? Com quem eu queria? Já havia dito que o sexo com o Gabe era engraçado e incrível, mas qual a definição para o sexo com o Nicolas?
- Não quis te ofender, Chloe, mas é sério. Não me preocupo com eles, não to nem aí pra eles de verdade. Eu só me preocupo com você.
- Eu sei. Mas é que os dois são legais.
- E os dois podem te machucar pra valer.
Entrei no banheiro e olhei meu reflexo no espelho. Hanna veio atrás de mim e parou no batente da porta.
- Ninguém vai me machucar, não existe alguém que possa fazer isso.
Falei quase num sussurro.
A língua da Hanna estalou. Olhei pelo canto do olho e vi que um sorriso preocupado estampava seu rosto.
- Então tenta não fazer isso com você mesma. Liga para o Gabe, explica tudo e pede desculpas. Faz o mesmo com o Nic. Sei que tem um peso nas suas costas e isso não vai te fazer bem.
Ela tinha razão. De peso em minhas costas já bastava a familia Sandler culpando-me pela morte da mamãe.
Liguei a torneira e lavei o rosto.
- Você é muito mais que esse "ser humano horrível" que denomina ser, Chloe.
Enxuguei o rosto e antes da Hanna deixar o quarto, falei:
- Ei, obrigada pela dica. - ela sorriu - Mas não esquece, eu sou a chefe. Ninguém nunca vai me machucar pra valer.
Hanna piscou e deixou o quarto. Voltei para cama e remexi o celular em busca de algo perdido. Nada. Novamente aquela angústia tomou conta de mim. Deitei e fechei os olhos, ligar para o Gabe ou o Nicolas no momento não era uma boa opção. Não sei se conseguiria falar uma frase sem chorar, não por tristeza, mas por culpa. Também não queria que ninguém sentisse pena de mim, especialmente o Nicolas. Voltei a dormir.

Eu sou o arrepioOnde histórias criam vida. Descubra agora